quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O QUE A PREDESTINAÇÃO FAZ COM O EVANGELISMO?

Por R.C. Sproul

Esta pergunta levanta graves preocupações a respeito da missão da Igreja. É particularmente pesada para cristãos evangélicos. Se a salvação pessoal é decidida anteriormente, por um imutável decreto divino, qual é o sentido ou urgência do trabalho de evangelismo?

Nunca me esquecerei da terrível experiência de ser interrogado neste ponto pelo Dr. John Gerstner numa aula de seminário. Havia cerca de vinte de nós sentados em semicírculo numa sala de aula. Ele formulou a pergunta: “Muito bem, cavalheiros, se Deus soberanamente decretou a eleição e a reprovação desde toda a eternidade, por que estaríamos preocupados a respeito do evangelismo?”

Dei um suspiro de alívio quando Gerstner começou seu interrogatório pela ponta esquerda do semicírculo, uma vez que eu estava sentado na última cadeira à direita. Confortei-me com a esperança de que a pergunta nunca chegaria perto de mim.

O conforto foi de curta duração. O primeiro aluno replicou à pergunta de Gerstner: “Não sei, senhor. Essa pergunta sempre me perturbou”. O segundo estudante disse: “Desisto”. O terceiro estudante somente moveu a cabeça e baixou seu olhar para o chão. Em rápida sucessão, os estudantes todos passaram adiante a questão. Os dominós estavam caindo em minha direção.

“Bem, Sr. Sproul, como você responderia?” Eu queria desaparecer no ar, ou encontrar um lugar para me esconder nas tábuas do chão, mas não havia escapatória. Hesitei e balbuciei uma resposta. O Dr. Gerstner disse: “Fale!” Tentando me exprimir, eu disse: “Bem, Dr. Gerstner, sei que esta não é a resposta que o senhor está procurando, mas uma pequena razão pela qual devemos ainda estar preocupados com o evangelismo é que, bem, o senhor sabe, apesar de tudo, Jesus nos ordena que evangelizemos."

Os olhos de Gerstner começaram a inflamar-se. Ele disse: “Ah, entendo, Sr. Sproul! Uma pequena razão é que o seu Salvador, o Senhor da Glória, o Rei dos reis, ordenou isso. Uma pequena razão, Sr. Sproul? É quase insignificante para você que o mesmo Deus soberano, que soberanamente decreta sua eleição, também ordena soberanamente seu envolvimento na tarefa do evangelismo?” Como eu desejaria nunca ter usado a palavra pequena! Entendi o ponto de Gerstner.

Evangelismo é nosso dever. Deus ordenou. Isso deveria ser suficiente para encerrar a questão. Mas há mais. Evangelismo não é somente um dever; é também um privilégio. Deus nos permite participar da maior obra da história humana, a obra da redenção. Ouça o que Paulo diz sobre isso. Ele acrescenta o capítulo 10 ao seu famoso capítulo 9 de Romanos.

“Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão se não há quem pregue? E como pregarão se não foram enviados? Como está escrito: Quão formosos sãos os pés dos que anunciam coisas boas!” (Rm 10.13-15).

Notamos a lógica da progressão de Paulo aqui. Ele lista uma série de condições necessárias para as pessoas serem salvas. Sem que se enviem, não há pregadores. Sem pregadores, não há pregação. Sem pregação, ninguém ouve o Evangelho. Sem ouvir o Evangelho, ninguém crê no Evangelho. Sem crer no Evangelho, ninguém invocará a Deus por salvação. Sem invocar a Deus por salvação, não há salvação.

Deus não somente preordena o fim da salvação para os eleitos, Ele também preordena o meio para aquele fim. Deus escolheu a loucura da pregação como o meio para obter a redenção. Suponho que Ele poderia ter estabelecido seu propósito divino sem nós. Ele poderia ter publicado seu Evangelho nas nuvens, usando seu santo dedo para escrever no céu. Poderia, Ele mesmo, pregar o Evangelho, com sua própria voz, gritando do céu. Mas essa não é sua escolha.

É um privilégio maravilhoso ser usado por Deus em seu plano de redenção. Paulo apela para uma passagem do Antigo Testamento, em que fala da beleza dos pés que trazem boas-novas e publicam a paz.

“Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina! Eis o grito dos teus atalaias! Eles erguem a voz, juntamente exultam; porque com seus próprios olhos distintamente vêem o retorno do Senhor a Sião. Rompei em júbilo, exultai a uma, ó ruínas de Jerusalém; porque o Senhor consolou o seu povo, remiu a Jerusalém”. (Is 52.7-9).

No mundo antigo, noticias de batalhas e outros acontecimentos cruciais eram levados por corredores. A maratona moderna deve seu nome à Batalha de Maratona, por causa da resistência do mensageiro que levou as notícias do resultado para seu povo, na cidade natal.

Vigias eram colocados para observar os mensageiros que se aproximavam. Seus olhos eram aguçados e treinados para distinguir as sutis nuanças dos passos dos corredores que se aproximavam. Os que traziam más noticias aproximavam-se com pés pesados. Os corredores que traziam boas notícias aproximavam-se velozmente, com pés ligeiros na areia. Seus passos revelavam sua excitação. Para o vigia, a visão de um corredor aproximando-se a distância com seus pés voando sobre as montanhas era uma visão esplêndida de se contemplar.

Assim, a Bíblia nos fala da beleza dos pés daqueles que nos trazem as boas-novas. Quando minha filha nasceu, e o médico veio até a sala de espera para anunciar, eu queria abraçá-lo. Somos favoravelmente inclinados àqueles que nos trazem boas noticias. Sempre terei um lugar especial nas minhas afeições para o homem que primeiro me falou de Cristo. Eu sei que foi Deus quem me salvou, e não aquele homem, mas ainda assim aprecio o papel daquele homem na minha salvação.

Levar pessoas a Cristo é uma das maiores bênçãos pessoais que desfrutamos. Ser um calvinista não tira a alegria dessa experiência. Historicamente, os calvinistas têm sido fortemente ativos no evangelismo e nas missões mundiais. Temos somente que mencionar Edwards e Whitefield e o Grande Avivamento para ilustrar este ponto.

Temos um papel significativo a desempenhar no evangelismo. Pregamos e proclamamos o Evangelho. Esse é nosso dever e nosso privilégio. Mas é Deus quem traz o crescimento. Ele não precisa de nós para cumprir seu propósito, mas Ele se agrada de nos usar nessa tarefa.

Uma vez encontrei um evangelista viajante que me disse: “Dê-me um homem sozinho por quinze minutos, e eu conseguirei uma decisão por Cristo.” Tristemente, o homem cria realmente em suas próprias palavras. Ele estava convencido de que o poder da conversão estava somente em seus poderes de persuasão.

Não duvido de que o homem estava baseando sua alegação em seu registro do passado. Ele era tão arrogante que estou certo de que houve multidões que fizeram decisão por Cristo nos quinze minutos que ficaram sozinhos com ele. É claro, ele podia cumprir sua promessa de produzir uma decisão em quinze minutos. O que ele não podia garantir era uma conversão em quinze minutos. As pessoas faziam decisão só para ficarem livres dele.

Nunca devemos subestimar a importância de nosso papel no evangelismo. Também não podemos superestimá-lo. Nós pregamos. Damos testemunho. Fornecemos o chamado exterior. Mas só Deus tem o poder de chamar uma pessoa para si mesmo interiormente. Não me sinto traído por isso. Ao contrário, sinto-me confortado. Precisamos fazer nosso trabalho confiando que Deus fará o dele.

Fonte: Monergismo

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O TRONO DIANTE DO FAUSTÃO

A trupe do Diante do Trono, finalmente, chegou aonde queria: apresentou-se no Domingão do Faustão. Pode parecer uma triste ironia, mas um dos programas mais inúteis da TV brasileira tornou-se a glória para os assim chamados “artistas gospel”. Todos querem cantar no Domingão. É o clímax da carreira. Passar pela carreira gospel e não cantar no Faustão é como ir a Roma e não conhecer o Papa.

A quem interessa a ida de “artistas evangélicos” ao Domingão do Faustão? A mim, confesso, que não interessa nem um pouco. Não assisto ao programa do Faustão, nem passaria a assistir só porque ele leva, eventualmente, uma trupe de artistas crentes ao seu palco. Até porque, não vejo nada de útil à igreja e ao evangelho nesse tipo de exibicionismo.

Para muitos foi a grande oportunidade do Diante do Trono falar a milhões de pessoas sobre o evangelho e tal. Mas eu creio que o Faustão é que teve uma grande oportunidade de falar a milhões de evangélicos a sua mensagem mundana, pluralista e liberal. Assim disse o apresentador: “Na verdade, um dos segredos, senão o maior segredo do Brasil, é essa convivência de várias raças, é um dos grandes segredos desse país, que é muito difícil você encontrar em outro país. O segredo de todas as raças, essa convivência de imigrantes, de estrangeiros com brasileiros. Tá na hora de haver também, por parte das pessoas, cada um de nós, o preconceito de lado. Cada um tem o direito de escolher a religião que quiser, o time de futebol que quiser, a opção sexual que quiser”.

Ao que respondeu a "artista" Ana Paula Valadão: “Eu concordo. A gente tem que respeitar o outro e a gente tem que viver aquilo que a gente acredita”. Como assim “eu concordo”, Ana Paula? Você concorda com o que? Como assim “a gente tem que viver aquilo que a gente acredita”? Então cada um pode acreditar no que quiser e está tudo bem?

O problema é que a Ana Paula foi ali como "artista", explicar como se sentia sendo a líder do “maior ministério de louvor da América Latina”, falar sobre a maravilha que é a sua igreja, falar sobre o show realizado em Barretos que foi “o maior evento evangélico” realizado na arena de rodeio da cidade, com a presença de mais de 80 mil pessoas; enfim, ela foi àquele palco falar das grandezas do Ministério Diante do Trono, não das pequenezas do Evangelho.

A presença de “artistas” gospel em programas populares rende muito às emissoras e aos próprios artistas; mas, em minha opinião, rende nada ao evangelho. O Evangelho não precisa de palcos mundanos para mostrar a sua identidade, nem Deus precisa de homens como o Faustão para ser honrado.

Ana Paula Valadão saiu ovacionada do palco, o Faustão ganhou mais audiência, a Som Livre vendeu mais CDs, o Diante do Trono vai ganhar mais dinheiro com isto e muitos daqueles que acreditam que “podem escolher a religião que quiserem e a opção sexual que quiserem” terminaram aquele domingo ainda mais satisfeitos com suas escolhas, afinal, se até a Ana Paula Valadão diz que concorda, quem dirá o contrário?

Bom, o Evangelho diz, mas nenhum "artista gospel" vai ao Faustão para ficar perdendo tempo pregando o Evangelho, não é verdade?

Agnaldo Silva Mariano

domingo, 31 de outubro de 2010

UMA SOLENE CONVOCAÇÃO



A propósito dos 493 anos da Reforma Protestante.




"Convocamos a Igreja, em meio à nossa cultura agonizante, para se arrepender de seu mundanismo e confessar a verdade da Palavra de Deus como fizeram os Reformadores, e para ver essa verdade em sua doutrina, sua adoração e sua vida".




(Do livro Reforma Hoje - Editora Cultura Cristã)




O Blog CREIO E CONFESSO comemora hoje, 31/10/2010, três anos.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

PROVIDÊNCIAS EXTRAORDINÁRIAS OU MILAGRES

Por Louis Berkhof

Usualmente se faz distinção entre providentia ordinária e providentia extraordinária. Na primeira, Deus age por meio de causas secundárias em estrito acordo com as leis da natureza, embora possam variar os resultados, com diferentes combinações. Mas na última Ele age imediatamente ou sem a mediação de causa secundárias, em sua operação ordinária. Diz Mcpherson: “Milagre é uma coisa feita sem se recorrer aos meios ordinários de produção, um resultado produzido diretamente pela Causa Primeira, sem a mediação, pelo menos do modo habitual, das causas secundárias”. A coisa distintamente característica do feito miraculoso é que ele resulta do exercício do poder sobrenatural de Deus. E, naturalmente, isto significa que o referido feito não é ocasionado por causas secundárias que operam segundo as leis da natureza. Se fosse, não seria sobrenatural (acima da natureza), isto é, não seria milagre. Se Deus, na realização de um milagre, algumas vezes utilizou forças que estavam presentes na natureza, utilizou-as de maneira inteiramente distantes do ordinário, para produzir resultados não esperados pelo homem, e foi justamente isso que constitui o milagre. Todo milagre está acima da ordem estabelecida da natureza, mas podemos distinguir diferentes classes, conquanto não graus, de milagres. Há milagres que estão absolutamente acima da natureza, de modo que não estão ligados, de modo algum, a quaisquer meios. Mas também há milagres que são contra media, nos quais os meios são empregados, mas de modo tal, que o resultado é uma coisa completamente diversa do resultado habitual daqueles meios.

Pode-se presumir que os milagres da Escritura não foram realizados arbitrariamente, mas, sim, com um propósito definido. Não são meras maravilhas e exibições de poder, destinadas a provocar admiração, mas têm significação revelacional. A entrada do pecado no mundo torna necessária a intervenção sobrenatural de Deus no curso dos eventos, para a destruição do pecado e para a renovação da criação. Foi mediante milagre que Deus nos deu a Sua revelação especial e verbal na escritura, bem como a Sua revelação suprema e fatual em Jesus Cristo. Os milagres estão relacionados com a economia da redenção, uma redenção que com freqüência eles prefiguram e simbolizam. Não visam a uma violação, mas, antes, a uma restauração da obra criadora de Deus. Daí, vemos ciclos de milagres ligados a períodos especiais da história da redenção, e especialmente durante a época do ministério público de Cristo e da fundação da igreja. Estes milagres ainda não resultaram na restauração do universo físico. Mas, no fim dos tempos, haverá outra série de milagres, que redundarão na renovação da natureza, para a glória de Deus – o estabelecimento final do reino de Deus em novo céu e nova terra.

Fonte: BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Luz Para o Caminho; São Paulo, SP, 1990.

sábado, 16 de outubro de 2010

EM TEMPO DE SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES GERAIS NO BRASIL

A Igreja Presbiteriana do Brasil, em obediência à Sagrada Palavra de Deus, reconhece que Deus é o Soberano Senhor sobre toda a terra e que seu governo abrange todas as dimensões da existência humana. Assim, todo ser humano investido de autoridade está sujeito a Deus, pesando sobre ele o dever de exercer suas funções públicas com equidade e fidelidade.  Os cristãos são conclamados a participar no processo eleitoral e político do mesmo modo como precisam se envolver nas demais áreas da sociedade. À igreja, pois, cabe a tarefa de orientar seus membros para que sejam responsáveis e atuantes em cumprimento aos mandados de Deus.

Reafirmamos que a Igreja prima pela inviolabilidade da consciência política de seus membros e, portanto, não apóia individual e oficialmente nenhum candidato ou partido político, bem como, nenhum de seus membros tem autorização para falar em seu nome, indicando ou apoiando em nome da Igreja qualquer candidato. Não apresentamos nenhum nome com a intenção de manipular ou induzir as pessoas, impondo-lhes a obrigação de votar nos mesmos.


A Igreja Presbiteriana do Brasil fala por meio de Concílios e não por indivíduos, mesmo que investidos de autoridade pastoral individualizada. O Supremo Concílio da Igreja reunido em Curitiba, em julho de 2010, não oficializou nenhum apoio a quaisquer candidatos e nem a partidos políticos específicos, somente orientou que a Igreja no seu todo participe de forma crítica levando em conta as propostas apresentas. O direito do voto é intransferível e inegociável e deve expressar a consciência do cristão verdadeiro.

A Igreja Presbiteriana do Brasil já tem de forma pastoral orientado os seus membros e publicado o seu posicionamento oficial em relação a questões críticas discutidas neste momento de debate político.


Rogando as mais ricas bênçãos sobre o povo de Deus nessa hora, e suplicando ao Senhor da Seara que abençoe os membros da Igreja Presbiteriana do Brasil no exercício fiel de sua cidadania, despeço-me.

Do servo,


Rev. Roberto Brasileiro Silva

Presidente do Supremo Concílio Igreja Presbiteriana do Brasil

Fonte: Site da Igreja Presbiteriana do Brasil.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

POLÍTICA NÃO SE DISCUTE? ENTÃO VIVA O TIRIRICA!

Há três coisas que, dizem, não se pode discutir: religião, futebol e política. A razão se dá em função das intermináveis controvérsias que esses assuntos geram, e da quase impossibilidade de se mudar a idéia das pessoas nessas matérias. Assim, é melhor cada um ficar, como se diz na gíria, “na sua”, do que ficar discutindo.

Entretanto, essa me parece uma desculpa esfarrapada de quem tem preguiça de pensar e não quer ter o trabalho de submeter seus argumentos às críticas e defendê-los de maneira convincente. Assim, é melhor não discutir do que correr o risco de ter seus argumentos desmontados.

Discutir futebol pode não mudar nada na vida de ninguém; ainda assim, as “resenhas”, como são chamadas as discussões após as partidas, são preciosos meios de se manter a saudável rivalidade esportiva.

Discutir religião pode parecer dispensável quando se entende que a fé é apenas e tão somente uma questão de escolha individual. Mas quando se entende o verdadeiro sentido da fé e o princípio de que há, sim, uma verdade absoluta, as discussões religiosas podem promover o esclarecimento e o alcance da verdadeira fé.

Discutir política é igualmente necessário, uma vez que pode produzir alertas em relação a ameaças que se despontam no horizonte a cada novo pleito. Pode ser a saída para se evitar que aventureiros e demagogos tomem os atalhos da ignorância alheia para usufruir dos benefícios do poder.

Por falta de discussão a respeito de política o Brasil vem sofrendo com escândalos e jeitinhos corruptos que emperram o progresso do país. A lástima da ignorância política tem conduzido ao poder espertalhões e brincalhões travestidos de administradores públicos. O último produto dessa desdita brasileira atende pelo nome de “Tiririca”.

Tiririca é um personagem criado pelo humorista Francisco Everardo Oliveira Silva que ficou famoso com músicas de gosto duvidoso e acabou chegando à TV, onde participou de programas humorísticos. Na eleição do último domingo Tiririca, que se candidatou pelo Partido Republicano (PR), elegeu-se deputado federal por São Paulo, atingindo mais de 1 milhão e 350 mil votos.

A eleição de Tiririca tem gerado discussões e análises de especialistas das ciências políticas. Todos querem saber como um sujeito que demonstra quase nenhuma capacidade para exercer um cargo legislativo alcança tamanha aprovação na mais importante eleição do sistema político nacional, e no colégio eleitoral mais importante do país.

Uma das explicações pode estar no fato de que muitas pessoas não querem discutir política. Preferem votar no candidato mais engraçado, no mais bonito, no mais famoso, e não naquele de quem se convencem ter as melhores propostas, as melhores idéias, os melhores argumentos e as melhores plataformas. A escolha não se dá pela convicção, mas pelo simples e insignificante critério da afinidade; ou, no caso específico de Tiririca, do deboche.

Há quem diga que o voto dado a Tiririca é um voto de protesto contra os maus políticos. Mas por que não protestar contra os maus políticos elegendo bons políticos? Por que combater esculhambação com esculhambação?

O voto dado ao Tiririca é uma declaração de que muitos brasileiros não discutem política e não se importam com o seu próprio futuro. É a prova de que o analfabetismo político, delatado no brilhante texto de Bertolt Brecht, é uma triste realidade de um país que insiste em não se levar a sério.

O Analfabeto Político

Bertolt Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Agnaldo Silva Mariano

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

UM TÚNEL NO FIM DA LUZ

Certa vez, bem no início do meu ministério, resolvi fazer algumas visitas no hospital da cidade onde morava. Ali encontrei-me com um simpático – e barbudo - senhor, internado havia alguns dias, com quem iniciei uma agradável conversa, apesar das circunstâncias. Falávamos sobre temas variados, que iam da sua história pessoal à política e religião.

A conversa fluía bem, até que fomos surpreendidos por um “crente”, devidamente trajado, com camisa de manga comprida e gravata, portando sua imponente Bíblia de letras gigantes. Sem rodeios, e sem pedir licença, o “crente” atravessou a nossa conversa, apresentando imediatamente a sua ensaiada e veemente pregação evangelística. Foram alguns longos minutos de intensa e entusiasmada prédica, até que o senhor, doente – e barbudo - ouviu a famosa e inevitável pergunta: “O senhor quer aceitar Jesus?”.

Constrangido, o barbudo respondeu que “sim”, aceitava Jesus, ao que se seguiu uma oração forte, declarando aquele senhor barbudo como salvo e credenciado ao céu. Aquele barbudo senhor parecia ter encontrado finalmente a luz. Mas, mal sabia ele que, após a luz viria um túnel; um longo e dificultoso túnel, cheio de exigências e normas, que começariam, inflexivelmente, pela raspadura da sua barba.

“Agora que aceitou Jesus, o senhor é um crente; quando sair daqui o senhor vai rapar a barba, cortar o cabelo e procurar a igreja”, sentenciou o “crente”. E pronto. Despediu-se, certo do dever cumprido, procurando novos pecadores para anunciar seu evangelho anti-barba.

Diante de uma situação como esta, as indagações são inevitáveis: O que faz as pessoas pensarem que a simples resposta a uma pergunta do tipo: “O senhor quer aceitar Jesus?”, faz de alguém um crente? Qual a incompatibilidade entre a barba e o céu? Por que certos “crentes” insistem em apontar um túnel após a luz em suas pregações “evangelísticas”, como se a manutenção da salvação dependesse do cumprimento estrito de fórmulas religiosas ou denominacionais?

A pregação evangelística corre o grande risco de se tornar uma pregação de imposição de regras e normas simplistas se não for cuidadosamente baseada no modelo dos Evangelhos. Jesus nunca pregou usos e costumes culturais como sendo normas absolutas para se seguir o caminho da salvação. Os apóstolos jamais transformaram o caminho da graça em uma estrada pedregosa de normas retiradas de um código de conduta particular. A pregação apostólica sempre viu a graça como a luz no fim do túnel das exigências judaicas e do desespero do paganismo.

Antes que alguém se manifeste, quero deixar claro que eu creio em um evangelho exigente. Não advogo um evangelho sem regras, que não aponte para a necessidade de santidade pessoal. Mas eu também creio que, quem nos conduzirá no caminho da luz, na prática de valores santos é o Espírito de Deus que em nós passa a habitar após a conversão. Além disso, não creio que usos e costumes culturais se enquadrem na condição de “valores santos”. Jesus dizia: “Vai e não peques mais”; mas não se ouviu de Jesus: “Vai, corta o cabelo, faça a barba, não ouça música secular”, etc.

Para muitas pessoas, encontrar a luz pode ser uma experiência assustadora, pois o túnel das exigências culturais se apresenta longo e impossível de ser atravessado. Muitos se perdem nos labirintos dos pequenos preceitos transformados em condições inalienáveis de fé; outros desistem no meio do caminho por se julgarem incompetentes diante de tantas determinações; e há aqueles que continuam seguindo pelo túnel, batendo a cabeça, tropeçando no enredo das cartilhas do “não pode, não faça, não veja, não leia”, esforçando-se para sair da escuridão e do abandono de um evangelho sem Graça.

Quando alguém verdadeiramente encontra a luz de Cristo, passa a caminhar de olhos abertos rumo ao triunfo do céu. É bem verdade que sua caminhada se dá em uma alameda estreita; mas é um caminho iluminado pela Palavra de Deus, cheio de alegria e liberdade no Espírito. Não liberdade para o pecado, é claro, mas liberdade de ser. O Evangelho muda o ser humano por dentro, é verdade; todavia, permite que certas características que estão do lado de fora permaneçam as mesmas.

O apóstolo Paulo orientou as igrejas cristãs a respeito do túnel no fim da luz. Aos Gálatas ele disse: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão” (Gl 5. 1). Aos Colossenses exortou: “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida ou bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isto tem sido sombra das cousas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo” (Cl 2. 16 e 17). “Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem” (Cl 2. 20 a 22).

Não sou adepto do evangelho do “tudo pode”. Entretanto, não me agrada o evangelho do túnel no fim da luz. Precisamos buscar na Palavra de Deus o equilíbrio que nos faça viver dignamente o evangelho de Cristo. Neste evangelho, sim, há liberdade de ser, há alegria de viver, há satisfação e paz interior. No evangelho de Cristo o homem encontra-se com a graça que lhe devolve a vida e a liberdade roubadas pela queda.

Minha conversa com o barbudo encerrou-se com uma frase que eu nunca mais esqueci. Após a saída do “crente” evangelista, o barbudo me disse: “É por isso que a gente, às vezes, não dá crédito a esse tipo de pregação”. É verdade, barbudo. É verdade.


Agnaldo Silva Mariano

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

NÃO PRECISO DE NINGUÉM PENSANDO POR MIM

Tenho recebido nos últimos meses um sem número de e-mails alertando sobre as eleições. São mensagens terroristas que divulgam, sem passar pelo crivo da veracidade, informações sobre alguns dos candidatos à presidência da República no pleito do próximo domingo. Todos esses e-mails querem alertar sobre perigos envolvendo uma possível vitória de candidatos que, supostamente, estão contra a fé cristã. Não me lembro de ter autorizado esses e-mails, porque não me lembro de ter sido consultado se gostaria ou não de recebê-los. Mas como a internet é um território sem muitas fronteiras, nem sempre há como filtrar esse tipo de mensagem.

Um dos perigos desse tipo de e-mail é o de se propagar informações a respeito das pessoas, sem que elas tenham o direito sagrado de se defender. Muitas dessas informações, inclusive, podem não ser verdadeiras. Fico profundamente triste ao ver que muitos crentes propagam essas mensagens sem averiguar se são ou não confiáveis. E o pior é saber que muitas pessoas, ao propagar tais mensagens, imaginam estar prestando um grande serviço aos remetentes, influenciando - e até determinando - a sua maneira de pensar.

Se há uma coisa que me deixa indignado é desconfiar que haja pessoas tentando pensar por mim. Eu creio que não preciso disto. Aliás, ninguém precisa disto. Não preciso de pessoas pensando e decidindo o que eu devo pensar e como devo agir. Abomino essas mensagens terroristas porque não passam de proezas de gente a serviço da preguiça intelectual. Tenho o direito e o dever de pensar por mim mesmo, baseado em minhas convicções, valores e crenças. Não preciso de ninguém pensando por mim. Desculpem o desabafo. Não quero parecer arrogante. Quero apenas exercer o meu direito de pensar usando o meu próprio cérebro.

Agnaldo Silva Mariano

DO MAGISTRADO CIVIL

I. Deus, o Senhor Supremo e Rei de todo o mundo, para a sua glória e para o bem público, constituiu sobre o povo magistrados civis que lhe são sujeitos, e a este fim, os armou com o poder da espada para defesa e incentivo dos bons e castigo dos malfeitores. (Rom. 13:1-4; I Ped. 2:13-14).

II. Aos cristãos é licito aceitar e exercer o ofício de magistrado, sendo para ele chamado; e em sua administração, como devem especialmente manter a piedade, a justiça, e a paz segundo as leis salutares de cada Estado, eles, sob a dispensação do Novo Testamento e para conseguir esse fim, podem licitamente fazer guerra, havendo ocasiões justas e necessárias. (Prov. 8:15-16; Sal. 82:3-4; II Sam. 23:3; Luc. 3:14; Mat. 8:9-10; Rom. 13:4).

III. Os magistrados civis não podem tomar sobre si a administração da palavra e dos sacramentos ou o poder das chaves do Reino do Céu, nem de modo algum intervir em matéria de fé; contudo, como pais solícitos, devem proteger a Igreja do nosso comum Senhor, sem dar preferência a qualquer denominação cristã sobre as outras, para que todos os eclesiásticos sem distinção gozem plena, livre e indisputada liberdade de cumprir todas as partes das suas sagradas funções, sem violência ou perigo. Como Jesus Cristo constituiu em sua Igreja um governo regular e uma disciplina, nenhuma lei de qualquer Estado deve proibir, impedir ou embaraçar o seu devido exercício entre os membros voluntários de qualquer denominação cristã, segundo a profissão e crença de cada uma. E é dever dos magistrados civis proteger a pessoa e o bom nome de cada um dos seus jurisdicionados, de modo que a ninguém seja permitido, sob pretexto de religião ou de incredulidade, ofender, perseguir, maltratar ou injuriar qualquer outra pessoa; e bem assim providenciar para que todas as assembléias religiosas e eclesiásticas possam reunir-se sem ser perturbadas ou molestadas. (Heb. 5:4; II Cron. 26:18; Mat. 16:19; I Cor. 4:1-2; João 15:36; At. 5:29; Ef. 4:11-12; Isa. 49:23; Sal. 105:15; 11 Sam.23:3).

IV. É dever do povo orar pelos magistrados, honrar as suas pessoas, pagar-lhes tributos e outros impostos, obedecer às suas ordens legais e sujeitar-se à sua autoridade, e tudo isto por amor da consciência. Incredulidade ou indiferença de religião não anula a justa e legal autoridade do magistrado, nem absolve o povo da obediência que lhe deve, obediência de que não estão isentos os eclesiásticos. O papa não tem nenhum poder ou jurisdição sobre os magistrados dentro dos domínios deles ou sobre qualquer um do seu povo; e muito menos tem o poder de privá-los dos seus domínios ou vidas, por julgá-los hereges ou sob qualquer outro pretexto. (I Tim. 2:1-3; II Ped. 2:17; Mat. 22:21; Rom. 13:2-7, e 13:5; Tito 3:1; I Ped. 2:13-14, 16; Rom. 13:1; At. 25:10-11; II Tim. 2:24; I Ped. 5:3).

(A Confissão de Fé de Westminster, capítulo XXIII).

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

QUANDO A OBRIGAÇÃO VIRA MÉRITO

Honestidade, respeito, honradez, sinceridade e humildade sempre foram virtudes fundamentais para qualquer ser humano. Ter e demonstrar virtudes sempre foi tratado como obrigação. Não ter virtudes sempre foi o estreanho, o anormal. "Educação vem do berço", diziam os antigos. E com a educação, vinham as virtudes. Meus pais sempre me ensinaram que virtude é obrigação, não opção.

O problema é que as coisas estão mudando tanto, que as virtudes têm se tornado artigo de luxo nas relações humanas. Parece ser tão raro encontrar um cidadão honesto que, quando alguém faz a obrigação de devolver um dinheiro encontrado que não lhe pertence, ele logo vira manchete de jornal e até ganha recompensa. A cada dia que passa o que é obrigação vai se tornando mérito e a própria virtude é desvirtuada. Aí o cidadão que encontra um objeto perdido, ao invés de devolver e ficar no anonimato da obrigação, começa a fazer planos de como se dar bem ao devolver ao dono o objeto encontrado, e como tirar vantagem da gentileza.

A meritocracia da obrigação está escancarada no Horário Eleitoral gratuito. Basta perder alguns minutos diante da TV para se observar candidatos enchendo o peito para dizer que têm ficha limpa, que são honestos, que nunca roubaram, que nunca se envolveram em escândalos, etc. Há alguns de quem a gente desconfia de tanta lisura; mas há outros que é possível acreditar que sejam, de fato, pessoas corretas. Mas será mesmo que essas virtudes precisariam ser apontadas como um diferencial para alguém se apresentar como candidato em uma eleição? A que ponto chegou a sociedade! A obrigação agora virou mérito; e os candidatos se orgulham daquilo que se deve aprender desde o berço. Vangloriam-se do que têm o dever de ser, não apenas como concorrentes a um cargo público, mas como cidadãos.

O projeto Ficha Limpa virou bandeira de campanha de candidatos nesta eleição, mas muitas pessoas não sabem que o projeto não nasceu no Congresso Nacional, até porque muitos parlamentares jamais aprovariam uma lei que fosse contra os seus interesses. O projeto surgiu como uma iniciativa do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MMCE), que colheu mais de 1 milhão de assinaturas em todo o país. Ou seja, é um projeto de lei de iniciativa popular. Coube aos parlamentares apenas dizer “sim” (ou “não”) ao óbvio. Ver parlamentares de carreira pedindo voto pendurados no Ficha Limpa é uma indecência. Se fosse tão interessante para os parlamentares limpar o Congresso Nacional dos fichas-sujas, por que eles mesmos não tomaram a iniciativa de votar uma lei semelhante antes?

Assistir ao Horário Eleitoral evidencia o que se passa na sociedade brasileira. As virtudes são tão raras na sociedade que se tornaram artigos de luxo. Ter virtude não é mais visto como obrigação, mas como mérito pessoal. Não precisaríamos criar uma lei Ficha Limpa para assear o Congresso Nacional se, como cidadãos, não aceitássemos tantos jeitinhos no nosso dia a dia para resolver nossos problemas. Se tivéssemos o cuidado de devolver o troco dado a mais por engano em uma mercearia, talvez não permitíssemos que fosse eleito um candidato que superfatura uma obra pública. Se não aceitássemos furar a fila no banco pedindo a um amigo para pagar as nossas contas, talvez não aceitássemos votar em um candidato que recebe propina para beneficiar um empresário amigo. Se não pedíssemos uma mãozinha a um figurão da política para dar um emprego a um parente nosso, talvez não votássemos em políticos que praticam nepotismo descaradamente. Se pagássemos nossas contas em dia talvez não votássemos em candidatos que sonegam impostos.

Se as virtudes fossem vistas pelos eleitores como obrigação, talvez não assistíssemos a tantos candidatos defendendo seus próprios valores como méritos no Horário Eleitoral. Minha maior frustração é olhar não apenas para o Horário Eleitoral, mas para o Congresso Nacional e adjacências governamentais, e imaginar que ali está o reflexo da nossa sociedade. Que pena! Pouca coisa vai mudar!
 
Agnaldo Silva Mariano

terça-feira, 14 de setembro de 2010

CUIDADO COM O MANIQUEISMO ELEITORAL

As eleições se aproximam, e com elas, a expectativa em relação aos nomes que ocuparão os diversos cargos em disputa. Os candidatos têm pouco tempo para convencer os indecisos, e os indecisos têm pouco tempo para se decidir. Intensificam-se as propagandas e com elas os ataques, as defesas e algumas suspeitas.

Ao longo do período de campanha vários alertas são emitidos a fim de despertar o cuidado do eleitor. Eu mesmo fiz alguns aqui no blog, mas não quero, e nem posso, decidir por ninguém, nem mesmo influenciar qualquer pessoa na sua escolha. O voto é uma escolha individual. Este blog não se manifesta em defesa de nenhuma agremiação política, nem a favor de nenhum candidato. Os alertas que fazemos não são - e nem se pretende que sejam – inclinações para este ou aquele nome ou partido.

Gostaria de usar este espaço para dar uma opinião sobre o conhecido posicionamento do pastor Paschoal Piragine, amplamente divulgado através de vídeos na internet. Assisti várias vezes ao vídeo e concordo com boa parte do pronunciamento do pastor. Mas fico preocupado com a interpretação que muitas pessoas têm feito daquelas palavras.

As palavras do pastor Piragine têm sido interpretadas por muitas pessoas como uma palavra final quanto ao partido mencionado e seus candidatos. Para muitos, não votar naquele partido será suficiente para garantir que os valores cristãos não sejam ameaçados no país. É como se aquele partido fosse um representante do mal, e devêssemos votar em outro que fosse o representante do bem. Vale ressaltar que o pastor Piragine em nenhum momento apresentou outro partido ou candidato como opção. Mas ao nomear o tal partido, muitas pessoas podem entender que ele seja do mal e os concorrentes sejam do bem. É um tipo de maniqueísmo eleitoral.

Reconheço que há muitas questões defendidas por partidos políticos e candidatos que, como cristãos, não podemos aceitar. Postei há alguns dias um vídeo de outro partido onde é exposta sua defesa em relação à união homossexual. Por uma questão de consciência eu não votaria em um partido que defende tal posição. Mas não poderia tratar o partido como um representante do mal na terra. Eu sou contra a união de pessoas do mesmo sexo, assim como sou contra o aborto e outros temas denunciados no vídeo do pastor Piragine. Mas não vejo a política como uma luta entre o bem e o mal. É preciso ter muito cuidado com esse tipo de maniqueísmo eleitoral, porque nada garante que, se qualquer outro partido concorrente vencer as eleições, esses e outros temas não serão igualmente defendidos ou autorizados. Não sou eleitor do partido denunciado pelo pastor Piragine, nem concordo com muitas de suas posturas, mas não posso concordar com o tipo de maniqueísmo adotado por muitos a partir do pronunciamento.

A Igreja precisa se posicionar contra determinados temas que afetam não apenas a ética cristã como também a vida humana na terra. Ela precisa orar e denunciar o pecado. Mas ela precisa lembrar também que “o mundo inteiro jaz no maligno” (1 Jo 5. 19). O que está em disputa nas eleições não são os valores cristãos, embora muitos desses valores sejam agredidos e afrontados por alguns candidatos. Esses valores são absolutos, e continuarão sendo, mesmo que haja governos que os ataquem frontalmente. Mas se o mundo está morto por causa do pecado, caberá à Igreja cumprir o seu papel de evangelizar e proclamar a verdade do Evangelho a fim de que sejam libertos os cativos e os eleitos salvos. Acreditar que a manutenção dos valores cristãos dependerá do partido político que estiver no poder é, no mínimo, inocente demais.

Os cristãos poderão, por motivo de consciência, deixar de votar em um partido ou outro. Mas que não transformemos a eleição em uma guerra entre o bem e o mal. Não creio que haja partidos do mal, assim como não creio que haja partidos do bem. Há propostas e propostas; caberá a cada eleitor, a partir de sua consciência, definir as que julga boas ou ruins. E acima de tudo, como cristãos, devemos crer que Deus é o Senhor, e que ele estará sempre no controle. Seja qual for o candidato eleito ou o partido que ele representar, fará somente aquilo que Deus, em sua Soberania o permitir, para a sua própria glória.


Agnaldo Silva Mariano

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

QUANDO A RELIGIÃO É UMA AMEAÇA

A religião é uma prática essencialmente humana. Faz parte da constituição humana a necessidade de buscar no transcendente as respostas aos questionamentos mais elementares sobre sua existência. Por isso, a religião, como disse João Calvino, é um fato universal. Disse o reformador em suas Institutas: “Nós, sem discussão alguma, afirmamos que os homens têm um certo sentimento da divindade em si mesmos; e isto, por um instinto natural”. E ainda, citando Cícero, diz: “Não há povo tão bárbaro, não há gente tão brutal e selvagem, que não tenha arraigada em si a convicção de que há um Deus. E, ainda, os que em algumas coisas parecem quase não se diferenciarem dos animais, conservam sempre neles certa semente de religião” (Institutas, Livro I, capítulo III).

A religião aproxima pessoas, oferece respostas a diversos dramas humanos, conforta e estimula hábitos e práticas salutares. Praticamente todas as religiões têm como princípio fundamental o amor ao próximo e o bem comum. Entretanto, há ocasiões em que a religião pode ser uma ameaça ao próprio ser humano.

A religião é uma ameaça quando é um fim em si; quando tenta ser, ela mesma, o caminho que conduz o homem pecador a Deus. O que liga o homem ao Criador não é a religião, mas o Filho único de Deus, que veio à terra para realizar esta tarefa, que somente Ele poderia realizar (Hb 9. 11 e 12).

A religião é uma ameaça quando se transforma em uma mera causa, querendo fazer prosélitos a qualquer custo para seus interesses. Quando isto acontece, fiéis são convertidos em soldados, dispostos a matar e morrer por um idealismo sem sentido e não é mais possível separar os fundamentos da religião das suas interpretações. Aí o que é salutar torna-se doentio, e o que é fundamento torna-se fundamentalismo cego. Ninguém deveria matar por uma religião, nem precisaria morrer por ela. Jesus nunca disse que deveríamos morrer pelo Cristianismo, mas afirmou que deveríamos estar dispostos a morrer por Ele. Morrer pelo Cristianismo é fanatismo, mas morrer por Cristo é lucro (Fp 1. 21). Morrer em nome da fé em Cristo só se justifica quando há uma ameaça real; matar em nome dessa mesma fé, entretanto, não é nem opção nem mandamento.

A religião é uma ameaça quando tenta substituir a democracia por uma teocracia auto-intitulada. Em toda a história humana, o único estado realmente teocrático já existente foi o de Israel no Antigo Testamento. Deus era o Rei daquela nação (1 Sm 12. 12). Ele mesmo fundou aquela nação e a governou. As leis que regulavam toda a vida nacional eram ditadas e administradas pelo próprio Deus. Mas isto cessou quando Israel deixou de ser o povo exclusivo de Deus. Hoje não há governo teocrático nem deve esperar-se que haja. O máximo a que se chega hoje é a governos “religiocráticos”. Mas os resultados não têm sido benéficos. A religião é uma ameaça quando quer assumir o controle do estado. E quando isso ocorre ela é capaz de tantas atrocidades quanto os governos anti-religiosos o são. Os Talibãs e as Inquisições podem provar isto.

A religião é uma ameaça quando se intromete em assuntos que não lhe dizem respeito, quando se coloca no centro de discussões que não são, necessariamente, matérias de fé, ou quando extrapola os limites da consciência individual e pretende assenhorear-se da razão. A religião se torna uma ameaça quando assume a perigosa missão de, por si mesma e por seus ideais, salvar o mundo; quando admite que ser religioso é sinônimo de ser salvo.

O risco de tornar-se uma ameaça é igual a todas as religiões, inclusive ao Cristianismo. O Cristianismo não é um fim em si mesmo. Seu alvo é Cristo e sua mensagem de salvação. Só há salvação no Cristianismo porque nele está Cristo. Sem Cristo não há salvação nem haveria Cristianismo de verdade. Se o Cristianismo cumprir sua missão de anunciar a Redenção realizada no Calvário na pessoa de Jesus, seu papel estará cumprido. O objetivo do Cristianismo não é salvar o mundo, mas anunciar ao mundo o Salvador. Se o Cristianismo revogar esta missão para tornar-se uma mera causa política ou idealista, ele se transformará em mais uma ameaça tão horrenda quanto as ameaças a que ele se opõe.

Agnaldo Silva Mariano

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

SE A GENTE COLOCAR O BOM SENSO EM AÇÃO VAI DAR TUDO CERTO

Época de campanha eleitoral é sempre a mesma coisa. Os candidatos fazem de tudo para agradar o eleitorado. Beijam criancinhas, visitam favelas, sobem os morros, tomam cafezinho, andam de jumento, distribuem sorrisos e abraços. Tudo para passarem uma imagem simpática ao povo. Até freqüentar igrejas eles freqüentam. Se houver um evento com muitos crentes juntos, então, é um prato cheio! Eles não perdoam. Sobem nas tribunas, usam o nome de Deus, tentam citar versículos bíblicos e até arriscam cantar os hinos. Querem parecer piedosos e defensores das causas cristãs, mesmo que depois façam leis que prejudiquem as igrejas ou, em outras ocasiões, defendam tudo aquilo que a fé dos cristãos rejeita.

Não dá para dizer que certas aparições de políticos em eventos ou igrejas evangélicas não têm um cheirinho de oportunismo. Não sou contra a ida deles em eventos ou igrejas cristãs. Mas poderiam evitar o constrangimento de tentar falar ou ser ou que não sabem nem são. Poderiam ficar, como se diz, na deles e falar do que realmente querem do povo ali, e pronto. Ficar fazendo média, forçando uma piedade chega a ser piegas.

O candidato tucano à presidência da república submeteu-se a esse embaraço ao participar da Expocristã, uma feira de produtos voltados para o público evangélico. Cercado de crentes, o candidato cantou a música “Vai dar tudo certo” e disse: “Os valores de Cristo são os meus valores. Não sou cristão de boca de urna para agradar eleitor, conquistar votos e no dia seguinte esquecer o assunto. Pratico o Cristianismo na minha vida pessoal e política”.

Se é verdade ou não, é difícil saber. Mas que parece oportunismo parece. Quero ver se daqui a algum tempo, vencendo ou perdendo as eleições, o candidato será tão piedoso assim. O mesmo vale para os outros candidatos que aproveitam as eleições para afirmar seus “valores cristãos” e, depois, negam veementemente qualquer relação com algum tipo de fé particular.

Pena que este tipo de bajulação seja tão apreciada por muitos evangélicos. Mas se a gente colocar o bom senso em ação vai dar tudo certo.

Agnaldo Silva Mariano

sábado, 4 de setembro de 2010

BEIJO GAY EM PROPAGANDA ELEITORAL

A propaganda eleitoral deste ano vem chamando a atenção pelas estranhas figuras que se aventuram em busca de um cargo público. Mas o PSOL, partido que concorre à presidência da república resolveu extrapolar. Assista o vídeo e reflita se é este o Brasil que você deseja. Se você conhece a Palavra de Deus, certamente saberá fazer a opção correta.



quinta-feira, 2 de setembro de 2010

MAIS UMA MARTELADA NA CABEÇA DO BOM SENSO

A sensatez levou mais uma martelada na cabeça. Quem pensou que já tinha visto de tudo no apelativo mundo das bizarrices do mundo neo-pentecostal se enganou. Na verdade, não parece haver limites para a criatividade – ou falta de senso – dos chefes da Seita Mundial do Poder de Deus e outras congêneres. A apelação beira à comédia. Aquilo parece uma feira dos horrores. Tem de tudo: água ungida no galão de vinte litros, toalhinha de pano, coluna de plástico e agora um martelo. É o “martelo da justiça de Deus”!

A martelada do “apóstolo” Valdemiro Santiago deu com força na cabeça do bom senso e doeu na alma cristã. Com a sede da seita fechada por ordem judicial, o homem do chapelão resolveu tosquiar com mais força o já tão sofrido povo que ele engana há tanto tempo. Agora está pedindo uma oferta de mil reais (qualquer semelhança com o apelo de outro tosquiador de ovelhas que tem por aí não é mera coincidência) para ajudar a reabrir a sede da Seita; e quem enviar a oferta receberá em sua casa o tal “martelo da Justiça de Deus”. O problema é que a idéia nem é tão original assim. Outro excêntrico e galhofeiro pregador já ofertava uma ferramenta semelhante na TV. Não demora e o Valdemiro terá de pagar direitos autorais. Bom, isso não será problema. Se isto acontecer ele poderá pedir uma oferta para pagar esses direitos e, de brinde, poderá oferecer, sei lá, um prego da bênção. Tipo assim: “Prego da bênção: sem ele o martelo não funciona!”

Chega a ser hilário ver o tal “apóstolo” segurando um martelo de madeira em frente à câmera apresentando os benefícios do produto. Com aquele chapelão parece um carpinteiro maluco. Nem quero imaginar o que os não crentes estão pensando nessa hora.

Valdemiro Santiago é um cômico da religião. É o Tiririca gospel. Ele faz graça da fé como o Tiririca faz graça da política. Já viu? “Pior do que está não fica”. O problema é que, em se tratando de Valdemiro Santiago e sua trupe, o pior sempre está por vir. O bom senso que prepare a cabeça: vem mais martelada por aí.

Agnaldo Silva Mariano

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

"MUNDIAL", "UNIVERSAL", MAS NÃO EVANGÉLICAS.

Há muito o crescimento do neo-pentecostalismo tem chamado a atenção de vários setores da sociedade, não apenas dos ligados à igreja evangélica. Seus métodos questionáveis de crescimento, a forte ênfase na chamada Teologia da Prosperidade, a liturgia precariamente cristã, e outras práticas estranhas ao modelo bíblico de Igreja vêm gerando desconforto e inquietação, a ponto de algumas delas não mais figurarem entre as denominações evangélicas consideradas idôneas.

A mídia tem dado forte ênfase aos métodos questionáveis de várias denominações neo-pentecostais, atribuindo aos seus líderes a responsabilidade por escândalos, envolvendo, principalmente, mau uso de dinheiro arrecadado dos fiéis e outras imprudências. O forte aparelhamento político-partidário de algumas denominações neo-pentecostais rechaça sua vocação missionária e evangelizadora, atestando interesses duvidosos seus e de seus líderes. O uso e emulações de técnicas e discurso tipicamente espíritas em profusão nas pregações e práticas atestam seu afastamento da verdade Bíblica e da simplicidade do verdadeiro Evangelho.

Estes e outros divisores éticos e doutrinários têm afastado algumas denominações neo-pentecostais da condição de igrejas confiáveis e genuinamente evangélicas. Diante de vários atestados de desconfiança, a Igreja Presbiteriana do Brasil tomou a dianteira e passou a considerar a Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja Mundial do Poder de Deus, representantes legítimas desse típico neo-pentecostalismo estrambótico, como seitas, e, como resultado, determinou que as pessoas que se transferirem dessas igrejas para qualquer Igreja Presbiteriana do Brasil deverão ser submetidas a novo batismo e profissão de Fé.

A decisão em relação à Igreja Universal foi apenas ratificada na reunião do Supremo Concílio da IPB, ocorrida em julho último, uma vez que já vigorava desde 2006. A novidade, portanto, se dá em relação à Mundial, uma denominação organizada há pouco mais de 10 anos, fruto de uma dissidência da Universal e que vem plagiando e sustentando os desvios oriundos de sua gênese, como também inventando as suas próprias excentricidades.

Creio que a posição tomada pela Igreja Presbiteriana do Brasil atesta seu compromisso com o verdadeiro Evangelho e reforça sua identidade reformada e, principalmente, bíblica. A IPB declara com isto não se conformar com o que se afasta das Escrituras em nome do politicamente correto. Bom seria se a mesma postura fosse seguida por outras denominações, uma vez que o evangelicalismo brasileiro parece estar em vias de um colapso teológico, que poderá vitimar quem não toma posição  em favor da Verdade.

Agnaldo Silva Mariano

terça-feira, 31 de agosto de 2010

CRER, APESAR DE TUDO

O que é fé? A melhor resposta para esta pergunta não poderia vir de outra fonte, senão da Escritura Sagrada: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, e a convicção de fatos que se não vêem” (Hb 11. 1).

A fé é a segura confiança de que a nossa esperança futura já está presente. É o reconhecimento de que as promessas feitas por Deus terão cumprimento. A fé traz a nossa esperança à realidade. É uma prova convincente de que o esperado se cumprirá.

Fé é enxergar com a alma aquilo que os olhos não podem ver. A fé enxerga o mundo invisível e espiritual; a fé enxerga o eterno, o sobrenatural. A fé toca o imponderável e ultrapassa os limites do possível.

Fé significa crer, apesar de tudo. Foi assim que agiram os grandes servos de Deus cujas histórias acham-se resumidas no capítulo 11 de Hebreus. Homens e mulheres que desistiram da desesperança em nome da fé. Pessoas comuns que se tornaram incomuns, “homens dos quais o mundo não era digno” pelo exercício da fé. Gente que creu e confiou nas promessas, apesar da realidade que os cercava.

A fé nos faz alcançar o que a nossa compreensão não permite. Pela fé Abraão compreendeu que algumas simples estrelas no céu significavam a confirmação de uma numerosa descendência. Pela fé Noé partiu em busca de madeira para construir uma embarcação para salvar a raça humana sem saber o que era uma gota de chuva. Pela fé José subtraiu de seu coração o desejo de vingança de seus irmãos, compreendendo que havia um propósito especial na sua ida para o Egito. Pela fé Josué fez o povo cercar os muros de Jericó na esperança de que cairiam pelo grito dos seus homens.

A vida muitas vezes nos apresenta circunstâncias aterrorizantes. A realidade nos oferece apenas razões para desesperar. Nesses momentos é necessário oferecer à realidade a marca que nos distingue como filhos de Deus: a fé. Esta abençoada convicção de que, apesar de tudo, é possível continuar.

Agnaldo Silva Mariano

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

DOUTRINAS AUTORITÁRIAS

Por Dr. Jorge Erdely

Tem se tornado comum os ditadores religiosos chamarem de rebeldes os que escapam de seu sistema de controle, apesar de a Bíblia definir a rebeldia como o ato de desobediência aos mandamentos de Deus. Isso não passa dum meio de manipulação no sentido de pressionar as pessoas, e não deve ser levado em conta, pois na Escritura, Deus chama de rebeldes exclusivamente àqueles que desobedecem aos preceitos éticos divinais.

Se uma pessoa decide deixar uma organização religiosa, não estando em falta à vista de algo mal feito que paire contra si, ou em virtude de algum descumprimento de seus compromissos, então, onde está a rebeldia? O termo “rebelde” vem se aplicando ultimamente a pessoas que tem se negado a se tornarem cúmplices de manipulações doutrinais e de atos ilícitos de líderes autoritários.

É surpreendente que os ministros e seitas que estão fora de autoridade espiritual, tenham o cinismo de chamar rebeldes àqueles que, tendo se cingido das Escrituras, os questionam, pedindo reformas de práticas autoritárias, se negando a participar em ilicitudes e os denunciando. Dito de outro modo, há sistemas religiosos que estão em rebeldia, e chamam de rebeldes àqueles que atuam em consonância com a autoridade dos ensinamentos de Jesus. Incrível!

Ironicamente, o próprio Novo Testamento é quem qualifica de rebeldes àqueles ministros e grupos religiosos que, com suas inumeráveis fraudes, imoralidades e desobediência ao Evangelho de Cristo, condenam inocentes taxando-os de “rebeldes”.

Jamais deveríamos temer tais acusações de “rebeldia” provindas de ministros que vivem de forma imoral ou desonesta ou que se afastam dos ensinamentos de Cristo. Eles não têm nenhuma autoridade divina.

O mito de que não se devem questionar os ungidos.

Um dos ensinamentos favoritos para infundir medo e manter cativas as consciências das pessoas, afastando-as da utilização da sua razão, está baseado neste texto do Antigo Testamento: “... não toqueis os meus ungidos...” (Salmo 105:15)

Com esta passagem os líderes autoritários pretendem, em primeiro lugar, eles próprios se estabelecerem como os tais ungidos. Em segundo lugar, ensinam que ninguém em sua congregação pode questionar com base nas Escrituras o ministro, nem assinalar que são más determinadas práticas ou doutrinas, tampouco dizer que esteja em pecado, ainda que seja comprovável e que esteja prejudicando alguém! Pois, isso seria “tocar no ungido” e segundo dizem, “se lhes acarretará o castigo de Deus sobre sua vida”.

Desta maneira eles podem ensinar o que querem, e assim também se conduzirem como melhor se lhes apetecerem, sem temer a obrigação de responderem diante de alguém por qualquer coisa que façam.

Esta doutrina de “sujeição à autoridade” não somente é falsa, como também é contrária aos ensinamentos de Jesus, pois o Novo Testamento ensina que se o “nosso próximo” cai em pecado ou ensina algum erro, temos a obrigação de exortá-lo: “ Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão” (Mateus 18:15)

O Novo Testamento ensina que se o nosso próximo está em pecado, temos o dever e o compromisso de confrontar sua falta. O negar-se a fazer isso que é pecado. É falta de amor.

O mito de que não se deve questionar aos autodenominados ungidos é falso, pois contradiz estes claros mandamentos do Novo Testamento.

A interpretação correta do texto: “"Não toqueis, disse, nos meus ungidos”. O que realmente significa a passagem de Salmos 105:15?

Em primeiro lugar se refere, no contexto, a Abraão e à sua descendência em sua etapa inicial como “os ungidos”, não a um líder em particular. Nesse caso uma aplicação moderna da passagem seria que não se deve tocar em qualquer membro do povo de Deus.

Mas o que significa “tocar”? Bem, a passagem foi dada para que as poderosas nações vizinhas do povo hebreu, até então um pequeno grupo de nômades, não o saqueasse, o matasse ou o roubasse, enquanto seguia em suas peregrinações. “Tocar” significava, no contexto, não prejudicar fisicamente a Abraão e a família. Isso é tudo o que diz a passagem, e se nos damos conta, isso não tem nada a ver com a proibição de confrontar, repreender, denunciar, questionar ou afastar-se de um líder religioso que se delinqüe ou que torce os ensinamentos de Cristo.

Se como os líderes autoritários nos dizem, “tocar” num ungido é questionar um ministro e isso está proibido, então com que razão Paulo questionou e repreendeu a Pedro e logo depois registrou o fato em uma carta como exemplo aos cristãos da Galácia? (Gálatas 2:11-16)

Aprendamos isso: A Bíblia nos permite tanto questionar os ministros, como também confrontá-los, quando vemos que há um sério erro doutrinário ou da práxis ética em suas vidas. Isso está claramente estabelecido na Palavra de Deus:

- “Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente para que sejam sãos na fé” (Tito 1:13).

- “Que pregues a palavra; que instes a tempo e fora de tempo; redarguas, repreende, exorta com toda paciência e doutrina” (2 Timóteo 4:2-3)

- “Como te roguei, quando parti para a Macedônia, que ficásseis em Éfeso para advertires a alguns, que não ensinassem outra doutrina” (1 Timóteo 1:3)

De fato, não somente temos o direito de questioná-los. Temos também o direito de abandoná-los e sair de sua esfera de influência caso se recusem a corrigir a sua conduta imoral ou ensinamentos torcidos. Leiamos o que Cristo ensina a respeito:

- “Deixe-os; são condutores cegos; ora se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova” (Mateus 15:14).

- “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano” (Mateus 18:15-17).

Diante de tudo o que foi exposto, podemos constatar que os grupos autoritários manipulam as Escrituras para evitar prestar contas de seus atos aos fiéis.

Fonte: Monergismo