quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O QUE A PREDESTINAÇÃO FAZ COM O EVANGELISMO?

Por R.C. Sproul

Esta pergunta levanta graves preocupações a respeito da missão da Igreja. É particularmente pesada para cristãos evangélicos. Se a salvação pessoal é decidida anteriormente, por um imutável decreto divino, qual é o sentido ou urgência do trabalho de evangelismo?

Nunca me esquecerei da terrível experiência de ser interrogado neste ponto pelo Dr. John Gerstner numa aula de seminário. Havia cerca de vinte de nós sentados em semicírculo numa sala de aula. Ele formulou a pergunta: “Muito bem, cavalheiros, se Deus soberanamente decretou a eleição e a reprovação desde toda a eternidade, por que estaríamos preocupados a respeito do evangelismo?”

Dei um suspiro de alívio quando Gerstner começou seu interrogatório pela ponta esquerda do semicírculo, uma vez que eu estava sentado na última cadeira à direita. Confortei-me com a esperança de que a pergunta nunca chegaria perto de mim.

O conforto foi de curta duração. O primeiro aluno replicou à pergunta de Gerstner: “Não sei, senhor. Essa pergunta sempre me perturbou”. O segundo estudante disse: “Desisto”. O terceiro estudante somente moveu a cabeça e baixou seu olhar para o chão. Em rápida sucessão, os estudantes todos passaram adiante a questão. Os dominós estavam caindo em minha direção.

“Bem, Sr. Sproul, como você responderia?” Eu queria desaparecer no ar, ou encontrar um lugar para me esconder nas tábuas do chão, mas não havia escapatória. Hesitei e balbuciei uma resposta. O Dr. Gerstner disse: “Fale!” Tentando me exprimir, eu disse: “Bem, Dr. Gerstner, sei que esta não é a resposta que o senhor está procurando, mas uma pequena razão pela qual devemos ainda estar preocupados com o evangelismo é que, bem, o senhor sabe, apesar de tudo, Jesus nos ordena que evangelizemos."

Os olhos de Gerstner começaram a inflamar-se. Ele disse: “Ah, entendo, Sr. Sproul! Uma pequena razão é que o seu Salvador, o Senhor da Glória, o Rei dos reis, ordenou isso. Uma pequena razão, Sr. Sproul? É quase insignificante para você que o mesmo Deus soberano, que soberanamente decreta sua eleição, também ordena soberanamente seu envolvimento na tarefa do evangelismo?” Como eu desejaria nunca ter usado a palavra pequena! Entendi o ponto de Gerstner.

Evangelismo é nosso dever. Deus ordenou. Isso deveria ser suficiente para encerrar a questão. Mas há mais. Evangelismo não é somente um dever; é também um privilégio. Deus nos permite participar da maior obra da história humana, a obra da redenção. Ouça o que Paulo diz sobre isso. Ele acrescenta o capítulo 10 ao seu famoso capítulo 9 de Romanos.

“Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão se não há quem pregue? E como pregarão se não foram enviados? Como está escrito: Quão formosos sãos os pés dos que anunciam coisas boas!” (Rm 10.13-15).

Notamos a lógica da progressão de Paulo aqui. Ele lista uma série de condições necessárias para as pessoas serem salvas. Sem que se enviem, não há pregadores. Sem pregadores, não há pregação. Sem pregação, ninguém ouve o Evangelho. Sem ouvir o Evangelho, ninguém crê no Evangelho. Sem crer no Evangelho, ninguém invocará a Deus por salvação. Sem invocar a Deus por salvação, não há salvação.

Deus não somente preordena o fim da salvação para os eleitos, Ele também preordena o meio para aquele fim. Deus escolheu a loucura da pregação como o meio para obter a redenção. Suponho que Ele poderia ter estabelecido seu propósito divino sem nós. Ele poderia ter publicado seu Evangelho nas nuvens, usando seu santo dedo para escrever no céu. Poderia, Ele mesmo, pregar o Evangelho, com sua própria voz, gritando do céu. Mas essa não é sua escolha.

É um privilégio maravilhoso ser usado por Deus em seu plano de redenção. Paulo apela para uma passagem do Antigo Testamento, em que fala da beleza dos pés que trazem boas-novas e publicam a paz.

“Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina! Eis o grito dos teus atalaias! Eles erguem a voz, juntamente exultam; porque com seus próprios olhos distintamente vêem o retorno do Senhor a Sião. Rompei em júbilo, exultai a uma, ó ruínas de Jerusalém; porque o Senhor consolou o seu povo, remiu a Jerusalém”. (Is 52.7-9).

No mundo antigo, noticias de batalhas e outros acontecimentos cruciais eram levados por corredores. A maratona moderna deve seu nome à Batalha de Maratona, por causa da resistência do mensageiro que levou as notícias do resultado para seu povo, na cidade natal.

Vigias eram colocados para observar os mensageiros que se aproximavam. Seus olhos eram aguçados e treinados para distinguir as sutis nuanças dos passos dos corredores que se aproximavam. Os que traziam más noticias aproximavam-se com pés pesados. Os corredores que traziam boas notícias aproximavam-se velozmente, com pés ligeiros na areia. Seus passos revelavam sua excitação. Para o vigia, a visão de um corredor aproximando-se a distância com seus pés voando sobre as montanhas era uma visão esplêndida de se contemplar.

Assim, a Bíblia nos fala da beleza dos pés daqueles que nos trazem as boas-novas. Quando minha filha nasceu, e o médico veio até a sala de espera para anunciar, eu queria abraçá-lo. Somos favoravelmente inclinados àqueles que nos trazem boas noticias. Sempre terei um lugar especial nas minhas afeições para o homem que primeiro me falou de Cristo. Eu sei que foi Deus quem me salvou, e não aquele homem, mas ainda assim aprecio o papel daquele homem na minha salvação.

Levar pessoas a Cristo é uma das maiores bênçãos pessoais que desfrutamos. Ser um calvinista não tira a alegria dessa experiência. Historicamente, os calvinistas têm sido fortemente ativos no evangelismo e nas missões mundiais. Temos somente que mencionar Edwards e Whitefield e o Grande Avivamento para ilustrar este ponto.

Temos um papel significativo a desempenhar no evangelismo. Pregamos e proclamamos o Evangelho. Esse é nosso dever e nosso privilégio. Mas é Deus quem traz o crescimento. Ele não precisa de nós para cumprir seu propósito, mas Ele se agrada de nos usar nessa tarefa.

Uma vez encontrei um evangelista viajante que me disse: “Dê-me um homem sozinho por quinze minutos, e eu conseguirei uma decisão por Cristo.” Tristemente, o homem cria realmente em suas próprias palavras. Ele estava convencido de que o poder da conversão estava somente em seus poderes de persuasão.

Não duvido de que o homem estava baseando sua alegação em seu registro do passado. Ele era tão arrogante que estou certo de que houve multidões que fizeram decisão por Cristo nos quinze minutos que ficaram sozinhos com ele. É claro, ele podia cumprir sua promessa de produzir uma decisão em quinze minutos. O que ele não podia garantir era uma conversão em quinze minutos. As pessoas faziam decisão só para ficarem livres dele.

Nunca devemos subestimar a importância de nosso papel no evangelismo. Também não podemos superestimá-lo. Nós pregamos. Damos testemunho. Fornecemos o chamado exterior. Mas só Deus tem o poder de chamar uma pessoa para si mesmo interiormente. Não me sinto traído por isso. Ao contrário, sinto-me confortado. Precisamos fazer nosso trabalho confiando que Deus fará o dele.

Fonte: Monergismo

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O TRONO DIANTE DO FAUSTÃO

A trupe do Diante do Trono, finalmente, chegou aonde queria: apresentou-se no Domingão do Faustão. Pode parecer uma triste ironia, mas um dos programas mais inúteis da TV brasileira tornou-se a glória para os assim chamados “artistas gospel”. Todos querem cantar no Domingão. É o clímax da carreira. Passar pela carreira gospel e não cantar no Faustão é como ir a Roma e não conhecer o Papa.

A quem interessa a ida de “artistas evangélicos” ao Domingão do Faustão? A mim, confesso, que não interessa nem um pouco. Não assisto ao programa do Faustão, nem passaria a assistir só porque ele leva, eventualmente, uma trupe de artistas crentes ao seu palco. Até porque, não vejo nada de útil à igreja e ao evangelho nesse tipo de exibicionismo.

Para muitos foi a grande oportunidade do Diante do Trono falar a milhões de pessoas sobre o evangelho e tal. Mas eu creio que o Faustão é que teve uma grande oportunidade de falar a milhões de evangélicos a sua mensagem mundana, pluralista e liberal. Assim disse o apresentador: “Na verdade, um dos segredos, senão o maior segredo do Brasil, é essa convivência de várias raças, é um dos grandes segredos desse país, que é muito difícil você encontrar em outro país. O segredo de todas as raças, essa convivência de imigrantes, de estrangeiros com brasileiros. Tá na hora de haver também, por parte das pessoas, cada um de nós, o preconceito de lado. Cada um tem o direito de escolher a religião que quiser, o time de futebol que quiser, a opção sexual que quiser”.

Ao que respondeu a "artista" Ana Paula Valadão: “Eu concordo. A gente tem que respeitar o outro e a gente tem que viver aquilo que a gente acredita”. Como assim “eu concordo”, Ana Paula? Você concorda com o que? Como assim “a gente tem que viver aquilo que a gente acredita”? Então cada um pode acreditar no que quiser e está tudo bem?

O problema é que a Ana Paula foi ali como "artista", explicar como se sentia sendo a líder do “maior ministério de louvor da América Latina”, falar sobre a maravilha que é a sua igreja, falar sobre o show realizado em Barretos que foi “o maior evento evangélico” realizado na arena de rodeio da cidade, com a presença de mais de 80 mil pessoas; enfim, ela foi àquele palco falar das grandezas do Ministério Diante do Trono, não das pequenezas do Evangelho.

A presença de “artistas” gospel em programas populares rende muito às emissoras e aos próprios artistas; mas, em minha opinião, rende nada ao evangelho. O Evangelho não precisa de palcos mundanos para mostrar a sua identidade, nem Deus precisa de homens como o Faustão para ser honrado.

Ana Paula Valadão saiu ovacionada do palco, o Faustão ganhou mais audiência, a Som Livre vendeu mais CDs, o Diante do Trono vai ganhar mais dinheiro com isto e muitos daqueles que acreditam que “podem escolher a religião que quiserem e a opção sexual que quiserem” terminaram aquele domingo ainda mais satisfeitos com suas escolhas, afinal, se até a Ana Paula Valadão diz que concorda, quem dirá o contrário?

Bom, o Evangelho diz, mas nenhum "artista gospel" vai ao Faustão para ficar perdendo tempo pregando o Evangelho, não é verdade?

Agnaldo Silva Mariano