terça-feira, 31 de agosto de 2010

CRER, APESAR DE TUDO

O que é fé? A melhor resposta para esta pergunta não poderia vir de outra fonte, senão da Escritura Sagrada: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, e a convicção de fatos que se não vêem” (Hb 11. 1).

A fé é a segura confiança de que a nossa esperança futura já está presente. É o reconhecimento de que as promessas feitas por Deus terão cumprimento. A fé traz a nossa esperança à realidade. É uma prova convincente de que o esperado se cumprirá.

Fé é enxergar com a alma aquilo que os olhos não podem ver. A fé enxerga o mundo invisível e espiritual; a fé enxerga o eterno, o sobrenatural. A fé toca o imponderável e ultrapassa os limites do possível.

Fé significa crer, apesar de tudo. Foi assim que agiram os grandes servos de Deus cujas histórias acham-se resumidas no capítulo 11 de Hebreus. Homens e mulheres que desistiram da desesperança em nome da fé. Pessoas comuns que se tornaram incomuns, “homens dos quais o mundo não era digno” pelo exercício da fé. Gente que creu e confiou nas promessas, apesar da realidade que os cercava.

A fé nos faz alcançar o que a nossa compreensão não permite. Pela fé Abraão compreendeu que algumas simples estrelas no céu significavam a confirmação de uma numerosa descendência. Pela fé Noé partiu em busca de madeira para construir uma embarcação para salvar a raça humana sem saber o que era uma gota de chuva. Pela fé José subtraiu de seu coração o desejo de vingança de seus irmãos, compreendendo que havia um propósito especial na sua ida para o Egito. Pela fé Josué fez o povo cercar os muros de Jericó na esperança de que cairiam pelo grito dos seus homens.

A vida muitas vezes nos apresenta circunstâncias aterrorizantes. A realidade nos oferece apenas razões para desesperar. Nesses momentos é necessário oferecer à realidade a marca que nos distingue como filhos de Deus: a fé. Esta abençoada convicção de que, apesar de tudo, é possível continuar.

Agnaldo Silva Mariano

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

DOUTRINAS AUTORITÁRIAS

Por Dr. Jorge Erdely

Tem se tornado comum os ditadores religiosos chamarem de rebeldes os que escapam de seu sistema de controle, apesar de a Bíblia definir a rebeldia como o ato de desobediência aos mandamentos de Deus. Isso não passa dum meio de manipulação no sentido de pressionar as pessoas, e não deve ser levado em conta, pois na Escritura, Deus chama de rebeldes exclusivamente àqueles que desobedecem aos preceitos éticos divinais.

Se uma pessoa decide deixar uma organização religiosa, não estando em falta à vista de algo mal feito que paire contra si, ou em virtude de algum descumprimento de seus compromissos, então, onde está a rebeldia? O termo “rebelde” vem se aplicando ultimamente a pessoas que tem se negado a se tornarem cúmplices de manipulações doutrinais e de atos ilícitos de líderes autoritários.

É surpreendente que os ministros e seitas que estão fora de autoridade espiritual, tenham o cinismo de chamar rebeldes àqueles que, tendo se cingido das Escrituras, os questionam, pedindo reformas de práticas autoritárias, se negando a participar em ilicitudes e os denunciando. Dito de outro modo, há sistemas religiosos que estão em rebeldia, e chamam de rebeldes àqueles que atuam em consonância com a autoridade dos ensinamentos de Jesus. Incrível!

Ironicamente, o próprio Novo Testamento é quem qualifica de rebeldes àqueles ministros e grupos religiosos que, com suas inumeráveis fraudes, imoralidades e desobediência ao Evangelho de Cristo, condenam inocentes taxando-os de “rebeldes”.

Jamais deveríamos temer tais acusações de “rebeldia” provindas de ministros que vivem de forma imoral ou desonesta ou que se afastam dos ensinamentos de Cristo. Eles não têm nenhuma autoridade divina.

O mito de que não se devem questionar os ungidos.

Um dos ensinamentos favoritos para infundir medo e manter cativas as consciências das pessoas, afastando-as da utilização da sua razão, está baseado neste texto do Antigo Testamento: “... não toqueis os meus ungidos...” (Salmo 105:15)

Com esta passagem os líderes autoritários pretendem, em primeiro lugar, eles próprios se estabelecerem como os tais ungidos. Em segundo lugar, ensinam que ninguém em sua congregação pode questionar com base nas Escrituras o ministro, nem assinalar que são más determinadas práticas ou doutrinas, tampouco dizer que esteja em pecado, ainda que seja comprovável e que esteja prejudicando alguém! Pois, isso seria “tocar no ungido” e segundo dizem, “se lhes acarretará o castigo de Deus sobre sua vida”.

Desta maneira eles podem ensinar o que querem, e assim também se conduzirem como melhor se lhes apetecerem, sem temer a obrigação de responderem diante de alguém por qualquer coisa que façam.

Esta doutrina de “sujeição à autoridade” não somente é falsa, como também é contrária aos ensinamentos de Jesus, pois o Novo Testamento ensina que se o “nosso próximo” cai em pecado ou ensina algum erro, temos a obrigação de exortá-lo: “ Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão” (Mateus 18:15)

O Novo Testamento ensina que se o nosso próximo está em pecado, temos o dever e o compromisso de confrontar sua falta. O negar-se a fazer isso que é pecado. É falta de amor.

O mito de que não se deve questionar aos autodenominados ungidos é falso, pois contradiz estes claros mandamentos do Novo Testamento.

A interpretação correta do texto: “"Não toqueis, disse, nos meus ungidos”. O que realmente significa a passagem de Salmos 105:15?

Em primeiro lugar se refere, no contexto, a Abraão e à sua descendência em sua etapa inicial como “os ungidos”, não a um líder em particular. Nesse caso uma aplicação moderna da passagem seria que não se deve tocar em qualquer membro do povo de Deus.

Mas o que significa “tocar”? Bem, a passagem foi dada para que as poderosas nações vizinhas do povo hebreu, até então um pequeno grupo de nômades, não o saqueasse, o matasse ou o roubasse, enquanto seguia em suas peregrinações. “Tocar” significava, no contexto, não prejudicar fisicamente a Abraão e a família. Isso é tudo o que diz a passagem, e se nos damos conta, isso não tem nada a ver com a proibição de confrontar, repreender, denunciar, questionar ou afastar-se de um líder religioso que se delinqüe ou que torce os ensinamentos de Cristo.

Se como os líderes autoritários nos dizem, “tocar” num ungido é questionar um ministro e isso está proibido, então com que razão Paulo questionou e repreendeu a Pedro e logo depois registrou o fato em uma carta como exemplo aos cristãos da Galácia? (Gálatas 2:11-16)

Aprendamos isso: A Bíblia nos permite tanto questionar os ministros, como também confrontá-los, quando vemos que há um sério erro doutrinário ou da práxis ética em suas vidas. Isso está claramente estabelecido na Palavra de Deus:

- “Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente para que sejam sãos na fé” (Tito 1:13).

- “Que pregues a palavra; que instes a tempo e fora de tempo; redarguas, repreende, exorta com toda paciência e doutrina” (2 Timóteo 4:2-3)

- “Como te roguei, quando parti para a Macedônia, que ficásseis em Éfeso para advertires a alguns, que não ensinassem outra doutrina” (1 Timóteo 1:3)

De fato, não somente temos o direito de questioná-los. Temos também o direito de abandoná-los e sair de sua esfera de influência caso se recusem a corrigir a sua conduta imoral ou ensinamentos torcidos. Leiamos o que Cristo ensina a respeito:

- “Deixe-os; são condutores cegos; ora se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova” (Mateus 15:14).

- “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano” (Mateus 18:15-17).

Diante de tudo o que foi exposto, podemos constatar que os grupos autoritários manipulam as Escrituras para evitar prestar contas de seus atos aos fiéis.

Fonte: Monergismo

terça-feira, 24 de agosto de 2010

DISCIPLINA ECLESIÁSTICA: UM ASSUNTO FORA DE MODA

O Rev. Valdeci da Silva Santos escreveu, e a revista teológica Fides Reformata publicou há alguns anos, o artigo “Disciplina na Igreja”, que foi fonte de estudos para um sermão que preguei nos tempos de Seminário. Assim inicia o texto: “Disciplina eclesiástica é um termo em risco de extinção no atual vocabulário cristão. Desde que os princípios do pós-modernismo encontraram lugar no seio da igreja, qualquer conceito que ameace o individualismo e a liberdade de escolha quanto ao estilo de vida, comportamento, etc., é logo taxado de arcaico, passé. A dicotomia prática de muitos cristãos gera a ilusão de que a igreja não tem nada a ver com o procedimento ‘secular’ de seus membros”.

A cada ano que passa, fica a impressão de que essas palavras do Rev. Valdeci, grifadas no exemplar da revista Fides Reformata que ainda conservo em minha estante, estão carregadas de uma verdade preocupante: a Igreja do nosso tempo não tem se preocupado tanto com o tema da disciplina eclesiástica. Seja pela maneira displicente como vivem muitos membros ou ainda pela leniência das lideranças, a realidade é que pouco se fala nesse assunto, e quase nada se pratica dele. Cada vez mais a vida das pessoas, inclusive membros das igrejas, tem se transformado ou se reduzido a um problema exclusivamente delas, não da igreja à qual pertencem. E muitas igrejas, sob a pressão do crescimento a qualquer custo, subtraem de seus púlpitos ou de sua práxis esse assunto.

A maior preocupação de muitos líderes evangélicos tem sido como manter as pessoas em suas comunidades. Para tanto, faz-se de tudo um pouco para que ninguém procure a porta de saída. Tudo é feito a fim de se manter as pessoas nas igrejas: cultos espetaculosos, louvores extravagantes, danças cheias de sensualidade “espiritual”, unção para tudo e todo tipo de situação, distribuições de amuletos, que vão do pó consagrado a toalhinhas benzidas em Israel, e até sorteio de brindes, entre outras invenções das mais grotescas. Fala-se de tudo, desde a solução de problemas conjugais, cancelamento de dívidas financeiras, curas de enfermidades, embelezamento físico ou tratamento “espiritual”, seja lá o que  isto signifique, e por aí vai. Mas nada - ou quase nada - se fala sobre o pecado ou sua correção através da disciplina eclesiástica. Isto porque, na ótica de muitos, tudo na vida das pessoas se resume a problemas físicos, materiais ou, quando são espirituais, explicam-se pela presença dos “encostos” ou pelas macumbas, feitiçarias ou pragas rogadas.

Um dos graves problemas das igrejas de hoje é que muitas delas não se preocupam em formar membros comprometidos. Muitas igrejas estão cheias de adeptos, simpatizantes ou meros clientes. Eles precisam ser agradados, pois são consumidores da fé, admiradores do “evangelho” (ou de seus líderes). As pessoas precisam ser atraídas e precisam querer ficar na igreja. Por isso muitos líderes valem-se de todos os meios para atingir o fim de não perder a clientela.

“Nessa ‘nova era’ antropocêntrica, a igreja é vista como uma organização altamente dependente do indivíduo, e que precisa conservá-lo ao custo de várias exceções. O medo da impopularidade leva muitos líderes à cumplicidade e pecados são justificados em nome de uma atitude mais ‘humana’”, diz o Rev. Valdeci. Isto tem se refletido de maneira significativa no testemunho da igreja do nosso tempo. Ser evangélico, aos poucos, vai se tornando tão banal como ser católico em alguns contextos. A vida dos “crentes” fora das paredes do templo cada vez mais vai deixando de ser um problema da igreja ou de suas lideranças. E disciplina eclesiástica se transforma em um assunto fora de moda. Porém, como questiona o Rev. Valdeci, “o que acontece com uma igreja sem disciplina?”.

O tema da disciplina eclesiástica sempre esteve na pauta das preocupações da Igreja cristã. O apóstolo Paulo exortou a Igreja de Corinto quanto ao exercício da disciplina para o restabelecimento do pecador e a manutenção da pureza daquela comunidade (1 Co 5. 1 a 13); a Timóteo o apóstolo exortou quanto à repreensão “aos que vivem no pecado” (1 Tm 5. 20); aos gálatas Paulo instruiu acerca da correção caso “alguém for surpreendido nalguma falta" (Gl 6. 1). Na verdade o apóstolo orientou a Igreja baseando-se, antes de tudo, no ensino do próprio Jesus acerca do cuidado na repreensão dos faltosos (Mt 18. 15 a 20).

A Confissão de Fé de Westminster dedica um de seus capítulos (Capítulo XXX) para tratar acerca das Censuras Eclesiásticas, onde se lê:

I. O Senhor Jesus, como Rei e Cabeça da sua Igreja, nela instituiu um governo nas mãos dos oficiais dela; governo distinto da magistratura civil.

II. A esses oficiais estão entregues as chaves do Reino do Céu. Em virtude disso eles têm respectivamente o poder de reter ou remitir pecados; fechar esse reino a impenitentes, tanto pela palavra como pelas censuras; abri-lo aos pecadores penitentes, pelo ministério do Evangelho e pela absolvição das censuras, quando as circunstâncias o exigirem.

III. As censuras eclesiásticas são necessárias para chamar e ganhar para Cristo os irmãos ofensores para impedir que outros pratiquem ofensas semelhantes, para purgar o velho fermento que poderia corromper a massa inteira, para vindicar a honra de Cristo e a santa profissão do Evangelho e para evitar a ira de Deus, a qual com justiça poderia cair sobre a Igreja, se ela permitisse que o pacto divino e os seios dele fossem profanados por ofensores notórios e obstinados.

IV. Para melhor conseguir estes fins, os oficiais da Igreja devem proceder na seguinte ordem, segundo a natureza do crime e demérito da pessoa: repreensão, suspensão do sacramento da Ceia do Senhor e exclusão da Igreja.

O objetivo da disciplina eclesiástica não é a mera punição de um membro, mas um exercício do amor da Igreja pelo faltoso e um gesto de exortação à comunidade. Nas Escrituras a disciplina sempre é apontada como um gesto de amor, mais que um gesto de punição (Hb 12. 4 a 13; Ap 3. 19), e uma necessidade para a manutenção da pureza do Corpo de Cristo (1 Co 5. 7). O propósito da disciplina eclesiástica é promover a saúde espiritual da igreja, assegurar a sua pureza diante do mundo, restabelecer os pecadores, lembrar aos membros da igreja o seu chamado á santidade e, principalmente, promover a glória de Deus.

Deus nunca poderá ser glorificado por uma igreja que não se preocupa com a conduta dos seus representantes na terra. Deus não poderá ser corretamente adorado por uma igreja que não corrige os que desobedecem à sua Palavra. Deus não poderá ser devidamente honrado por uma igreja displicente e negligente com a santidade e a pureza.

A igreja que não disciplina seus membros perde a capacidade de testemunhar verdadeira e convincentemente aos pecadores ao seu redor. “A igreja que negligencia o exercício desse mandato compromete não apenas sua eficiência espiritual, mas sua própria existência”, disse o Rev. Valdeci. Torna-se um sal que não salga, uma luz que não ilumina, uma noiva despreparada para as núpcias; torna-se uma vergonha, um opróbrio, ao ponto de ser pisada pelos incrédulos e ridicularizada pelos seus opositores.

Peço permissão para citar mais algumas palavras do Rev. Valdeci da Silva Santos para concluir este texto: “Uma igreja sem disciplina torna-se um empecilho para ao avanço do evangelho. Essa relação vital entre evangelismo e disciplina é clara à luz de 1 Co 5. 12 e 13. O evangelismo é dirigido aos que estão fora dos portões da igreja e que estão escravizados pelo pecado. A disciplina é dirigida àqueles que estão dentro dos portões da igreja e que estão se sujeitando ao domínio do pecado. Assim, ambos (evangelismo e disciplina) almejam a liberdade do pecador e a concretização do triunfo histórico da graça sobre o pecado na vida do mesmo. Uma igreja sem disciplina proclama uma liberdade desconhecida, ou rejeitada pelos seus próprios membros. Com,o diz Barnes, ‘há pouca vantagem em uma igreja que tenta vencer o mundo se ela já tem se rendido ao mundo’”.

Agnaldo Silva Mariano

domingo, 22 de agosto de 2010

POR QUE NÃO FALAMOS EM LÍNGUAS?

Por J. Adams

A resposta? Simplesmente esta: Nós não falamos em línguas porque não é bíblico assim fazer.

"Mas, no Novo Testamento as pessoas não falavam em línguas? Isto não faz dela uma prática bíblica?"

Não. Algumas coisas na Bíblia pertencem a pessoas e tempos especiais; não a nós. Jesus ressuscitou dos mortos e os apóstolos manejaram miraculosamente serpentes mortais sem dano algum; mas nós não podemos fazer estas coisas hoje.

O Que as Línguas Eram.

A palavra línguas, na Bíblia, significa idiomas. Falar em outras línguas (note o plural; a Escritura não está falando de algum idioma celestial) é a capacidade de pregar em idiomas estrangeiros sem ter estudado ou aprendido os mesmos (Atos 2:8-11). Os dons miraculosos do Espírito Santo capacitaram os apóstolos, em seus dias, a ensinarem pessoas de muitas nações. Você pode ver, então, como Paulo claramente disse, que as línguas tinham um propósito evangelístico: “as línguas são um sinal, não para aqueles que crêem, mas para os incrédulos” (1 Coríntios 14:22).

Porque isto é verdade, um idioma não deve ser usado numa congregação que fala outro idioma. Aparte da interpretação, o falar em línguas estrangeiras não edifica. E o propósito principal de Paulo nestes capítulos é enfatizar que todos as coisas devem ser feitas para edificar (ou fortalecer) os outros - 1 Coríntios 14:26b. Usá-las na igreja era inadequado e inconveniente, visto que elas deviam ser interpretadas.

Porque as Línguas Cessaram.

Deus nunca intentou que o falar em línguas continuasse indefinidamente. Paulo expressamente escreveu: “as línguas cessarão” (1 Coríntios 13:8). O esforço evangelístico que estabeleceu a igreja primitiva em todo o mundo Mediterrâneo, foi realizado sob a liderança dos apóstolos. Os ofícios apostólicos e proféticos eram revelatórios (Efésios 3:5). Isto é o mesmo que dizer que, durante o período no qual o Novo Testamento estava sendo escrito, ambos recebiam a verdade diretamente de Deus. Os apóstolos foram enviados com o evangelho, enquanto os profetas pareciam ter sido assistentes apostólicos. A revelação que eles receberam foi registrada nos livros que chamamos o Novo Testamento.

Não somente os dons miraculosos capacitaram os apóstolos a pregarem em muitos idiomas que eles não conheciam, mas estes dons também atestaram sua comissão apostólica (2 Coríntios 12:12), assim como os feitos miraculosos atestaram a obra evagelística de Jesus (Atos 2:2). Além do mais, pelos dons extraordinários, Deus confirmou os escritos dos apóstolos (Hebreus 2:2-4). Quando a escrita das Escrituras se completou, sua autoria não necessitava de confirmação adicional.

Foi somente durante o lançamento dos fundamentos da igreja que os dons miraculosos eram necessários. Os ofícios de apóstolo e profeta, sobre quem Deus depositou estes dons, cessaram quando este fundamento foi lançado. Isto é claro a partir de Efésios 2:20. Um fundamento é lançado somente no princípio; ele não se estende até às paredes ou ao texto!

Quando Paulo disse que os dons especiais eram “os sinais de um verdadeiro apóstolo” (2 Coríntios 12:12), ele certamente implicou que nem todos os cristãos os possuem. Era somente os apóstolos, e aqueles a quem eles transmitiram (Atos 19:6,7; Romanos 1:11), que possuíram estes dons.

Suponha que eu dissesse “Nossa igreja se reúne numa casa, no bloco 200, da Avenida Central - você não pode deixar de encontrar; simplesmente olhe para o sinal”. Mas, quando você chega, cada casa parece semelhante e todas têm sinais similares! Este sinal seria inútil; ele não mais seria um sinal. Se após o pentecoste judeu e o pentecoste gentio (Atos 2:10), quando o Espírito Santo veio diretamente, os dons eram mediados somente pelos apóstolos (Atos 8:17,18; 19:6,7), então, eles deveriam ser deveras um sinal dos verdadeiros apóstolos (2 Coríntios 12:12). Mas somente assim. Se alguém pudesse, de si mesmo, obter dons de Deus, aparte dos apóstolos, então, as línguas seriam um sinal para ajudar a identificar um verdadeiro apóstolo, tanto quanto os sinais na Avenida Central.

Não, os sinais e maravilhas pertenceram ao período fundacional da igreja - um período, presumidamente, que aqueles que ensinam outra coisa parecem não reconhecer (embora o próprio Paulo faça alusão a isso em Efésios 2:20). Eles não têm mais lugar na igreja hoje do que a continuação da escrita da Bíblia. Você pode assumir, portanto, que não importa quão bem intencionadas as pessoas que reivindicam o dom de línguas possam ser, elas têm enganado a si mesmas sobre o assunto. Não importa a sinceridade delas ou o “balbuciar celestial” que elas possam parecer falar.

Não busque, ore ou espere dons miraculosos hoje. Não há garantia para assim o fazer. Foque sua atenção, ao invés disso, nas Escrituras e nAquele de Quem elas falam. Nele (Jesus Cristo) somente, está o majestoso poder de Deus, depositado e demonstrado.

Fonte: Monergismo

sábado, 21 de agosto de 2010

O QUE É A FALA DOS ANJOS?

Por  JohnMacArthur, Jr.


Se a Bíblia sempre faz referência às línguas como linguagem humana normal, então, a que se refere 1 Coríntios 13:1? Paulo disse que se falasse a língua “dos homens e dos anjos”, mas não tivesse amor, seria apenas um bocado de barulho. Será que as “línguas dos anjos” poderiam ser entendidas como a fala extática que os carismáticos dizem ser o verdadeiro dom?

Um problema com a tentativa de igualar a algaravia extática em 1 Coríntios 13:1 com o dom de línguas é que não encontramos menção alguma de “fala dos anjos” em qualquer outro lugar da Bíblia. Realmente, só o que encontramos são anjos comunicando-se com seres humanos através da linguagem humana normal. (Veja, por exemplo, Lucas 1:26 em diante). A única outra forma de linguagem encontrada nas Escrituras além da língua humana é aquela usada pelo Espírito Santo em Romanos 8:26, quando Ele comunica as nossas necessidades ao Pai com gemidos inexprimíveis.

O que Paulo estava dizendo aqui? Não estava necessariamente declarando uma realidade de fato. Estava usando uma hipérbole – um exagero – a fim de ressaltar um fato. No grego, os versículos 2 e 3 de 1 Coríntios 13 usam verbos subjuntivos. Normalmente, quando se usa o subjuntivo no grego, indica uma situação improvável, hipotética e hiperbólica. Para mostrar a necessidade primordial do amor, Paulo estava estendendo os seus comentários a respeito da linguagem aos limites máximos. Estava dizendo: “Não importa quão refinada, milagrosa ou maravilhosa seja a sua maneira de falar – mesmo que você pudesse falar a língua dos anjos – se você não tiver amor, você não é nada mais que um barulho”.

Embora seja difícil fazermos uma ligação absoluta, é fascinante notar que duas das religiões de mistério, comuns naquela região do mundo, tinham dois deuses falsos chamados Cybele e Dionísio. E na adoração de ambas essas divindades falsas usava-se o balbuciar extático acompanhado de batidas de címbalos, gongos e trombetas em clangor. Não temos nenhum meio de garantir que Paulo tivesse em mente tais religiões de mistério quando escreveu 1 Coríntios 13:1, mas é bastante provável que ele tivesse em mente a corrupção do dom de línguas ao escrever esta secção de sua carta à igreja de Corinto.

Se o principal propósito das línguas (línguas conhecidas) era sinal para o Israel descrente, conforme 1 Coríntios 14:21-22, então a única ocasião em que línguas poderiam ter significado para o crente seria quando elas fossem traduzidas. Dizer que o dom bíblico de línguas é a linguagem extática usada hoje pelos carismáticos em suas devoções particulares é forçar um significado no texto bíblico que não esta lá.

(Fonte: Monergismo - Extraído do excelente livro Os Carismáticos, John F. MacArthur Jr., Editora FIEL, pág. 156-157.)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O TWITTER DE DEUS

O twitter é um fenômeno mundial. A febre do microblog atingiu milhões de pessoas mundo a fora. Muita gente tem um perfil no twitter. Até eu tenho. Os políticos têm twitter para fazer campanha. As celebridades têm twitter para se comunicar com os fãs. Os fãs têm twitter para falar das celebridades. Os adolescentes têm twitter para se comunicar com os amigos, falar de suas trivialidades e ter mais uma desculpa para passar mais tempo na internet.

Há quem tenha um perfil no twitter e nem saiba disto. São os famosos fakes. Alguém assume a identidade de uma pessoa famosa, cria um perfil e começa a escrever em nome da personalidade assumida. Até gente que já morreu tem perfil no twitter. João Calvino, Martinho Lutero, Machado de Assis, Villa Lobos e Michael Jackson estão entre os notáveis falecidos cujos nomes dão, digamos, “vida”, a perfis dessa fantástica rede social.

Vasculhando a rede recentemente descobri que até Deus tem um perfil no twitter. E não dá para dizer que ele não sabia, porque Deus sabe de todas as coisas. Aliás, é assim que “Deus” se apresenta na sua página: “Onipresente, Onisciente, Onipotente” e... “Online”.

O grande problema do twitter de “Deus” é que seus tweets, como são chamadas as postagens do microblog, são, em geral, ironias e tiradas, várias delas de intenso mau gosto, em nada compatíveis com as palavras sábias e poderosas reveladas nas Escrituras. Por exemplo, “Deus” diz no seu twitter no dia 11 de agosto: “Estimados candidatos: Eu ter escolhido Meu filho para ser o Messias não quer dizer que sou a favor do nepotismo”. No dia 02 de agosto “ele” twittou: “Não se pode passar um dia inteiro descansando que já se ganha fama de brasileiro”. No dia 26 de julho “Deus” usou a rede social para dizer: “Filho, lembre-se que eu Eu nunca te deixarei só. Acredito que esta é a pior parte de ser onipresente...”.

"Tudo isto não passa de uma brincadeira de alguém com muito tempo disponível", poderia ser dito. O pior é que o twitter de “Deus” tem mais de 300 mil seguidores, alguns dos quais talvez eu até conheça e talvez haja entre eles os que se denominem crentes. É triste constatar que haja tanta gente disposta a rir do nome de Deus e apoiar a irreverência de quem não se dá conta de que o nome de Deus é santo e não deveria ser usado com outra finalidade, a não ser a adoração. Certas brincadeiras com o nome de Deus são atrevidas desobediências ao mandamento que exige respeito e reverência ao seu santo nome. Tais seguidores do twitter de “Deus” talvez não se deram conta de que de Deus não se pode zombar, porque Deus não é como um de nós. Mesmo que muitos acreditem se tratar apenas de uma brincadeira inocente, a Bíblia diz claramente que “Deus não terá por inocente aquele que usar o seu santo nome em vão”.

Hans Hulrich Reifler no livro A Ética dos Dez Mandamentos diz que: “A finalidade do terceiro mandamento é afirmar a santidade de Deus. Não devemos profana-lO nem tratá-lO irreverentemente. Não se deve pensar em Deus ou em Seus mistérios sem a devida sobriedade e reverência (...) Deus reivindica para Si este direito de santificar Seu nome” . Ele ainda cita João Calvino que, falando sobre o terceiro mandamento em suas famosas Institutas, diz: “Tudo quanto a mente concebe a Seu respeito, tudo quanto a língua profere, saiba a Sua excelência e corresponda à sagrada sublimidade de Seu nome, afinal, seja adequado a exalçar-Lhe a magnificência. Não abusemos, temerária e pervertidamente, de Sua santa palavra e de seus venerados mistérios, seja a serviço da ambição, seja a serviço da avareza, seja a serviço dos divertimentos nossos”. Sinceramente, creio que participar desse tipo de brincadeira é reforçar o desprezo que o mundo tem por Deus e sua glória. Não combina com os verdadeiros seguidores, ou melhor, filhos de Deus.

O verdadeiro Deus deixou o seu  perfil revelado nas páginas das Escrituras. Ali todos podem ler suas palavras santas e segui-las para o seu bem e salvação. O verdadeiro Deus não se comporta de maneira irreverente e fútil como o “Deus” do twitter. Além do mais, o verdadeiro Deus segue muito mais do que 3 mil pessoas. Ele conhece e segue os passos de cada ser humano sobre a face da terra, e julga cada uma de suas obras; inclusive aquelas que são feitas offline.

Agnaldo Silva Mariano

sábado, 7 de agosto de 2010

SE ALGUÉM CRITICA É PORQUE ESTÁ INCOMODANDO. OU PORQUE ALGO PODE ESTAR ERRADO.

Criticar alguém pode ser um ato cruel e injusto quando movido apenas pelo puro e simples desejo pessoal de atacar alguém sem maiores ou legítimas razões. A crítica pode ser uma atitude grosseira quando é um fim em si; um gesto reprovável quando é precipitada ou gratuita.

A crítica, entretanto, pode ter o seu valor quando é uma censura a um ato ou pensamento digno de reprovação. Neste caso, a crítica pode beneficiar a quem cometeu um erro, levando a refletir ou repensar a sua postura, ou até mesmo servir de alerta às demais pessoas para não caírem nos mesmos erros ou serem vítimas de enganos.

O meio evangélico parece ser avesso a qualquer tipo de crítica. Principalmente quando se trata de críticas feitas àqueles que se autodenominam “profetas de Deus”. Pessoas assim escondem-se atrás da uma equivocada interpretação bíblica do texto que diz não ser permitido tocar no ungido do Senhor. Aí qualquer um se julga no direito de assumir a posição intocável de “ungido do Senhor” e se coloca acima da possibilidade da crítica. Os excessos estão aí por toda a parte.

Criticar e censurar são atitudes próprias de quem não concorda com certas práticas. Não há nada de errado na crítica, desde que ela tenha um padrão confiável no qual se apóie. A crítica ou censura precisa conduzir a um padrão último e inquestionável. Se o padrão for desrespeitado, qualquer que seja o infrator e quaisquer que sejam as razões, a crítica se fará necessária para que se mantenha e defenda o padrão.

Martinho Lutero foi um crítico. Seu ato de protesto foi um gesto de crítica ao status quo da Igreja medieval. Um ato de protesto baseado no padrão indiscutível da Escritura. Haveria, por certo, quem se julgasse acima de quaisquer críticas na igreja do seu tempo. Mas diante do crivo da Escritura, ninguém permanece intocável se a ela não se render e submeter humildemente.

Assistindo a um programa do Silas Malafaia, observei a maneira como ele explica e se esquiva das críticas recebidas por causa dos seus efusivos apelos em favor de ofertas para o seu ministério: “Se criticam é porque está incomodando”. Logo, conforme o silogismo malafaista, se está incomodando é porque Deus está de acordo. Tenho lá minhas dúvidas a respeito disto. Ou, para ser justo ao texto, tenho lá minhas críticas.

Melhor seria se pudéssemos fazer uma avaliação mais sensata das coisas. Se alguém está criticando a postura assumida pelo senhor Malafaia, pode ser porque tem algo estranho nessa postura; pode ser porque não seja bíblico; pode ser porque não esteja correto. Por que a crítica ao Malafaia se transforma em um atestado de validação ao que ele faz? Se há pessoas criticando – e eu tenho certeza de que há gente muito séria e piedosa fazendo isto – talvez seja hora de repensar a direção, não é verdade? De onde vem tanta certeza de que suas decisões vêm de Deus? De onde vem tanta convicção de que as críticas são atestados de validação de seus atos?

As críticas, senhor Malafaia, podem ser um aviso de Deus também. Várias vezes Deus levantou críticos a fim de alertar seus servos a mudarem seus caminhos. Os que ouviram as críticas e souberam reconhecê-las humildemente foram preservados de grandes tribulações. Os que se mantiveram “intocáveis” às críticas conheceram os tristes resultados da vaidade auto-confiante. Se a crítica fosse um atestado de que as coisas estão corretas a Igreja nunca teria sido reconduzida ao caminho da Escritura e Lutero teria entrado para a história como um tolo. E nós sabemos muito bem quem estava com a razão.

Agnaldo Silva Mariano

terça-feira, 3 de agosto de 2010

PARALELO, BIZARRO E GOSPEL.

O termo gospel é um estrangeirismo usado na nossa língua para designar, em geral, o movimento evangélico. A palavra tem origem na língua inglesa e significa evangelho; daí a identificação com o segmento cristão.

Inicialmente - pelo menos de acordo com alguns especialistas no assunto – o termo gospel era usado para designar, especificamente, o segmento musical evangélico que eclodiu no Brasil, lá pelos idos anos de 80 e 90, o chamado “Movimento Gospel”. O termo teria sido emprestado do inglês devido à forte influência exercida pela música norte-americana na música da igreja brasileira. O tempo passou e a expressão gospel não ficou restrita apenas à música, mas passou a ser um designativo do próprio universo evangélico. Tudo que tem alguma conotação evangélica hoje em dia é gospel. Gospel hoje é o designativo de um mundo, de um universo paralelo.

O mundo gospel é uma espécie de realidade paralela, um mundo à parte do mundo real, uma espécie de Matrix, ao qual os crentes são transportados após se “converterem”.

Há algum tempo os evangélicos eram conhecidos como o povo do “não pode”. Tudo que se lembrava a respeito dos crentes eram os “prazeres” da vida dos quais eles eram tolhidos. Crente não podia dançar, não podia beber, não podia freqüentar danceterias, não podia curtir carnaval, entre muitos outros “deleites”. Mas agora, com o advento do universo gospel, os problemas dos crentes acabaram. No universo paralelo tudo pode, desde que seja gospel, ou, pelo menos, desde que se acrescente a palavra gospel ao final.

Então, a situação fica mais ou menos assim: o crente que não podia freqüentar danceterias nem ir a “baladas”, agora pode, porque o universo paralelo oferece baladas gospel nas boates gospel onde a cristandade pode dançar à vontade ao som de DJ's, “na liberdade do Espírito”. Para os que curtem o ritmo frenético do funk, o universo paralelo oferece a oportunidade de balançar ao som do funk gospel, “para a glória de Deus”. Os admiradores do axé podem, no mundo paralelo, foliar sem constrangimentos sob o batido do axé gospel. O Carnaval, que era considerado quase pecado mortal há alguns anos atrás, no mundo paralelo perde a tonalidade dantesca e os crentes podem desfilar nos blocos gospel festejando “na alegria do Senhor”.

Esse mundo parelelo ao qual chamam de mundo gospel às vezes me faz lembrar do Planeta Bizarro, aquele mundo estranho em que viviam alguns inimigos do Superman. De acordo com a ficção, o Planeta Bizarro surgiu da tentativa de alguns cientistas de clonar o homem de aço. Mas algo saiu errado, e tudo naquele planeta se tornou uma cópia mal feita do mundo real, uma realidade invertida em que tudo é o contrário do mundo real. Assim me parece o mundo gospel.

O mundo gospel com suas baladas, folias, blocos e funk gospel é um tipo de clone mal feito do mundo real. Um mundo bizarro que tenta imitar a realidade, mas acaba criando algumas coisas bem toscas. Não é sem razão que muitas vezes encontramos verdadeiras aberrações nesse universo paralelo, algumas delas capazes de envergonhar o verdadeiro Evangelho de Cristo. Quer coisa mais ridícula do que ver um sujeito cantando: "Quer louvar, quer louvar, o pastor vai te ensinar!" e um monte de gente rebolando em volta "para a glória de Deus"? Ou quer coisa mais tosca do que um monte de gente dançando ao som de uma música do tipo: "Vem curtir, vem louvar, se prepara pra dançar" numa balada crente? E o que dizer de um bloco de carnaval cheio de crentes dançando nas ruas do Pelourinho em nome de Jesus? Colocar o nome gospel não me parece conferir a certas bizarrices o grau de verdadeiro ou bíblico. Pelo contrário. Às vezes revela a antítese desse universo com a verdadeira identidade evangélica estampada nas páginas bíblicas.

O povo de Deus não precisa de um universo paralelo para viver sua identidade. Peço licença para dizer que nem tudo que é gospel é, necessariamente, bíblico. O universo paralelo em que muitos “evangélicos” vivem pode ser apenas fruto da imaginação de quem ainda não compreendeu o verdadeiro sentido do que é de fato o Evangelho.

Agnaldo Silva Mariano