sexta-feira, 21 de outubro de 2011

JUSTIÇA OU VINGANÇA? É NECESSÁRIO QUE SE FAÇA A DIFERENÇA

Muammar Kadafi, um senhor de quase 70 anos, era um coronel que passou 42 anos no poder na Líbia, um país com pouco mais de 6 milhões de habitantes, que fica ao norte da África. Sua ascensão à condição de chefe da nação Líbia aconteceu em 1969, quando tinha 27 anos, e o coronel se tornou o líder com maior tempo no poder em todo o chamado mundo árabe.

No início deste ano estourou na Líbia uma onda de protestos contra o regime de Muammar Kadafi que obrigou o ditador a se afastar do poder e refugiar-se após os rebeldes ocuparem a capital do país. Daí em diante o que se seguiu foi uma caçada insana a Muammar Kadafi e a seus parentes e aliados, que culminou com a sua morte  na data de 20 de outubro de 2011.

É certo que Muammar Kadafi não era nenhum santo. Aliás, que ditador poderia ser considerado um santo? Todos são iguais, seja na vaidade, no orgulho, na prepotência ou, na maioria das vezes, na crueldade. Ditadores são, em geral, responsáveis por atrocidades inimagináveis. Kadafi, por exemplo, assumiu a autoria de um atentado contra um avião da companhia aérea PanAm em 1988, que matou 270 pessoas. Foi também acusado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade, tortura e crueldade. A Anistia Internacional também acusou Kadafi por violações contra os direitos humanos, torturas, desaparecimentos e assassinatos de rebeldes.

O ex-presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan chamava Muammar Kadafi de “aquele cachorro louco do Oriente Médio”. Como tal, na concepção de Reagan e de muitos outros, como, por exemplo, as cinco enfermeiras búlgaras que passaram oito anos presas na Líbia, Kadafi teve o que mereceu. Uma das cinco enfermeiras disse, ao saber da morte do ex-ditador: “A notícia me deixou muito feliz. É uma punição. Um cachorro como ele merecia morrer como um cachorro".

As cenas da prisão e execução de Muammar Kadafi chocaram alguns e alegraram outros tantos pelo mundo a fora. Mas o mais impressionante que eu vi naquelas cenas foi a barbárie de que os homens são capazes quando deixados livres para exercer o que chamam de justiça própria. Assim como ocorreu com o anúncio da morte de Saddan Russein e Osama Bin Laden, o desejo de vingança confundiu-se com o anseio de justiça e um erro foi cometido para justificar outros erros.

O dicionário Aurélio define Justiça como: “Conformidade com o direito; a virtude de dar a cada um aquilo que é seu; a faculdade de julgar segundo o direito e melhor consciência”. Já a definição de vingança é: “Ato ou efeito de vingar (-se); desforço; desforra; vindita; punição, castigo”. São duas coisas bem diferentes, como se pode ver.

A justiça tem um valor universal. Ela é regida por alicerces, etiquetas e protocolos que, necessariamente, estão ligados a direitos universais. Quando a justiça é acionada, isto significa que um direito universal foi supostamente violado. Para garantir a recuperação do direito violado, a justiça precisa resguardar e manter os demais direitos, ainda que neste processo ela precise se manifestar em forma de punição. É nesse equilíbrio que a justiça se fundamenta.

Já a vingança não se fundamenta em valores universais nem tem um padrão objetivo como referência. A vingança é subjetiva, é abstrata; é um desejo, e para os desejos não há padrões nem ética que possam regê-los. O fundamento da vingança é a vontade pessoal e seu objetivo final é satisfação individual.


Justiça é, antes de tudo, fazer o que é correto, seguindo um padrão externo e absoluto. Vingança é fazer o que se acha correto, de acordo com um padrão pessoal, subjetivo e aleatório. Fazer justiça é competência daqueles que a sociedade qualificou para tal. Vingança é fazer “justiça com as próprias mãos” e, como tal, é uma transgressão, é uma usurpação de poder, é uma perversão. Nada tem a ver com o “olho por olho, dente por dente” visto na Bíblia.

O “olho por olho, dente por dente” nunca foi uma autorização para que qualquer pessoa, instituição ou nação indiscriminadamente se sentisse no direito de resolver à própria maneira as pendências com os seus contrários. Não era uma autorização à barbárie nem uma legitimação do direito de se fazer “justiça com as próprias mãos”, mas uma solene regulamentação, baseada em direitos e deveres absolutos, compartilhados pela sociedade israelita da antiga aliança, que somente poderia ser aplicada após um rito legítimo de apreciação e julgamento. Mesmo quando o povo de Deus se levantava contra seus inimigos e os punia, a mão que os feria era a mão da justiça divina, não o desejo próprio da nação de Israel.

Muammar Kadafi não era um exemplo de bondade e misericórdia para com seus desafetos, é bem verdade. Sua deposição da condição de chefe de Estado foi um marco e sua prisão era necessária por causa dos crimes que cometeu. Mas creio que nada justifica a selvageria que culminou com sua morte. A máxima do “com efeito, um erro não justifica o outro” se aplica perfeitamente aqui. Ainda que coroados pela sensação de dever cumprido e legitimados pelo alívio nacional e pela conivência internacional, os rebeldes líbios não fizeram justiça. Fizeram vingança. Os crimes de Kadafi não foram punidos, pois ele não foi corretamente julgado e sentenciado por um tribunal legítimo. E as nações que consentiram com a forma brutal como ele foi morto são cúmplices com esse descaso para com a ética e os direitos universais, tanto quanto os aliados de Kadafi o eram com suas loucuras e atrocidades. Ao fazer justiça com as próprias mãos, o povo líbio não puniu um criminoso, mas suscitou um mártir. O que era ruim pode ter ficado pior.

Alguém disse que “A justiça é a vingança do homem em sociedade, como a vingança é a justiça do homem em estado selvagem”. Fazer a diferenciação entre justiça e vingança não é apenas tarefa do dicionário. É tarefa da sociedade civilizada, a fim de que o caos não triunfe, para que os direitos universais não sejam vilipendiados, e o mundo não se torne uma selva.

Agnaldo Silva Mariano

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

NADA MAIS DO QUE AQUILO QUE DEUS ACHOU POR BEM REVELAR

Não precisamos de nada mais do que aquilo que Deus achou por bem revelar. Certos espíritos errantes nunca estão em casa até que estejam viajando pelo exterior: têm fome de algo que nunca encontrarão "no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra" (Êx 20.4) enquanto tiverem o pensamento que têm agora. Nunca descansam, porque não querem ter nada que ver com uma revelação infalível, por isso, eles estão fadados a perambular através do tempo e da eternidade e a não encontrar nenhuma cidade em que possam descansar. Pois, no momento, eles se gloriam como se satisfeitos com seu último brinquedo novo, mas em poucos meses o esporte deles será quebrar em pedaços todas as noções que anteriormente prepararam com cuidado e exibiram com deleite. Sobem um morro apenas para descê-lo de novo. De fato, dizem que a busca da verdade é melhor do que a própria verdade. Gostam de pescar mais do que do peixe; o que pode bem ser verdade, visto que seus peixes são muito pequenos e cheios de ossos.

Esses homens são tão profícuos em destruir suas teorias, como certos indigentes em esfarrapar suas roupas. Mais uma vez começam de novo, vezes sem conta; sua casa está sempre com os alicerces expostos. Devem ser bons em inícios, pois desde que os conhecemos sempre estão começando. São como aquilo que roda no redemoinho, ou "como o mar agitado, incapaz de sossegar e cujas águas expelem lama e lodo" (Is 57.20). Embora sua nuvem não seja aquela que indica a presença divina, contudo está sempre andando à frente deles e suas tendas nem estão bem armadas e já é tempo de levantar de novo as estacas. Esses homens nem mesmo procuram certeza; seu céu é evitar toda verdade fixa e seguir toda quimera de especulação; estão sempre aprendendo, mas nunca chegam ao conhecimento da verdade.

Quanto a nós, lançamos âncora no abrigo da Palavra de Deus. Eis aí nossa paz, nossa força, nossa vida, nosso motivo, nossa esperança, nossa felicidade. A Palavra de Deus é nosso ultimato. Aqui nós o temos. Nosso entendimento clama: "Encontrei"; nossa consciência afirma que aqui está a verdade; e nosso coração encontra aqui um suporte ao qual toda sua afeição pode se agarrar e, por isso, descansamos contentes.

Charles Haddon Spurgeon - Do livro: "Preparado para o combate da fé".

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

PERSEGUIÇÃO DA FÉ DOS OUTROS É REFRESCO OU INCENTIVO?

Há algumas semanas recebi um e-mail do Rev. Osni Ferreira, missionário Presbiteriano, informando sobre a situação do pastor Youcef Nadarkhani, preso no Irã e condenado à morte por abandonar o islamismo e se converter à fé cristã. Desde então, tenho levado informações referentes ao pastor Youcef à igreja e convocado os irmãos a orar em favor daquele pastor. No Brasil inteiro, várias igrejas se mobilizaram em oração, e ao redor do mundo, houve uma grande pressão em favor da libertação do pastor e da suspensão da pena de morte.

Na última semana, um novo e-mail que recebi do Rev. Osni informava a respeito da suspensão da pena de execução. A reação não poderia ser outra a não ser de alívio e gratidão a Deus pelo livramento concedido ao seu servo.

Ficou claro pelas informações repassadas a respeito do caso do pastor Youcef que ele não abriria mão da sua fé em hipótese alguma. O risco de ser executado não foi suficiente para fazê-lo abandonar a sua crença em Cristo. Sua firmeza e coragem serviram de exemplo a crentes do mundo inteiro, trazendo à memória as lembranças de outros grandes servos de Deus que não se intimidaram com ameaças e mantiveram firmes a esperança da vida eterna. Alguns desses servos acabaram mortos, e entraram para a galeria dos mártires e seu sangue, como afirmou Tertuliano, se tornou “a semente de novos cristãos”.

No entanto, há algo mais a ser considerado a respeito da situação do pastor Youcef Nadarkhani. A comoção de muitos crentes brasileiros, infelizmente, não significará nada daqui a alguns meses. Quando a poeira baixar, quando os noticiários e informações pela internet diminuírem, e o nome Youcef Nadarkhani desaparecer da chamada “memória declarativa” dos nossos crentes, pouca diferença terá feito toda a comoção hodierna em torno do fato.

A grande verdade é que é muito fácil ficarmos comovidos com a perseguição de crentes que estão distantes de nós, sofrendo torturas ou ameaças de morte em países muçulmanos ou comunistas. É fácil incentivar vigílias de oração, promover passeatas e outras mobilizações virtuais, e até mesmo elogiar a fé de quem está a milhares de quilômetros padecendo por ser crente. Difícil é entender que a situação de homens como Youcef Nadarkhani não é extraordinária no contexto cristão. Na verdade é o padrão, a regra, não a exceção para os que se declaram verdadeiros servos de Cristo e querem viver de maneira relevante a sua fé.

O apóstolo Paulo afirmou: “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus, serão perseguidos” (2 Tm 3. 12). Estaria o apóstolo se referindo apenas à sua época ou especificamente a contextos de perseguição oficial ao cristianismo? Ou seria este um princípio universal e atemporal?

É preciso entender que Paulo não se refere apenas às perseguições armadas e ameaças evidentes de morte. O apóstolo tem em mente todo tipo de desafio imposto àqueles que desejam viver piedosamente. Estes, nas palavras de William Hendriksen, são os que “fizeram uma resolução séria, com a ajuda e a graça de Deus, de viver uma vida de devoção a Cristo. Eles vivem em íntima comunhão com ele”. Hendriksen ainda diz que “a experiência de Paulo não é, de nenhum modo, peculiar. As cicatrizes são o preço que todo crente paga por sua lealdade a Cristo. Estas são também suas credenciais diante de Deus”. Portanto, ser perseguido por causa da fé em Cristo é a regra, não a exceção para os verdadeiros crentes.

As perseguições contra a fé cristã podem ser de diversas naturezas. No caso do pastor Youcef é de natureza governamental e religiosa. Mas há ainda as perseguições ideológicas, culturais, morais e tantas outras que qualquer crente piedoso pode sofrer em qualquer lugar do mundo, inclusive no Brasil, que é considerado um país livre. João Calvino diz que “Satanás possui mais de um método de perseguir os servos de Cristo. Mas é absolutamente necessário que todos eles suportem a hostilidade do mundo, de um modo ou de outro, a fim de que sua fé se exercite e sua constância se comprove. Satanás, que é o perpétuo inimigo de Cristo, jamais deixará que alguém viva sua vida sem algum distúrbio, e haverá sempre pessoas perversas a espinhar nossas ilhargas. De fato, tão pronto um crente mostre sinais de zelo por Deus, a ira de todos os ímpios se acende e, mesmo que não tenham suas espadas desembainhadas, arrojam seu veneno, ou criticando, ou caluniando, ou provocando distúrbio de um ou de outro modo”.

Elogiar a firmeza do pastor Youcef Nadarkhani é muito fácil. Orar por ele também é. Mas precisamos ir além dessa comoção momentânea e compreender os desafios que temos como crentes em nosso país, em nossas cidades, em nossos próprios contextos. É preciso entender que a mesma fidelidade demonstrada pelo pastor Youcef diante dos tribunais iranianos se espera de nós, crentes brasileiros, diante das pressões da cultura pecaminosa em que vivemos, diante das pressões do pluralismo religioso, do liberalismo teológico, do relativismo cultural, da tolerância à imoralidade, do convite à corrupção, entre outras ameaças tão graves quanto as sofridas pelo pastor iraniano. É urgente que entendamos o que Paulo disse a Timóteo, que todos que quiserem viver piedosamente em Cristo, seja onde e quando for, estarão sujeitos a sofrer perseguições. “Ainda que não sofram os mesmos ataques e não se envolvam nas mesmas batalhas, eles têm uma só guerra em comum e jamais viverão totalmente em paz isentos de perseguição”, diz Calvino.

A perseguição da fé de homens como Youcef Nadarkhani pode ser um bom refresco para crentes displicentes e despreocupados com a qualidade do seu compromisso com Cristo. Mas será um poderoso combustível aos que desejam levar a sua experiência com Deus a sério, e um incentivo a se tornarem ainda mais fervorosos. Afinal, se a perseguição é “um ingrediente inescapável da vocação cristã”, como afirmou o comentarista bíblico John Kelly, nenhum verdadeiro crente deveria se considerar isento de sofrê-la, a qualquer momento e em qualquer lugar.

Agnaldo Silva Mariano

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

PASTOR YOUSEF NÃO SERÁ EXECUTADO

Por: Rev. Osni Ferreira, missionário Presbiteriano

O governo Iraniano divulgou hoje (sexta-feira - 14/10/2011), que o Pr Yousef não corre mais risco de ser executado. Eles atacaram a mídia por dar muita repercussão ao caso. Segundo o laudo divulgado pelo governo Iraniano, as acusações direcionadas ao pastor não são suficientes para a execução. Uma nova audiência será marcada e o Pr Yousef será ouvido novamente, mas sem correr o perigo de ser executado, afirmam as autoridades do país. Vamos juntos louvar a Deus por esse livramento, mas continuemos com nossas orações em favor dessa nova audiência. Agradecemos suas intercessões em favor desse amado irmão nosso.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

27ª CONFERÊNCIA FIEL PARA PASTORES E LÍDERES

Para aqueles que, como eu, não puderam ir a Águas de Lindóia assistir à Conferência Fiel para Pastores e Líderes, segue o link para assistir às palestras ao vivo. O tema da Conferência deste ano é: "Evangelização & Missões - Proclamando o Evangelho para a Alegria das Nações". Uma imensa  riqueza biblica e teológica disponível aos que se interessam pela boa exposição da Palavra de Deus.

O link para assistir às palestras online é: http://www.editorafiel.com.br/aovivo/.  Boa conferência a todos.

Programação: