sábado, 16 de abril de 2011

UMA TEOLOGIA DE CULTO

Por W. Robert Godfrey

A Bíblia usa a palavra “culto” de maneiras variadas. O culto pode se referir ao todo da vida (Rm 12. 1-2). Também pode se referir a várias formas de devoção pessoal ou informal (por exemplo, De 6. 4-9). De interesse particular para nós é culto como reunião oficial do povo da aliança para se encontrar com Deus (por exemplo, em At 2. 42; Hb 10. 25).

O culto do Corpo de Cristo é reunir-se com Deus. O Salmo 74. 8 fala dos locais de culto de Israel como “lugares santos de Deus na terra”: pontos de encontro com Deus. Mesmo antes da queda no Jardim do Éden o homem precisava de tempo concentrado com Deus. Como seres finitos, os humanos precisam de horas específicas e oportunidades para se focalizarem em Deus. Israel cultuava em volta de um tabernáculo que era conhecido como a Tenda da Congregação. Quando o templo foi construído, Israel se reuniu naquela casa de Deus para se encontrar com ele. Na nova aliança a reunião da comunidade cristã é uma reunião de Deus com o templo celeste – um tema desenvolvido, por exemplo, em Hebreus 10 e 12.

Esta reunião com Deus antecipa a comunhão eterna que Deus terá com seu povo num novo céu e nova terra. Todo o objetivo da salvação é que o relacionamento quebrado entre Deus e o homem possa ser vencido para que a verdadeira comunhão possa ser restaurada. A importância do culto é expressa admiravelmente nesta afirmação de Calvino: “Debater o modo em que os homens obtêm a salvação e dizer nada do modo em que Deus pode ser devidamente cultuado, é absurdo demais”.

Deus sempre levou seu culto muito a sério. Fala do seu culto não só no Segundo Mandamento, mas pelo menos implicitamente nos primeiros quatro dos Dez Mandamentos. Oferece sérias advertências sobre o culto em todos os Livros da Lei (por exemplo, em Dt 4). Traz penalidades duras sobre os que pervertem o seu culto (por exemplo, Lv 10 e 2 Cr 26). A mesma preocupação é vista claramente no Novo Testamento. O culto preocupa a Jesus e a Paulo. Hebreus 12. 28-29 resume bem essa preocupação: Retenhamos a graça [sejamos agradecidos]... [e] sirvamos a Deus de modo agradável [agradecido], com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor.

Do livro: Reforma Hoje.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

BOLSONARO E O FUZILAMENTO DA DIREITA

Não concordo com algumas partes do texto, mas serve como alerta. Leia e tire as suas conclusões:

Por Guilherme Fiuza, Revista ÉPOCA

NO BRASIL DE HOJE, COMO SE SABE, NINGUÉM é de direita. Ou melhor: a direita existe, mas é uma espécie de sujeito oculto, que só aparece para justificar os heróicos discursos da esquerda - eterna vítima dela. Lula governou oito anos, promoveu seus companheiros aos mais altos cargos e salários estatais, fez sua sucessora, e a esquerda continua oprimida pela elite burguesa. É de dar pena. Nessa doce ditadura dos coitados, é preciso cuidado com o que se fala. Os coitados são muito suscetíveis. Foi assim que o deputado federal Jair Bolsonaro foi parar no paredão.

Capitão eo Exército, Bolsonaro é filiado ao Partido Progressista, mas é uma espécie de reacionário assumido. Defende abertamente as bandeiras da direita - que, como dito acima, não existem mais. Portanto, Bolsonaro não existe. Mas fala - e esse é seu grande crime. Depois da polêmica entrevista do deputado ao CQC, da TV Bandeirantes, o líder do programa, Marcelo Tas, recebeu e-mails de telespectadores revoltados. Parte deles protestava contra o próprio Tas, por ter dado voz a Jair Bolsonaro. Na Constituição dos politicamente corretos - assim como nas militares -, liberdade de expressão tem limite.

A grande barbaridade dita por Bolsonaro no CQC, em resposta à cantora Preta Gil, foi que um filho seu não se casaria com uma negra, por não ser promíscuo. Uma declaração tão absurda que o próprio Marcelo Tas cogitou, em seguida, que o deputado não tivesse entendido a pergunta. Foi exatamente o que Bolsonaro afirmou no dia seguinte. Estava falando sobre homossexualismo e não percebeu que a questão era sobre racismo: “A resposta não bate com a pergunta”, disse o deputado.

Se Jair Bolsonaro é ou não é racista, não é essa polêmica que vai esclarecer. No CQC, pelo menos, ele não disparou deliberadamente contra os negros. Estava falando de promiscuidade, porque seu alvo era o homossexualismo. O conceito do deputado sobre os gays é, como a maioria de seus conceitos, reacionário. A pergunta é: por que ele não tem o direito de expressá-lo?

Bolsonaro nem sequer pregou a intolerância aos gays. Disse inclusive que eles são respeitados nas Forças Armadas. O que fez foi relacionar o homossexualismo aos “maus costumes”, dizendo que filhos com “boa educação” não se tornam gays. É um ponto de vista preconceituoso, além de tacanho, mas é o que ele pensa. Seria saudável que os gays, com seu humor crítico e habitualmente ferino, fossem proibidos de fustigar a truculência dos militares?

A entrevista também passou pelo tema das cotas raciais. Jair Bolsonaro declarou o seguinte: “Eu não entraria num avião pilotado por um cotista. Nem aceitaria ser operado por um médico cotista”.

É a resposta de um reacionário, um dinossauro da direita, prescrito pelas modernas ideologias progressistas e abominado por sua lealdade ao regime militar. Mas é uma boa resposta. E agora?

Agora o Brasil bonzinho vai fazer o de sempre: passar ao largo do debate e choramingar contra a direita. Eis um caminho de risco zero. Processar Bolsonaro, o vilão de plantão, é vida fácil para os burocratas do humanismo. No reinado do filho do Brasil, até o nosso Delúbio, com a boca na botija do mensalão, gritou que aquilo era uma conspiração da direita contra o governo popular. O filão é inesgotável.

Cutucar o conservadorismo destrambelhado de Bolsonaro é atração garantida. Mas censurá-lo em seguida não fica bem. Parece até coisa dos antepassados políticos dele. A metralhadora giratória do capitão dispara absurdos, mas não está calibrada para fazer média com as minorias - e isso é raro hoje em dia.

De mais a mais, se manifestantes negros podem tentar barrar um bloco carnavalesco que homenageia Monteiro Lobato, por que um deputado de direita não pode ser contra o orgulho gay e as cotas raciais? Vai ver o preconceito também virou monopólio da esquerda.

Fonte: Revista ÉPOCA (04 de abril de 2011), página 60.