terça-feira, 3 de maio de 2011

O PATRIOTISMO GLOBALIZADO

Barack Obama anunciou extasiado: “A justiça foi feita”. Referia-se à morte de Osama Bin Laden, líder da organização terrorista Al-Qaeda, responsável pelos atentados às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001. O homem mais procurado pelos Estados Unidos foi morto em uma ação militar no Paquistão, no último dia 02 de maio de 2011. Bastou o anúncio do presidente para que os americanos inflassem seu ego patriota e saíssem às ruas empunhando bandeiras e aos gritos de “U.S.A...U.S.A”.

A euforia americana fez lembrar os nossos festejos quando a seleção tupiniquim conquistou seus títulos mundiais de futebol. Pessoas alegres, vestindo roupas com as cores nacionais, cantando o hino do país e bradando o nome da nação. Os americanos também sabem comemorar conquistas esportivas. Especialmente nos dias do Super Bowl, a grande final do campeonato de futebol daquele país. Mas a verdade é que não é preciso muita coisa para que os americanos exalem seu patriotismo. Nós brasileiros temos menos vocação patriota; mas os americanos fazem questão de expressar seu orgulho nacional sempre que podem; ou sempre que querem.

Quiseram os americanos expressar o seu patriotismo no dia 02 de maio em razão de uma morte. É claro que não foi a morte de um homem qualquer. Foi a morte do homem que liderou os ataques responsáveis pela perda de mais de três mil americanos há dez anos atrás. Era o criminoso mais odiado pela nação. Era um terrorista, um delinqüente, um assassino. Mas o sentimento de orgulho nacional americano expõe algumas agruras lamentáveis e nos leva a algumas reflexões sobre o perigo do patriotismo globalizado.

O povo americano tem todo o direito de sentir-se aliviado com a morte de um inimigo da nação. Mas a comemoração nas ruas demonstra um sentimento vingativo tão ruim quanto o que outras nações demonstram em relação à sua nação. O ódio anti-americano existente em muitas nações é um dos piores sentimentos possíveis na civilização contemporânea. E os americanos conseguiram copiar o que mais lhes dói. Conseguiram tripudiar sobre a morte de um inimigo como muitos inimigos fazem quando matam seus soldados. É pedir muito que os americanos amem seus inimigos? Sinceramente, não sei; mas é preciso questionar se esse tipo de comemoração é ética ou justa. É preciso, ainda, questionar, se a justiça se faz dessa maneira. Aliás, quem instituiu o governo americano como o guardião da justiça mundial? Quem conferiu aos Estados Unidos o direito de invadir qualquer nação do mundo e matar seus desafetos? Isto vale para qualquer nação? Qual é o padrão de justiça no qual Barack Obama se inspirou ao dizer que “a justiça foi feita”?

Não quero aqui inocentar Bin Laden nem condenar Barack Obama. Quero apenas questionar esse senhorio americano sobre o mundo e seu direito de invadir nações à procura de estabelecer o seu ideal próprio de justiça. Foi com esse sentimento que os americanos sentiram-se autorizados a invadir o Iraque e provocar uma desordem até hoje não resolvida.

Um dos efeitos perigosos da comemoração desta investida dos Estados Unidos contra Osama Bin Laden é a globalização do patriotismo americano. Saindo às ruas com tamanha euforia os americanos conseguiram fazer com que o mundo inteiro ficasse do seu lado. De repente todos se sentiram um pouco americanos, um pouco vingados e um pouco orgulhosos também. O patriotismo americano, então, se transformou num patriotismo global, e as causas americanas passaram a ser as causas de todo o mundo. A noção de justiça dos americanos passou a inspirar outras nações. E Barack Obama é, então, o novo herói mundial.

Osama Bin Laden pagou por seus erros, em vida, na morte e continuará pagando após a morte se não se arrependeu deles. Mas será que os americanos não precisam também enxergar seus crimes e erros contra outras nações? Será que há tanto o que comemorar? Tomara que o mundo enxergue que o patriotismo americano demonstrado nas ruas após a morte de Osama Bin Laden não é um padrão a ser copiado. Tomara que as nações entendam que, melhor do que sair às ruas para comemorar a morte de um inimigo é não criar inimigos. Tomara que as nações entendam que não se faz justiça com vingança; nem se alcança paz com ódio. Tomara que os próprios americanos entendam que a “grandeza do país e a determinação do povo americano”, aclamadas por Bacak Obama em seu discurso, foram construídas sob princípios muito mais nobres e eloqüentes do que o ódio e a vingança. Creio que os fundadores da nação americana ficariam envergonhados da celebração de um patriotismo tão sangrento.

Agnaldo Silva Mariano

3 comentários:

Eliéser Ribeiro disse...

Como sempre ótimo texto.
Meus parabéns.

Mas, acredito que muitos estranharam aquelas comemorações dos americanas e pelo que vejo aqui na internet muitos até repudiaram.


Deus te abençoe sempre.

Anônimo disse...

É verdade. Não se mata em nome da vingança, nem da raiva, do ódio, e da estupidez pelo fato de ser a maior nação do mundo. Já imaginou se a moda pega? Os antiamericanos vão ter que matar a maior nação do Mundo. Um abraço.

Eliéser Ribeiro disse...

Não se deixe vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem. Rm 12:21 Acho que ilustra bem a mensagem para o povo americano.