Do Catecismo Maior de
Westminster Comentado
Pergunta
158. Por quem deve ser pregada a Palavra de Deus?
R. A
Palavra de Deus deve ser pregada somente pelos que forem suficientemente
dotados e devidamente aprovados e chamados para tal ofício.
Referências
bíblicas
1) Aqueles
que pregam a Palavra de Deus publicamente devem possuir obrigatoriamente certas
qualificações definidas na Bíblia. 1Tm 3.2, 6; Ef 4.8-11; Os 4.6; Ml 2.7; 2Co
3.6.
2) A
Palavra de Deus deve ser pregada publicamente somente pelos que foram
legitimamente chamados para o ofício do ministério da Palavra. Jr 14.15; Rm
10.15; Hb 5.4; 1Co 12.28-29; 1Tm 3.10; 4.14; 5.22.
Comentário
1. Essa
pergunta do Catecismo trata especialmente de que tipo de pregação da Palavra?
Trata
da pregação da Palavra numa congregação da igreja de Cristo. Pode-se inferir
isso das palavras “em público para a congregação” na resposta da Pergunta 156.
Quem não for ministro ordenado ou licenciado pode testemunhar de Cristo em
particular ou em público, conforme a oportunidade o permita, mas a pregação
pública oficial da Palavra na igreja deve ser feita apenas por aqueles
devidamente separados para essa obra.
2. Por
que a pregação oficial da Palavra deve ser feita só “pelos que forem
suficientemente dotados”?
Claro
está que a pregação da Palavra é uma obra de importância muito grande. São
necessárias as qualificações apropriadas para que seja feita da maneira
adequada. Há qualificações espirituais, intelectuais e educacionais sobre as
quais se deve insistir para que a igreja tenha um ministério adequado. Um homem
que não tenha nascido de novo e que não seja um consistente crente em Cristo,
não tem obviamente condição de pregar a Palavra de Deus aos outros; seria
apenas um cego conduzindo outro. Um homem incapaz de pensar corretamente,
incapaz de detectar a falácia de um argumento perverso, é passível de ser ele
mesmo desviado por um falso ensinamento e, por sua vez, capaz de desviar
outros. Um homem a quem falta educação geral e teológica normalmente não será
capaz de fazer justiça à grande obra de pregação da Palavra de Deus e correrá o
perigo de pregar uma mensagem desequilibrada ou parcial. Quando Deus chama um
homem para a obra do ministério, também o aparelha com as habilidades e
qualificações necessárias para que possa realizar a obra adequadamente.
3. Por
que a nossa igreja, e a maioria das igrejas Protestantes, exige a formação
superior completa num seminário para o ofício do ministério?
Quanto
mais importante for a obra, mais importante será que tenham o treinamento
adequado os que a realizarão. Sempre tem havido quem ache que seja perda de
tempo, em maior ou menor grau, gastar sete anos na formação superior num
seminário, preparando-se para a obra do ministério. Há hoje em muitas
denominações a pressão constante para que essas exigências sejam relaxadas e
que sejam admitidos no ministério homens que tenham menos do que isso. Alguns
consideram que as matérias ensinadas em um curso superior — como filosofia,
história e literatura — sejam inúteis ao ministério e uma perda do tempo que
deveria ser investido “ganhando almas”. Há, da mesma maneira, quem pense que um
breve “Curso de Bíblia” e mais algumas matérias práticas como a retórica
religiosa (homilética) e prática pastoral devam ser suficientes e que o amplo
estudo de Hebraico, Grego, História Eclesiástica e Teologia Sistemática sejam
desperdício de tempo.
Ninguém
que precisasse passar por uma cirurgia estaria disposto a ir a um cirurgião que
obteve o seu treinamento através de atalhos. O Estado insiste, corretamente,
que aqueles cujas decisões e ações envolvam a vida ou a morte de seus
semelhantes estejam plenamente treinados para o exercício do seu ofício. Quão
mais importante é que os ministros do evangelho, cujo trabalho pode afetar o
destino eterno de seres humanos, estejam plenamente instruídos para a tarefa a
eles designada. Considerando-se o espaço de tempo necessário ao treinamento na
medicina e de outras doutas profissões, os quatro ou cinco anos empenhados no
curso superior de um seminário não são demasiados para o treinamento
ministerial.
O
ministro a quem faltar o treinamento num seminário dificilmente conseguirá
entender o mundo moderno ao qual tem de entregar a sua mensagem. O estudo de
filosofia, história e de outras matérias acadêmicas está longe de ser uma perda
de tempo. Elas apresentam o cenário do pensamento moderno e habilitam o ministro
a proclamar todo o conselho de Deus de modo que confronte cabalmente a situação
dos dias presentes. Semelhantemente o estudo de Grego, Hebraico, Teologia
Sistemática, etc., é qualquer coisa, menos perda de tempo, pois permitem ao
ministro conhecer de primeira-mão a Bíblia e seus ensinamentos, e pregar uma
mensagem bíblica, consistente e integrada.
A
tendência moderna de cortar os estudos “teóricos” e aumentar os estudos
“práticos” na preparação para o ministério é deplorável e deve ser resistida.
Existem dois tipos de seminários teológicos e institutos bíblicos. Num deles o
alvo é instrumentar o estudante com uma certa quantidade de material pronto com
o qual ele pode sair e ir pregar. No outro, o objetivo é colocar nas mãos do
estudante as ferramentas do estudo bíblico e da pesquisa teológica e treiná-lo
para usá-las corretamente. Daí, então, ele pode sair e pregar e a matéria-prima
da sua pregação jamais vai se esgotar enquanto viver. Cremos que este último é
que é o único e apropriado tipo de treinamento para a obra do ministério.
Não
se deve entender, pelo que foi dito, que jamais haja exceções a essas regras. É
óbvio que alguns dos discípulos do nosso Senhor tiveram pouca ou nenhuma
educação formal, mas tornaram-se eficazes ministros da Palavra. Eles, no
entanto, gozaram da inestimável vantagem de passarem três anos na companhia de
Jesus sob a Sua instrução pessoal. Deus às vezes chama para o ofício
ministerial um homem com pouca ou nenhuma educação formal e nesses casos
excepcionais, onde está evidente a chamada divina, a igreja não deve hesitar em
ordenar o candidato ao ministério. Tais casos, contudo, são muito raros,
especialmente em dias em que são normais as oportunidades para a aquisição da
educação. Não se deve permitir que a exceção torne-se regra.
4. Que
significa “devidamente aprovados e chamados”?
Há
uma chamada divina para o ministério e uma chamada da igreja. Devemos lembrar
sempre que o ministério não é uma profissão, mas um ofício. Ninguém pode
simplesmente decidir tornar-se um ministro da mesma maneira que decide
tornar-se advogado ou exercer uma linha de trabalho. É preciso ter alguma razão
para se crer que seja chamado para o ministério. Isso não quer dizer uma
revelação especial do céu, como um sonho ou uma visão, mas a consciência de que
se possui em alguma medida as qualificações exigidas, juntamente com o sincero
desejo de pregar o evangelho, a disposição para fazer sacrifícios pela causa de
Cristo e de empenhar-se para obter a preparação necessária. Deus conduzirá ao
ministério, da Sua própria maneira, àqueles a quem Ele chamar.
A
chamada da igreja consiste, primeiro, em autenticar a chamada de Deus pela
“devida aprovação” do candidato, suas convicções religiosas, sua habilidade
geral e a sua preparação acadêmica e teológica. Essa “aprovação” está
normalmente dividida em vários estágios. Primeiro, o candidato é recebido sob
os cuidados de um presbitério como estudante para o ministério; depois de uma
preparação parcial ele é licenciado para pregar; finalmente, depois de
completada a preparação e com o convite de uma congregação ou junta missionária
é ordenando ao ofício do ministério.
A
chamada formal da igreja é o convite de alguma congregação para que o candidato
venha a ser o seu pastor, ou de alguma junta missionária ou outra agência da
igreja visível para que o candidato se engaje na obra missionária local ou no
estrangeiro, ou em algum outro aspecto da obra ministerial. Em todo caso, antes
que o homem seja ordenado, deve haver uma chamada definitiva — seja para o
pastorado de alguma congregação ou de outro campo de trabalho específico.
5. Por
que antes de entrar no ofício ministerial o homem tem de ser devidamente
chamado por Deus e pela igreja?
Nem
mesmo o nosso Senhor Jesus Cristo fez de si sumo sacerdote, mas foi chamado por
Deus para esse ofício da mesma maneira que Arão o fora (Hb 5.4-5). Apesar disso
existem hoje muitos pregadores e missionários freelancers e
independentes. Essa é uma tendência errada e deve ser desencorajada. Muitos
desses pregadores e missionários independentes podem verdadeiramente ter sido
chamados por Deus e podem estar fazendo um bom trabalho pregando a Cristo, e
este crucificado; mas há uma certa falta de consideração e negligência da
igreja visível como instituição divina comprometida com a atitude deles, e que
não pode ser aprovada. O chamado de Deus e o chamado da igreja não são
antagônicos, toda verdadeira igreja é instrumento de Deus para o treinamento e
o ordenamento de homens no ofício ministerial. Alguns há que, alegando uma
piedade superior, sustentam que a chamada de Deus é suficiente e que eles não
precisam da chamada e da ordenação da igreja. Essa falta de respeito para com a
igreja visível não é bíblica e deve ser desestimulada.
Extraído
do livro Catecismo Maior de Westminster Comentado, por
I. G. Vos, Editora Os Puritanos, páginas 508-511
O Catecismo Maior de Westminster é adotado oficialmente pela Igreja
Presbiteriana do Brasil como sistema expositivo de doutrina e prática
juntamente com o Breve Catecismo e a Confissão de Fé (CONSTITUIÇÃO DA IGREJA
PRESBITERIANA DO BRASIL, CAPÍTULO I — NATUREZA, GOVERNO E FINS DA IGREJA, § 1).