quarta-feira, 28 de outubro de 2009

CATOLICISMO ROMANO E PROTESTANTISMO: O QUE NOS SEPARA É MAIOR DO QUE O QUE NOS UNE.

Catolicismo Romano e Protestantismo são realidades antagônicas. O ecumenismo é uma armadilha, uma cilada armada a fim de abolir os debates em torno das diferenças. Sob o disfarce de piedade, o ecumenismo ganha espaço entre a cristandade, ignorando as fronteiras fundamentais que dividem a verdade das falácias, na tentativa de extinguir diferenças essenciais, sem as quais se tornará difícil conhecer a verdadeira fisionomia do Cristianismo. As diversas tentativas de aproximação entre o Catolicismo Romano e o Protestantismo têm sido promovidas sob a utopia de que “o que nos une é maior do que o que nos separa”. Esta miragem revela o que o teólogo reformado John W. Robbins chama de “tendência da natureza humana pecaminosa de afastar-se do Evangelho objetivo para o subjetivismo religioso, de deslocar o foco central de Cristo para a experiência cristã”.

Há alguns anos atrás li um texto de John Robbins: “Evangelicalismo, Movimento Carismático e retorno a Roma”. No texto, Robbins afirma que tem havido, nos últimos 400 anos, uma forte tendência no âmbito do Movimento Protestante, de se “corroer a ênfase objetiva da doutrina reformada de justificação somente pela fé”, e que “isto não passa de uma volta ao romanismo”. Fazendo uma análise do movimento Carismático e Pentecostal na América, Robbins conclui que o tipo de evangelicalismo hodierno, capitaneado pelo neopentecostalismo, caminha a passos largos rumo ao romanismo, não sendo capaz de fazer nada no sentido de perturbar a fé católico-romana e suas igrejas e tradições.

A verdade das palavras de Robbins pode ser percebida no recente episódio envolvendo dois expoentes da música religiosa brasileira. André Valadão, um dos integrantes do grupo evangélico Diante do Trono participou de uma apresentação ao lado do grupo católico Rosa de Saron em junho deste ano. Os católicos interpretaram o evento como um “belo momento que nos mostra que pode existir unidade na multiplicidade”. Já André Valadão justificou o acontecimento, argumentando que “o que nos une é maior que o que nos separa”, e que “a nossa fé pode gerar em nós, amizade, maturidade e comunhão”.

Os argumentos utilizados por ambas as partes soam bonito, são eloqüentes e românticos, mas ignoram elementos fundamentais que identificam tanto o Protestantismo como o Catolicismo Romano, e esses elementos não desaparecem quando um grupo de jovens se reúne em um palco para cantar uma canção. Na verdade, creio que é necessário que conheçamos o que divide o Catolicismo Romano do Protestantismo para entendermos que não haverá qualquer possibilidade de unidade enquanto a Verdade não for sustentada plenamente por ambas as partes, pois, não pode haver unidade fora da Verdade. Portanto, creio que o que separa o Catolicismo Romano do Protestantismo é muito maior do que qualquer aparência que os una.

1) Catolicismo Romano e Protestantismo se separam na ênfase em torno das Escrituras. No Catolicismo Romano, as Escrituras ocupam lugar de menos importância em matéria de fé e prática do que no Protestantismo. O Catolicismo Romano ensina que “A Igreja não deriva a sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura”, considerando anátema aqueles que crêem que a Bíblia é a única regra de fé e prática. As tradições têm o mesmo peso de revelação que as Escrituras no Catolicismo. Em direção oposta, e de acordo com a própria Escritura, o protestantismo afirma que “Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e de prática” (Confissão de Fé de Westminster, capítulo 1, II) .
2) Catolicismo Romano e Protestantismo se separam na visão de interpretação das Escrituras. O Catolicismo Romano crê no Magistério da Igreja, segundo o qual "O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, isto é, foi confiado aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma”. O Protestantismo, em oposição, afirma que “A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus” (Confissão, 1. IV).

3) Catolicismo Romano e Protestantismo se separam na aceitação do Cânon das Escrituras. O Catolicismo Romano acrescentou livros não inspirados ao cânon das Escrituras, utilizando-se deles para defender dogmas que contrariam o ensino da própria Escritura. O Protestantismo discorda do Catolicismo Romano, afirmando que “Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon da Escritura; não são, portanto, de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos humanos” (Confissão, 1. III).

4) Catolicismo Romano e Protestantismo se separam na crença na justificação. O Catolicismo Romano defende teses contraditórias ao ensino bíblico, afirmando que a justificação pode ser adquirida por meio de indulgências concedidas pela igreja aos vivos, e até mesmo àqueles que já morreram: “A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, (remissão) que o fiel bem-disposto obtém, em condições determinadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos santos (...) A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial totalmente da pena devida pelos pecados (...) Todos os fiéis podem adquirir indulgências (...) para si mesmos ou aplicá-las aos defuntos. Uma vez que os fiéis defuntos em vias de purificação também são membros da mesma comunhão dos santos, podemos ajudá-los entre outros modos, obtendo em favor deles indulgências para libertação das penas temporais devidas por seus pecados". O Protestantismo, em conformidade com o ensino apostólico afirma que a justificação vem somente pela fé, e que “Os que Deus chama eficazmente, também livremente justifica. Esta justificação não consiste em Deus infundir neles a justiça, mas em perdoar os seus pecados e em considerar e aceitar as suas pessoas como justas. Deus não os justifica em razão de qualquer coisa neles operada ou por eles feita, mas somente em consideração da obra de Cristo; não lhes imputando como justiça a própria fé, o ato de crer ou qualquer outro ato de obediência evangélica, mas imputando-lhes a obediência e a satisfação de Cristo, quando eles o recebem e se firmam nele pela fé, que não têm de si mesmos, mas que é dom de Deus” (Confissão, 11, I).

5) Catolicismo Romano e Protestantismo se separam na crença na suficiência de Cristo na Salvação. O Catolicismo Romano não crê na suficiência de Cristo para a Salvação, colocando Maria numa posição que a Bíblia não lhe oferece, assegurando-lhe a condição de mediadora e intercessora. Segundo a crença do Catolicismo Romano, "De modo inteiramente singular, pela obediência, fé, esperança e ardente caridade, ela [Maria] cooperou na obra do Salvador para a restauração da vida sobrenatural das almas. Por este motivo ela se tornou para nós mãe na ordem da graça." Em direção contrária, mas em acordo com o ensino apostólico, o Protestantismo afirma: “Aprouve a Deus em seu eterno propósito, escolher e ordenar o Senhor Jesus, seu Filho Unigênito, para ser o Mediador entre Deus e o homem, o Profeta, Sacerdote e Rei, o Cabeça e Salvador de sua Igreja, o Herdeiro de todas as coisas e o Juiz do Mundo; e deu-lhe desde toda a eternidade um povo para ser sua semente e para, no tempo devido, ser por ele remido, chamado, justificado, santificado e glorificado” (Confissão, 8, I).

6) Catolicismo Romano e Protestantismo se separam na doutrina da regeneração batismal. De acordo com o Catolicismo Romano, “Nosso Senhor ligou o perdão dos pecados à fé e ao Batismo (...) No momento em que fazemos nossa primeira profissão de fé, recebendo o santo Batismo que nos purifica, o perdão que recebemos é tão pleno e tão completo que não nos resta absolutamente nada a apagar, seja do pecado original, seja dos pecados cometidos por nossa própria vontade, nem nenhuma pena a sofrer para expiá-los (...)Pelo Batismo, todos os pecados são perdoados”. O Protestantismo, por sua vez, afirma que, “Posto que seja grande pecado desprezar ou negligenciar esta ordenança [o batismo], contudo, a graça e a salvação não se acham tão inseparavelmente ligadas com ela, que sem ela ninguém possa ser regenerado e salvo os que sejam indubitavelmente regenerados todos os que são batizados” (Confissão, 28, V).

7) Catolicismo Romano e Protestantismo se separam na crença no Purgatório. Para o Catolicismo Romano, “Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu. A Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos eleitos”. O ensino Protestante é absolutamente incompatível com esta instrução: “As almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas na santidade, são recebidas no mais alto dos céus onde vêm a face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção dos seus corpos; e as almas dos ímpios são lançadas no inferno, onde ficarão, em tormentos e em trevas espessas, reservadas para o juízo do grande dia final. Além destes dois lugares destinados às almas separadas de seus respectivos corpos as Escrituras não reconhecem nenhum outro lugar” (Confissão, 22, I).

8) Catolicismo Romano e Protestantismo se separam na crença na infalibilidade Papal. Para o Catolicismo Romano, o Papa tem poder supremo na Igreja, sendo que “o Pontífice Romano, em virtude de seu múnus de Vigário de Cristo e de Pastor de toda a Igreja, possui na Igreja poder pleno, supremo e universal. E ele pode exercer sempre livremente este seu poder”. Para o Protestantismo, “Não há outro Cabeça da Igreja senão o Senhor Jesus Cristo; em sentido algum pode ser o Papa de Roma o cabeça dela, mas ele é aquele anticristo, aquele homem do pecado e filho da perdição que se exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus” (Confissão, 25, VI).

Ainda há muitos outros pontos que dividem o Catolicismo Romano do Protestantismo. Poderíamos ainda dizer que Catolicismo Romano e Protestantismo se separam na veneração aos Santos e a Maria; que Catolicismo Romano e Protestantismo se separam na crença na imaculada conceição, na virgindade eterna e na assunção corpórea de Maria; que Catolicismo Romano e Protestantismo se separam na crença a respeito da Eucaristia; que Catolicismo Romano e Protestantismo se separam no entendimento do perdão de pecados; que Catolicismo Romano e Protestantismo se separam na questão das indulgências, e em muitas outras doutrinas e práticas irreconciliáveis. Qualquer proposta de aproximação entre o Catolicismo Romano e o Protestantismo que ignore essas diferenças não poderá ser levada a efeito sem constituir-se num desprezo acintoso à Verdade absoluta revelada nas Escrituras Sagradas. E unidade sem a Verdade é falácia.

Retorno a John W. Robbins que, falando sobre a união entre o Catolicismo e o Protestantismo, acertadamente afirma: “Essa união não está fundamentada na verdade objetiva, mas na experiência subjetiva (...) É tudo na base do ‘já que é assim, então é desse jeito’, uma volta ao misticismo mediedal, efeminado, sentimental. Não é de estranhar que um dos pontos de diálogo entre os líderes pentecostais e os da Igreja Católica Romana é a semelhança notável entre o pentecostalismo e o misticismo católico. O fato aterrador é que o desmoronamento das resistências protestantes ao movimento carismático ilustra a decadência das igrejas protestantes. Até mesmo o termo Protestante está se tornando uma palavra suja. E ser crítico ao romanismo virou agora uma obscenidade nos círculos evangélicos”.

Vejo na aproximação entre Valadão e o Rosa de Saron um cumprimento das palavras de Robbins. Não há nada a ser comemorado pelos Protestantes, apenas a se lamentar. Para que tal encontro fosse possível, alguém teve que abrir mão de algo muito precioso. Como não vejo nada de precioso no Catolicismo Romano, é uma pena que Valadão tenha desprezado os valores tão caros do Protestantismo em nome de um embuste. “Os últimos dias serão marcados por grandes decepções religiosas”, disse John Robbins. André Valadão é uma delas.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

IPB SE MANIFESTA SOBRE ACORDO ENTRE O BRASIL E O VATICANO

Manifesto da Igreja Presbiteriana do Brasil sobre o acordo firmado entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé, e a “Lei Geral das Religiões” (Projeto de Lei n.º 5.598/2009 e o PLS 160/2009)

A IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL, representada pelo Presidente do seu Supremo Concílio, diante do momento atual, em que forças organizadas da sociedade manifestam sua preocupação pela aprovação do texto do Acordo que vem labutar contra a laicidade do Estado Brasileiro e cercear a liberdade religiosa através de manifesta preferência e concessão à Igreja Católica Apostólica Romana de privilégios por parte do Estado Brasileiro, em face dos termos do Acordo entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé, firmado no dia 13 de novembro de 2008, vem a público, considerando que:
I. - O Vaticano, embora um Estado Soberano e Pessoa Jurídica de Direito Público Internacional, é a sede política e administrativa da religião Católica Apostólica Romana e, portanto, um Estado Teocrático. Todo acordo entre Ele e o Brasil que contemple matéria envolvendo assuntos referentes à dimensão da fé e não a assuntos temporais agride o princípio da separação entre Estado e Igreja, que é uma conquista obtida pela nação brasileira e se constitui na base da nossa República;
II. - Para Igreja Católica Apostólica Romana, as demais religiões e seus ritos próprios são apenas “elementos de religiosidade” preparatórios ao cristianismo verdadeiro, do qual ela é exclusiva detentora: “Com efeito, algumas orações e ritos das outras religiões podem assumir um papel de preparação ao Evangelho, enquanto ocasiões ou pedagogias que estimulam os corações dos homens a se abrirem à ação de Deus. Não se lhes pode, porém atribuir à origem divina nem a eficácia salvífica ex opere operato, própria dos sacramentos cristãos. (DECLARAÇÃO "DOMINUS IESUS" SOBRE A UNICIDADE E A UNIVERSALIDADE SALVÍFICA DE JESUS CRISTO E DA IGREJA);

III. - A identidade jurídica peculiar do Vaticano, a apresentar-se ora como Estado, ora como Religião, facilita a tentativa de ingerência e pode confundir administradores sobre os limites das concessões, quando tratam de assuntos que transcendem aqueles meramente administrativos e temporais. E, por ser o Vaticano um Estado, não pode impor ao Estado Brasileiro a aceitação de sua religião e da Igreja que representa para a obtenção de privilégios e vantagens diferenciadas;
IV. - É inegável que tal Acordo é flagrantemente inconstitucional, pois fere a Constituição da República, que destaca em seu artigo 19: “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-las, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; (..); III– criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si”. Ora, o Estado do Vaticano é o REPRESENTANTE da Igreja Católica Apostólica Romana. O ACORDO, portanto, é INCONSTITUCIONAL e não pode prosperar num Estado Democrático de Direito, pois fere a cláusula pétrea da Constituição da República no caput do Artigo 5º, ou seja, o princípio Constitucional da ISONOMIA;

V. - Que o referido Acordo Internacional nos artigos 7º, 10º e, principalmente, 14º, impõe DEVERES ao Estado Brasileiro para com a Igreja Católica Apostólica Romana nos planejamentos urbanos a serem estabelecidos no respectivo PLANO DIRETOR, que deverá ter espaços destinados a fins religiosos de ação da Igreja Católica Apostólica Romana, contemplando a referida Igreja com destinação de patrimônio imobiliário;

VI. - O termo católico após a expressão “ensino religioso”, contido no Acordo, afronta a previsão do § 1º do artigo 210 da Constituição da República, que preceitua: “O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”. O Acordo com a Santa Sé consignou no § 1º do artigo 11 que: “O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental...”. Trata-se de evidente discriminação religiosa;
VII. – a aprovação pelo Congresso Nacional do referido Acordo conferiu privilégios históricos à Igreja Católica Apostólica Romana em nosso País reconhecendo-os como direitos, constituindo norma legal, uma vez que acordos internacionais, conforme a Constituição de 1988, têm força de lei para todos os fins. Aquilo que a história legou, a cultura vem transformando e o Direito não pode aceitar por consolidar dissídio na sociedade brasileira, que tem convivido de forma tolerante com o legado, mas não o admitirá como imposição contrária ao direito à liberdade de consciência, de crença e de culto, amparado pela Carta Magna e pelo Direito Internacional;
VIII. - De igual forma, o Projeto de Lei n.º 5.598/2009 e o PLS 160/2009 denominado “Lei Geral das Religiões”, já aprovado pela Câmara Federal e pelo Senado, mero espelho do Acordo, incorre nos mesmos equívocos de inconstitucionalidade e desprezo à laicidade do Estado Brasileiro, estendendo as pretensões da Igreja Católica Apostólica Romana a todos os demais credos religiosos. O nivelamento no tratamento pelo Estado às religiões não pode ser amparado por fundamentos manifestamente inconstitucionais que agridem a soberania do Brasil e retrocede-nos ao indesejável modelo do “padroado” no Império.
Ante o exposto, em consonância com a Palavra de Deus, sua única regra de fé e prática, e com a sua doutrina, a IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL manifesta-se contra a aprovação do Congresso Nacional do referido Acordo Internacional ou de qualquer norma legal que privilegie determinada religião/denominação em detrimento de outras; não considerando a cidadania dos ateus e agnósticos também presentes no Brasil, consagrando ingerência de Estado Estrangeiro sobre o Estado Brasileiro e afrontando a separação entre o Estado e a Igreja, preservada em todas as Cartas Constitucionais da República Brasileira.
A IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL reitera sua submissão e intercessão em favor das autoridades constituídas, mas não abre mão de seu ministério profético nesta geração a denunciar todo e qualquer desvio contrário ao Estado de Direito e à Lei de Deus. Brasília – DF, outubro de 2009
Rev. Roberto Brasileiro Silva
Presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil

terça-feira, 20 de outubro de 2009

DO SAGRADO AO PROFANO: A TRAGETÓRIA DE UMA MÚSICA EVANGÉLICA


“Como Zaqueu, quero subir, o mais alto que eu puder, só pra te ver, olhar para ti; e chamar sua atenção para mim”. Assim começa uma das canções mais populares do repertório gospel dos últimos anos. Escrita e interpretada pelo cantor mineiro Regis Danese, a música virou febre nas rádios e passou a ser repetida como mantra nas igrejas evangélicas. Parecia um cântico dos anjos. A simplicidade da letra e a melodia comovente alçaram a canção aos patamares do sucesso e consagraram o cantor mineiro, que recebeu indicação ao Grammy Latino como melhor álbum cristão em língua portuguesa, ganhando versões no catolicismo carismático, no axé, no forró e no pagode.

A música de Regis Danese foi recebida por muitos evangélicos como uma espécie de revelação divina. Abençoada, maravilhosa, tocante, espiritual, inspirada; esses foram alguns predicados recebidos pela canção. Se cantei na Igreja? Sim, confesso. Apesar de haver quem critique a hermenêutica do querer subir mais alto para ver Jesus e chamar sua atenção, não vi tanto problema assim. Há coisas igualmente questionáveis, praticamente canonizadas nos nossos hinários, e ninguém pensa em tirá-las de lá. Mas isso é outro assunto.

No entanto, hoje as coisas mudaram. A canção de Regis Danese ultrapassou o patamar do sagrado e tornou-se profana. Seria por causa da hermenêutica? Não. O problema é que encontraram na canção uma mensagem satânica.

Recebi um e-mail com um anexo, em que a canção aparece invertida por um recurso eletrônico. Uma legenda sugere que, por trás da letra sagrada há uma mensagem profana que exalta Satanás, mais ou menos assim: “Ergas, me unjas. Glória a mim, pois estou contigo. Esta aqui nossa Madre. Só a satã adorarás. Naruto. Shine. Moon. Shade. E farei nanar-te. Desista rápido. Satã está aqui. Já misturei em vós. Belzebu já chegou. E nada pode livrar Yeshua Ha Machi. Estarei aqui. O fim está próximo. E por tudo isso, cultuar-se-á a mim. E possuirei sua casa e o mundo...”. O cântico dos anjos virou música dos demônios, e o encanto de antes transformou-se em terrorismo tipicamente evangélico.

O interessante é que as mesmas pessoas que chamavam a canção de abençoada e outros atributos, hoje espalham e-mails condenando-a. E o pior é que quem encontrou a mensagem parece ser dotado de uma criatividade dantesca para descobrir uma comunicação infernal num emaranhado de sons ininteligíveis.

Pergunto: será possível que o povo evangélico é tão simplório ao ponto de ainda acreditar nessas esquisitices? Será possível que as opiniões sejam tão frágeis a ponto de mudar assim tão rapidamente?

Quem se dá ao trabalho de procurar mensagens satânicas ouvindo músicas de trás para a frente deveria preocupar-se com coisas mais importantes, ou, no mínimo, questionar a sua sanidade. E quem se deixa levar por esse tipo de bobagem deveria procurar amadurecer. É vergonhoso observar que muitos crentes sejam tão volúveis, instáveis e sem opinião própria. É impressionante como faltam convicções pessoais a muitos crentes. Qualquer vento diferente muda por completo o curso das crenças e das mentes. Falta-nos um pouco mais de senso crítico.

Que a música evangélica brasileira não é nenhum primor de qualidade a gente já sabe. Ouvir muitas delas de frente para trás já é um suplício; mas ouvir ao avesso e atribuir a elas mensagens satânicas ocultas já é demais. Para longe os hermeneutas do Sound Forge. O diabo tem mensagens muito claras propagadas por aí. Enquanto a gente perde tempo ouvindo disco de trás para frente, o diabo fala o que quer em alto, bom som e português claro.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

PASTORES NEOPENTECOSTAIS SÃO DIZIMISTAS?


O neopentecostalismo caracteriza-se, entre outras coisas, pelo intenso apelo por doações de dízimos e ofertas em seus cultos. Inflamados pela Teologia da Prosperidade, que proclama que todos os crentes devem ser bem-sucedidos financeiramente como prova da bênção de Deus, os pregadores desse segmento evangélico fazem severos apelos por doações em dinheiro, através de dízimos, ofertas, e outras contribuições. Já se tornaram comuns as notícias de escândalos envolvendo pastores neopentecostais no trato com o dinheiro arrecadado em diversas comunidades dessa fração do movimento evangélico.

Apesar dos escândalos noticiados, a pregação e os apelos dos pregadores neopentecostais continuam a todo vapor. Algumas seitas neopentecostais exibem templos suntuosos, abarrotados de gente disposta a doar o que tem e o que não tem para alcançar a tão sonhada “bênção da prosperidade”. Outras dessas seitas fazem em seus programas televisivos chamadas insistentes para que o povo encaminhe doações para abençoar a “obra de Deus”; algumas dessas doaçoes, inclusive, têm até valores estipulados, acima de quatro dígitos.

Tive a oportunidade de participar de encontros de algumas dessas seitas e comprovar, in loco, como são feitos esses apelos. Outras vezes assisti os apelos pela TV e o que me chamou a atenção é que eu nunca vi um pastor neopentecostal enfiar a mão no bolso e entregar qualquer dízimo ou oferta para, no mínimo, dar o exemplo aos fiéis. Eles sempre dizem o que tem de ser feito ou até o quanto deve ser doado, mas eles mesmos nunca doam. Será por quê? Pastores neopentecostais não são dizimistas? Se o dízimo é um dever dos crentes, e ofertar garante bênçãos como eles mesmos afirmam, por que eles mesmos não dizimam nem ofertam? Será que a ordem não vale para eles mesmos? Afinal, quem os isentou da obrigação?

Jesus certa vez condenou a atitude dos fariseus que estabeleciam leis para os outros, mas eles mesmos as burlavam sem qualquer constrangimento: “Atam fardos pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los” (Mateus 23. 4).

Pastores que obrigam o povo a contribuir com dízimos e ofertas e não fazem o mesmo comportam-se como os fariseus dos dias de Jesus. Muitos sugam todos os recursos de pessoas simples e ingênuas em nome de uma bênção que Deus nunca vai dar. Usam o nome de Deus para arrecadar quantidades exorbitantes de dinheiro, propõem sacrifícios absurdos que nada custam a eles próprios; e há muitos deles que enriquecem às custas da tosquia das pobres ovelhas.

Os pastores neopentecostais que tanto dizem crer na bênção de Deus aos dizimistas e ofertantes deveriam ser os primeiros a colocar a mão na carteira e oferecer as mais vultosas ofertas para a “obra de Deus”. Criar regras que servem para as ovelhas, mas não servem para os pastores é coisa de fariseu. E a esses, Jesus exorta: “Ai de vós”.

domingo, 4 de outubro de 2009

A BÊNÇÃO DE DEUS POR 900 REAIS


De tempos em tempos aparecem na Igreja supostos profetas anunciando um tipo de unção nova, revelações nunca dantes conhecidas, se apresentando como a resposta de Deus para os últimos dias. Esses mensageiros surgem com suas bravatas quando menos se espera, e promovem desordem na mente de muitos crentes, e o caos no seio da Igreja.

A nova versão dessa prática abominável chama-se Morris Cerullo, um evangelista norte-americano que tem viajado o mundo afirmando ter recebido uma revelação divina de que, no final desta década, haveria uma grande crise financeira mundial e muitos outros eventos catastróficos ocorreriam. Recentemente, Cerullo esteve no Brasil e apareceu num programa de televisão do pastor assembleiano Silas Malafaia.

Num vídeo que circula na internet, Cerullo aparece alegando ter recebido uma revelação de Deus há quinze anos atrás, em que Deus lhe teria ordenado que dissesse ao seu povo que nos últimos dias Deus tem reservado uma unção especial para liberar sobre o seu povo, algo que Deus nunca fez antes. Trata-se de uma unção financeira. De acordo com Cerullo, Deus lhe teria dito que levantaria o seu povo no meio de uma grande crise financeira como testemunho para o mundo; e assim como Deus tirou a riqueza das mãos dos egípcios e colocou nas mãos dos judeus, nestes últimos dias Deus vai retirar a riqueza das mãos dos ímpios e colocar nas mãos do seu povo.

Até aí nenhuma novidade. É a mesma cantiga tola do evangelho segundo os adeptos da teologia da prosperidade, entoada conforme a concepção abstrata e relativista do neo-pentecostalismo: uma suposta visão apregoada como nova revelação, sem qualquer base bíblica, e aquele enredo que todos conhecem bem. Tudo passaria despercebido, não fosse o fato de a bênção prometida por Cerullo ter um alto preço. De acordo com o pregador norte-americano, para se alcançar a tal "unção financeira dos últimos dias", o interessado deveria depositar a quantia de R$ 900,00 (isso mesmo, novecentos reais) na conta do programa de Silas Malafaia, e até o dia 1º de janeiro, todas as promessas de Deus ainda não cumpridas na vida do ofertante estariam liberadas, em nome do profeta Morris Cerullo.

Cerullo mostra que chegou ao valor de 900 reais a partir de uma interpretação dos números na Bíblia, segundo a qual, o número 9 significa, de acordo com o profeta, completo, cumprido, total. A questão é que em nenhum momento ele apresenta qualquer base para esta conclusão.

É preciso perguntar se essa tal unção financeira tem algum apoio bíblico? É necessário argumentar que a bênção de Deus não tem preço? Seria ainda necessário dizer que a pregação de Morris Cerullo se assemelha à venda de indulgências praticada na Igreja da Idade Média? Há, ainda, alguma razão para duvidar que esse senhor é mais um charlatão disfarçado de profeta? Seria ainda necessário dizer que a Igreja não deve ouvir esse tipo de profecia? Infelizmente, sim.

Há muitos que ainda crêem em tais alucinações. Há muitos que colocam suas esperanças em profetadas desse tipo e acabarão desiludidas, aumentando o número dos feridos em nome desse tipo de pregação falsa. Como escreveu Lutero em uma de suas 95 teses (n° 28), "certo é que, ao tintalar a moeda na caixa, podem aumentar o lucro e a cobiça", mas o favor de Deus não pode ser comprado por dinheiro.
Silas Malafaia caiu no laço da Teologia da Prosperidade. Muitos crentes têm caído nesse laço diabólico armado contra a Igreja. E o pior, agora as pessoas têm de pagar caro para serem laçadas. E continuarão pagando um alto preço quando descobrirem que tudo não passa de enganação.