quarta-feira, 30 de setembro de 2009

PODE O CRENTE CELEBRAR SOZINHO A CEIA DO SENHOR?


Há alguns anos fui surpreendido por uma senhora, freqüentadora de uma igreja onde eu pastoreava, com a informação de que ela havia encontrado uma maneira bastante prática de participar da Santa Ceia. Impedida de receber o sacramento pelo fato de não ser membro da igreja, a senhora disse que, assistindo aos cultos do missionário R.R. Soares pela televisão, resolveu ela mesma preparar os elementos (pão e vinho), e celebrar junto com o pregador neo-pentecostal a comunhão, quando a cerimônia da Santa Ceia era transmitida pela TV.

Dias depois, na mesma cidade, uma outra senhora – esta, membro da igreja – relatou que usava da mesma prática. Impossibilitada de freqüentar regularmente os cultos devido a constantes enfermidades, a irmã raramente participava do sacramento junto com a igreja, sendo necessário que todos os meses eu fosse à sua residência levar os elementos, a fim de que ela pudesse compartilhar a experiência sacramental.

Nos dois casos, chamou-me a atenção o fato de a experiência comunitária ter sido facilmente substituída por um tipo de comunhão virtual, separada da jurisdição formal da Igreja. Para aquelas senhoras, a fé é uma experiência tão individual, tão singular que dispensa a união formal à igreja para celebrar o rito mais significativo da fé evangélica.

Essas situações expressam uma realidade crescente em nossos dias. Muitas pessoas têm substituído a congregação real pelas igrejas virtuais. A experiência de fé tem deixado de ser uma vivência comunitária para se transformar numa prática individualizada, e, às vezes, egocêntrica. O elemento particular da fé exclui, para muitos, a necessidade vital da comunhão com uma congregação.

A fé tem elementos muito particulares, é verdade. É uma experiência pessoal, sem dúvida. Ninguém pode ter fé pelo outro, nem afirmar, com certeza, que a fé alheia é pequena ou insuficiente. É individual. Mas não pode ser individualizada. Embora seja uma experiência pessoal, a fé cristã também é uma experiência comunitária. Deve ser exercida em comunidade.

A fé vivida de forma comunitária é um poderoso instrumento de proclamação evangélica (Rm 1. 8), além de ser um designativo dos crentes (Gl 6. 10). A unidade da fé (Ef 4. 13) é um sinal de maturidade espiritual, unidade alcançada no verdadeiro sentido comunitário de Igreja.

Uma das maiores expressões de fé do povo cristão é a Santa Ceia. Nela declaramos a nossa fé individual coletivamente. A fé demonstrada pelos meus irmãos é a mesma fé que eu professo. Isto torna a Santa Ceia um importante testemunho de fé comunitária.

O apóstolo Paulo condenou a visão dos coríntios de uma indidualização da fé na Santa Ceia: “Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia...” (1 Co 11. 21). Eles haviam transformado a eucaristia numa bênção meramente individual. Cada um celebrava a sua eucaristia e ao seu próprio modo. Não havia comunhão, de acordo com Charles Hodge, em seu comentário a 1 Coríntios, exatamente porque eles não comiam juntos. “Não eram todos participantes de um só pão. Não esperavam uns aos outros. Ao contrário, cada um tomava de sua própria ceia que havia trazido, antes que os demais pudessem unir-se”, afirma Hodge. Paulo chama isto de menosprezo à igreja (1 Co 11. 22).

Individualizar a fé eucarística é menosprezar o sentido comunitário da Santa Ceia, é menosprezar a igreja. É afirmar que os outros irmãos são indignos de comer conosco. É um menosprezo aos outros crentes. Para corrigir aquela visão distorcida, o apóstolo exorta: “Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros”. Isto para que o culto seja feito em conjunto, a fim de se comemorar com um só corpo a morte do Senhor.

O apóstolo Paulo (1 Co 11. 23 a 26) relembra a atitude de Jesus quando da instituição da Santa Ceia. Calvino comentando o texto diz que “Cristo, aqui, distribui o pão entre os discípulos a fim de que pudessem todos comê-lo juntos; e desta forma todos pudessem participar, e participar igualmente”. E conclui: “Portanto, quando uma mesa comum não é preparada para todos os que crêem, quando estes não são convidados a partir o pão comum, e quando, em resumo, os fiéis não compartilham uns com os outros, não há base para definir o processo como sendo a Ceia do Senhor”. Portanto, a celebração da Santa Ceia e a comunhão congregacional são elementos que foram unidos por Cristo na própria instituição da eucaristia. “Isto é o meu corpo que é dado por vós; comei dele todos”, disse Jesus. O significado destas palavras é que os participantes do pão devem ser, igualmente, participantes do corpo. “Assim, quando uma pessoa come o seu próprio pão, a promessa, neste caso, não se efetiva”, diz Calvino.

Nenhum crente, por mais piedoso que seja, está autorizado a celebrar a sua própria Santa Ceia, como se não dependesse da Igreja. Não é dada a cada crente a liberdade de oficiar nenhum dos sacramentos. Eles devem ser administrados pela Igreja constituída, através de seus ministros legitimamente ordenados, e não pelos crentes em particular. De acordo com a Confissão de Fé de Westminster, os sacramentos foram instituídos “para fazer uma diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o resto do mundo, e solenemente obrigá-los ao serviço de Deus em Cristo, segundo a sua palavra”. Se as pessoas puderem celebrar a Santa Ceia quando quiserem em suas próprias casas, estaria excluída qualquer possibilidade de distinção.

Celebrar a Santa Ceia de maneira individualizada, além de ser uma desobediência à ordenança de Cristo e não produzir efeito algum, é um desmerecimento da Igreja como Corpo de Cristo. A caminhada cristã exige a convivência comunitária. A experiência de comunidade é imprescindível à formação e fortalecimento da maturidade cristã. Abrir mão disto é negar a história escrita pelos apóstolos sob a orientação e a bênção de Cristo, o Senhor da Igreja. Ser igreja individualmente não exclui a necessidade de ser igreja em comunidade. Deixar a congregação para viver uma fé individualista é errar contra as Escrituras que exortam: “Não deixemos de congregar-nos” (Hb 10. 25).

A igreja é uma comunidade de discípulos que vivem em sujeição mútua. O verdadeiro discipulado tem efeito e significado na experiência comunitária. Na cruz Jesus operou o milagre da graça a fim de vivermos comunitariamente a experiência de ser igreja. É um grande privilégio e uma grata satisfação poder reunir-nos, como Igreja, a fim de celebrarmos juntos a Ceia do Senhor, e proclamarmos, como um só corpo, a sua morte e ressurreição. Qualquer prática que elimine a necessidade da experiência comunitária não poderá ser considerada como celebração da Ceia do Senhor. Que me desculpem as irmãs mencionadas no início do artigo, mas o que elas celebraram não foi, de maneira alguma, o sacramento instituído por Cristo.

Um comentário:

Anônimo disse...

SOU UM CRISTÃO EM CRISTO, NÃO FAÇO PARTE DE INSTITUIÇÃO RELIGIOSA NENHUMA , A CEIA DO SENHOR É UM ATO QUE ESSAS IGREJAS FAZEM TUDO ERRADO, POIS A PALAVRA DE ORDENANÇÃO DADA POR JESUS AOS DISCIPULOS E A PAULO QUE DIZ 1 COR. 11;17 Entretanto, nisto que lhes vou dizer não os elogio, pois as reuniões de vocês mais fazem mal do que bem. 18 Em primeiro lugar, ouço que, quando vocês se reúnem como igreja, há divisões entre vocês, e até certo ponto eu o creio. 19 Pois é necessário que haja divergências entre vocês, para que sejam conhecidos quais dentre vocês são aprovados. Mt 18:7; Lc 17:1; At 20:30; 1Jo 2:19; ,IGREJA É O SER HUMANO, SE DEIXAR IR POR PALAVRAS DE CONGREGAÇÕES MUITAS VEZES MATA O CRENTE.POR MUITOS MOTIVOS, A PALAVRA DIZ, JULGUE O HOMEM A SI MESMO,MAS ISSO NÃO ACONTECE,POR ESSAS E OUTRAS, LEIS HUMANAS , QUE HOJE SIRVO A DEUS EM UM GRUPO SEM "IGREJA ", DEUS ABENÇOE A TODOS.