Temos vivido em nossa denominação um grande dilema nos tempos atuais: muitos pastores experimentando a triste realidade da falta de campo para exercer o seu ministério. Vários fatores, a meu ver, vêm contribuindo para o aumento do número de ministros ordenados na IPB. Por exemplo: o crescimento do número de candidatos ao ministério, a abertura de novos seminários em diversas regiões do Brasil, a ordenação de pastores sem curso teológico em muitos presbitérios, a recepção de pastores vindos de outras denominações, a precipitação de determinados concílios no envio e conseqüente ordenação de candidatos sem o devido reconhecimento de sua vocação. Ademais, há ainda o fato de nossa igreja não experimentar atualmente um crescimento tão destacado.
Além desses fatores, é necessário que façamos uma reflexão a respeito de outros temas como:
(1) O preparo dos nossos candidatos. A Bíblia diz que Deus concedeu uns para "apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres" (Ef 4. 11). Os nossos seminários precisam preparar os novos obreiros levando em consideração a variedade de dons concedidos por Deus à igreja para o "desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo" (Ef 4. 12), bem como as necessidades e a amplitude do ministério da Igreja. Nem só de teólogos e administradores vive a igreja. Precisamos, sim, de bons teólogos, mestres, administradores; mas precisamos também de evangelistas, plantadores de igrejas, homens capacitados para a revitalização de igrejas, conselheiros, etc.
Há muitos irmãos, servos de Deus, vocacionados, sem campo por não encontrarem em nossas igrejas locais e concílios a oportunidade de desenvolver seu ministério específico; e por insistirem em ser teólogos e administradores, acabam frustrados e rejeitados pelas igrejas locais e concílios. Vivemos sob uma cultura de que cada igreja deve ter UM pastor para cuidar de todas as áreas. Em muitas igrejas os pastores precisam ser, ao mesmo tempo (e com eficiência) pregadores, evangelistas, psicólogos, pedreiros, superintendentes de Escola Dominical, conselheiros de sociedades, instrumentistas, secretários de conselhos e até zeladores. Tanta carga vem acrescida de cobranças por resultados por parte dos Conselhos e Presbitérios, gerando nos obreiros insegurança e frustração.
(2) Outro fator que considero decisivo é a nossa falta de investimento como pastores em nosso ministério. Às vezes nos contentamos apenas com o diploma e o conhecimento adquiridos nos bancos do seminário e não investimos na atualização, capacitação teológica, não participamos de congressos, novos cursos, e passamos temporadas sem sequer comprar ou ler novos livros. Como pastores, nunca podemos nos acomodar; precisamos estar sempre atualizados, buscando novas alternativas ministeriais, novas ferramentas e aperfeiçoamento nas áreas de atuação específicas do nosso ministério. Pastores acomodados e desatualizados terão dificuldades em desempenhar o ministério num tempo de grandes transformações como o nosso.
(3) Vejo ainda um outro problema: a visão de muitos conselhos e igrejas de que o pastor é uma peça facilmente descartável: "Não deu certo, vamos arranjar outro". Há pastores sendo dispensados de igrejas porque pregam muito, outros porque pregam pouco; uns porque não visitam, outros porque não tocam violão; alguns por discordarem dos presbíteros, outros por não agradarem os adolescentes, etc. As igrejas e conselhos precisam valorizar os pastores como homens vocacionados por Deus, e dar-lhes condições de exercer o seu ministério com alegria e segurança. Pastores não são objetos que a igreja usa e joga fora quando acha que não servem mais.
(4) Outro fator que considero preocupante é a idéia, muito comum em nossos dias, de que a igreja precisa "contratar" um pastor que tenha o "perfil da igreja". Muitas igrejas locais imaginam ter um "perfil" no qual nenhum pastor de seu presbitério se encaixa. Reconheço que pastores e igrejas têm características específicas, mas a vocação ministerial tem uma finalidade prescrita: "O aperfeiçoamento dos santos para o desenvolvimento do seu serviço, a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura de Cristo" (Ef 4. 12 a 13). O perfil da igreja de Cristo já está definido na sua missão. Características específicas são ferramentas dadas por Deus para o desempenho da missão da igreja. Se a Igreja é de Cristo e se os pastores são vocacionados por Deus, não deveria haver pastor sem "perfil" para desenvolver o ministério em qualquer igreja local. Além do mais, quem definiu esse "perfil" da igreja? Deus ou a conveniência humana?
Sei que há muitos outros fatores, e reconheço que a simples identificação deles não resolverá esse sério problema em nossa denominação. É preciso refletir com serenidade e piedade, e rogar a Deus que nossa querida IPB experimente um tempo de mudança em que, ao invés de dispensar obreiros, possamos rogar ao Senhor da seara: "Mande, Senhor, mais trabalhadores, porque os campos são muitos e os trabalhadores são poucos".
Um comentário:
Concordo com seu pensamento! Lamentavelmente são todos esses fatores e muito mais. A minha ex-professora Silva professora de portugues no SPS, dia-nos que bom se os seminaristas viessem para os seminários com alguma faculdade feita de prerencia profissionalizante.
Muitos dos pastores não poderão ter um salário digno. E poderão complementar sua renda como fazedores de tenda. Termos que fazer aluguns reajustes na igreja local e em nós também.
Postar um comentário