quarta-feira, 23 de junho de 2010

TIPOS INÚTEIS DE FÉ

Texto de J. C. Ryle

Existem dois meios pelos quais um homem pode perder sua alma. Quais são eles? Ele pode perdê-la por viver e morrer sem nenhuma fé. Ele pode viver e morrer como um animal, ímpio, ateisticamente, sem a graça e incrédulo. Este é um caminho seguro para o inferno. Cuidado para não andar por ele. Ele pode perder sua alma por aceitar determinado tipo de fé. Ele pode viver e morrer contentando-se com um cristianismo falso e descansando numa esperança sem fundamento. Este é o caminho mais comum que existe para o inferno. O que quero dizer com fé inútil?

Em primeiro lugar, uma fé é totalmente inútil quando Jesus Cristo não é o principal objeto e não ocupa o lugar principal. Existem portanto, muitos homens e mulheres batizados que praticamente nada sabem sobre Cristo. A fé deles consiste em algumas noções vagas e expressões vazias. “Mas eles crêem, não são piores que outros; eles se mantêm na igreja, tentam fazer suas obrigações; não prejudicam a ninguém; esperam que Deus seja misericordioso para com eles! Eles confiam que o Poderoso perdoará seus pecados e os levará para o céu quando morrerem”. Isto é quase a totalidade da sua fé. Mas o que estas pessoas sabem de fato sobre Cristo? Nada! Nada mesmo!

Que relação experiencial eles têm com Seus ofícios e obra, Seu sangue, Sua justiça, Sua mediação, Seu sacerdócio, Sua intercessão? Nenhuma! Nenhuma mesmo! Pergunte-lhes sobre a fé salvífica; pergunte-lhes sobre nascer de novo do Espírito; pergunte-lhes sobre ser santificado em Cristo Jesus. Que resposta você terá? Você é um bárbaro para eles. Você lhes perguntou questões bíblicas simples, mas eles não sabem mais sobre elas, experimentalmente, do que um budista ou um mulçumano. E mesmo assim, esta é a fé de centenas de milhares de pessoas por todo mundo que são chamadas de cristãs.

Se você é um homem deste tipo, eu o advirto claramente que tal cristianismo nunca o levará para o céu. Ele pode fazer muito bem aos olhos dos homens; pode ser aprovado no conselho da igreja, no escritório, no parlamento inglês ou nas ruas, mas ele nunca o confortará; nunca satisfará sua consciência; nunca salvará sua alma.

Eu o advirto claramente, que todas as noções e teorias sobre Deus ser misericordioso sem Cristo são ilusões sem fundamento e imaginações vãs. Tais teorias são puramente ídolos da invenção humana, tanto quanto os ídolos hindus. Elas são todas da terra, terrestres; nunca desceram do céu. O Deus do céu selou e nomeou Cristo como o único Salvador e caminho para a vida e todos que quiserem ser salvos devem satisfazer-se em serem salvos por Ele, do contrário, de forma alguma serão salvos.

Eu lhe dou um aviso legítimo: Uma fé sem Cristo nunca salvará sua alma. Mas eu ainda tenho outra coisa a dizer. Uma fé é inteiramente inútil quando se une qualquer coisa a Cristo com respeito a salvação da sua alma. Você não deve somente depender de Cristo para salvação, mas deve depender de Cristo somente e exclusivamente de Cristo.

Existem multidões de homens e mulheres batizados que professam honrar a Cristo, mas na realidade O desonram grandemente. Eles dão a Cristo um certo lugar no seu sistema religioso, mas não o lugar que Deus tencionou que Ele ocupasse. Cristo, exclusivamente, não é “tudo em todos” para suas almas. Não!

É Cristo e a igreja; ou Cristo e os sacramentos; ou Cristo e Seus ministros ordenados; ou Cristo e a bondade deles; ou Cristo e suas orações; ou Cristo e a sinceridade e caridade deles, nas quais eles realmente descansam suas almas.

Se você é um cristão deste tipo, eu também o advirto claramente que sua fé é uma ofensa a Deus. Você está mudando o plano de salvação de Deus em um plano da sua própria invenção. De fato você está depondo Cristo do seu trono, dando a glória que Lhe é devida a outro.

Eu não me importo quem lhe ensina sua fé, cuja palavra você confia. Se ele é papa ou cardeal, arcebispo ou bispo, diácono ou presbítero, episcopal ou presbiteriano, batista, independente ou metodista; quem quer que acrescente alguma coisa a Cristo, está ensinando incorretamente. Eu não me preocupo com o que você está juntando a Cristo. Se é a necessidade de unir-se a igreja de Roma, ou de ser um episcopal, ou um sacerdote independente, ou desistir da liturgia, ou de ser batizado por imersão. O que quer que seja que você acrescente a Cristo no que se refere a salvação, você ofende a Cristo.


Atente para o que você está fazendo. Cuidado para não dar aos servos de Cristo a honra devida a ninguém, além de Cristo. Cuidado para não dar às ordenanças a honra devida ao Senhor. Cuidado para não descansar o fardo de sua alma em coisa alguma a não ser Cristo e Cristo exclusivamente. Cuidado para não ter uma fé que seja inútil e que não pode salvar.


É horrível não ter nenhuma fé. Ter uma alma imortal confiada ao seu cuidado e negligenciá-la, é terrível. Porém, não menos terrível, é estar contente com uma fé que não lhe pode fazer nenhum bem.


Não permita que esse seja seu caso.

terça-feira, 8 de junho de 2010

HAVERÁ SEMPRE, SOBRE A TERRA, TRAÇOS DA VERDADEIRA IGREJA.

Há muitos equívocos na igreja evangélica do nosso tempo. Há equívocos doutrinários, litúrgicos, comportamentais e organizacionais. Há pecados; há vaidades; há soberba; há charlatães e charlatanismos; há mercenários; há espetáculos e esquisitices; há engodos e quimeras.

Há superstições e crendices sob um disfarce de fé; há exploradores disfarçados de pastores; há bodes disfarçados de ovelhas; há incrédulos disfarçados de crentes; há espiritismo e feitiçaria disfarçados de evangelho; há gritos e esquizofrenia disfarçados de adoração; há histeria e maluquices disfarçadas de poder; há emocionalismo disfarçado de piedade; há apóstolos demais, experiências demais, muito sopro, muito choro, muita marcha, muito barulho e pouco testemunho.

A igreja evangélica do nosso tempo não vende indulgências como a igreja da Idade Média; mas vende bênçãos terrenas, vende a pregação em forma de dvd; vende a cura, vende unção, vende prosperidade, vende a ilusão de um evangelho fácil, de um caminho largo e de uma fé sem exigências.

Na igreja evangélica do nosso tempo não há santos de barro, mas há os ícones de carne e osso; não há sacerdotes nominais, mas há os que se comportam como tais, arrogando para si mesmos o direito de abrir e fechar portas, dar e tirar bênçãos, ligar e desligar a conexão entre os iludidos fiéis e Deus, pois acreditam (ou fazem os incautos acreditarem) que Deus está a seu comando. São mestres segundo o seu próprio entendimento, que distribuem bugigangas supostamente ungidas, determinam em nome de Deus e até oram em seu próprio nome.

Na igreja evangélica do nosso tempo o véu que Jesus rasgou com sua morte está sendo recosturado. A arca que Deus fez desaparecer está sendo levada nos ombros de falsos levitas. O Israel que Deus ampliou com a graça está sendo novamente reduzido por meio de uma falsa esperança no renascimento da antiga raça eleita. Para a igreja evangélica do nosso tempo, Jerusalém continua sendo um lugar privilegiado, para onde são levados pedidos de oração e peças de roupas; e de onde se traz areia, sal, água, perfume e óleos ficticiamente mais abençoados do que os de quaisquer outras partes do mundo.

A igreja evangélica do nosso tempo, às vezes, pouco se parece com a Igreja bíblica. Mas, ainda é possível perceber em nosso tempo traços da verdadeira Igreja de Cristo. Os reformadores do século XVI conviveram com uma igreja cheia de equívocos e desgastada pelas crendices e superstições humanas, devastada pelas falsas e enganadoras interpretações das Escrituras e outros vícios degradantes. Mas mesmo assim, afirmaram a crença de que a verdadeira Igreja Universal poderia existir, ainda que sob os escombros da igreja do seu tempo. O mesmo pode ser crido em nossa época.

Assim criam e confessavam os reformadores. Neles se inspiraram os membros da Assembléia de Westminster ao escrever: “Esta Igreja Católica tem sido ora mais, ora menos visível. As igrejas particulares, que são membros dela são mais ou menos puras conforme nelas é, com mais ou menos pureza, ensinado e abraçado o Evangelho, administradas as ordenanças e celebrado o culto público. As igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro; algumas têm-se degenerado ao ponto de não mais serem igrejas de Cristo, mas sinagogas de Satanás; não obstante, haverá sempre sobre a terra uma igreja para adorar a Deus segundo a vontade dele mesmo” (A Confissão de Fé de Westminster. XXV; IV, V).

Sim, haverá sempre uma igreja que representará a verdadeira Igreja de Cristo. Haverá sempre traços da verdadeira Noiva do Cordeiro. Assim creio; assim confesso; assim me conforto.

Agnaldo Silva Mariano

quarta-feira, 2 de junho de 2010

"SIM, SENHOR!"

Há ocasiões na vida que surgem lições capazes de nos fazer refletir e reconsiderar atitudes e posturas. Geralmente isso ocorre quando ouvimos determinadas pregações, ou lemos um texto bíblico; ou, ainda, quando lemos um bom livro. Há outras ocasiões em que isto ocorre em uma simples conversa com um amigo ou ouvindo o depoimento de alguém conhecido. Mas há momentos em que, de onde menos se espera, despontam ensinamentos capazes de não apenas nos surpreender, mas de também nos levar á reflexão, e, por que não dizer, a mudanças de atitudes. Foi o que aconteceu comigo há alguns dias atrás assistindo o filme “Sim Senhor!”.

Não esperava gostar tanto de um filme protagonizado por Jim Carrey. Sinceramente, não sou muito fã do desempenho dele como ator. Mas o filme “Sim Senhor!” é uma preciosidade.

No filme, Jim Carrey é um camarada mal-humorado, que se incomoda com um telefonema, que detesta uma visita inesperada, que não aceita nenhum panfleto de propaganda na rua, nem dá gorjeta para o flanelinha. É um chato de galocha. Empregado de uma financeira, Carl Allem, nome do personagem de Carrey, habituou-se a dizer “não” a todo mundo. Sua vida se resumia ao “não”. Era a resposta mais simples para escapar dos inconvenientes e despistar-se dos amigos e colegas de trabalho do tipo malas sem alça. Até que Carl encontra-se com um amigo que lhe recomenda participar de uma reunião com um guru de auto-ajuda, que desenvolveu um programa, cujo método simples consistia em dizer “Sim” a qualquer coisa que lhe acontecesse ou que lhe oferecessem. Carl topou participar do programa. O primeiro “Sim” foi dado a um mendigo que lhe pediu carona. Foi aí que a sua vida começou a mudar.

Não vou contar o filme aqui. Nem quero dizer que esse tipo programa daria cem por cento certo na vida real; afinal, não dá para dizer “Sim” a tudo e a todos. Guardadas todas as devidas considerações, é possível dizer que funciona. Na verdade, o próprio filme mostra que o segredo não é dizer “Sim” a tudo, mas ao que realmente merece.  É possível encontrar no filme uma grande lição.

A vida tem tudo para ser agradável e prazerosa. Mas a gente tem a grande tendência de dificultar as coisas. O mau-humor e a lamentação roubam o prazer e a beleza da nossa existência. Nossa falta de paciência afasta as pessoas de nós. Nossos gestos arrogantes e palavras grosseiras estragam amizades e prejudicam nosso convívio familiar. Somos impacientes no trânsito; tratamos mal as pessoas no trabalho; irritamos facilmente com os familiares; ignoramos com desdém quem nos oferece um folheto na rua; esquecemos de agradecer quem nos atende na lanchonete; fingimos não ouvir o celular para não atender um amigo; fingimos estar ocupados para não ir a uma festa de aniversário; enfim, passamos a maior parte da vida dizendo “Não” para escapar das pessoas. Até que um dia chegamos à conclusão de que não temos amigos, de que ninguém visita a nossa casa, de que ninguém se lembra do nosso aniversário ou de que estamos envelhecendo e a vida passou sem sentirmos prazer nela.

O segredo talvez não seja dizer “Sim” a todos. Mas pode estar em dizer “Sim” mais vezes. O segredo pode estar em uma atitude mais simpática, em ser mais gentil, mais paciente, mais humano. O segredo para viver uma vida com mais alegria pode estar em gestos simples, mas que podem ser capazes de surpreender e se tornar inesquecíveis. O segredo pode estar em um “Muito obrigado”, em um simples “Bom dia”, em um sincero “Por favor” ou, quem sabe, em um sorriso, ou em um apaixonado “Eu te amo”; ou, quem sabe, em um simples “Sim Senhor!” para quem pede uma carona; ou para quem pede uma informação; ou para quem deseja apenas entregar um panfleto de propaganda.

Gestos simples são capazes de mudar a vida de quem faz e de quem recebe. Se tivéssemos mais cuidado com as pessoas, mais respeito e mais paciência, se fôssemos mais gentis, talvez passaríamos menos tempo reclamando da vida; talvez teríamos mais amigos; talvez fôssemos mais felizes. Estou tentando. E confesso: funciona, "sim, senhor"!

Agnaldo Silva Mariano