segunda-feira, 27 de agosto de 2012

DA CERTEZA DA GRAÇA E DA SALVAÇÃO


I. Ainda que os hipócritas e os outros não regenerados podem iludir-se vãmente com falsas esperanças e carnal presunção de se acharem no favor de Deus e em estado de Salvação, esperança essa que perecerá, contudo, os que verdadeiramente crêem no Senhor Jesus e o amam com sinceridade, procurando andar diante dele em toda a boa consciência, podem, nesta vida, certificar-se de se acharem em estado de graça e podem regozijar-se na esperança da glória de Deus, nessa esperança que nunca os envergonhará.

II. Esta certeza não é uma mera persuasão conjectural e provável, fundada numa falsa esperança, mas uma infalível segurança da fé, fundada na divina verdade das promessas de salvação, na evidência interna daquelas graças a que são feitas essas promessas, no testemunho do Espírito de adoção que testifica com os nossos espíritos sermos nós filhos de Deus, no testemunho desse Espírito que é o penhor de nossa herança e por quem somos selados para o dia da redenção.

III. Esta segurança infalível não pertence de tal modo à essência da fé, que um verdadeiro crente, antes de possuí-la, não tenha de esperar muito e lutar com muitas dificuldades; contudo, sendo pelo Espírito habilitado a conhecer as coisas que lhe são livremente dadas por Deus, ele pode alcançá-la sem revelação extraordinária, no devido uso dos meios ordinários. É, pois, dever de todo o fiel fazer toda a diligência para tornar certas a sua vocação e eleição, a fim de que por esse modo seja o seu coração no Espírito Santo confirmado em paz e gozo, em amor e gratidão para com Deus, em firmeza e alegria nos deveres da obediência que são os frutos próprios desta segurança. Este privilégio está, pois, muito longe de predispor os homens à negligência.

IV. Por diversos modos podem os crentes ter a sua segurança de salvação abalada, diminuída e interrompida negligenciando a conservação dela, caindo em algum pecado especial que fira a consciência e entristeça o Espírito Santo, cedendo a fortes e repentinas tentações, retirando Deus a luz do seu rosto e permitindo que andem em trevas e não tenham luz mesmo os que temem; contudo, eles nunca ficam inteiramente privados daquela semente de Deus e da vida da fé, daquele amor a Cristo e aos irmãos, daquela sinceridade de coração e consciência do dever; dessas bênçãos a certeza de salvação poderá, no tempo próprio, ser restaurada pela operação do Espírito, e por meio delas eles são, no entanto, suportados para não caírem no desespero absoluto.

Confissão de Fé de Westminster - Capítulo XVIII.

terça-feira, 3 de julho de 2012

POSICIONAMENTO DA IPB SOBRE O MOVIMENTO DE IGREJAS EM CÉLULAS

Na última Reunião Ordinária da Comissão Executiva do Supremo Concílio da IPB, ocorrida em março/2012, a denominação se posicionou em relação ao movimento de Igrejas em Células, considerando este movimento divergente da fé bíblico-reformada. Este movimento tem encontrado largo espaço em diversos presbitérios e igrejas presbiterianas por todo o Brasil. Já estava na hora. Queira Deus que as igrejas e presbitérios que têm aderido a este movimento recuem, em nome da preservação da eclesiologia bíblico-reformada. Leia o posicionamento oficial:

SUBCOMISSÃO IX - CONSULTAS E OUTROS PAPÉIS II - CE-SC/IPB-2012 - DOC.CLXI - Quanto ao documento 038 - Oriundo do(a): Sínodo Piratininga - Ementa: Consultas sobre Igrejas em células.

Considerando: 1. Que o movimento das “igrejas em células“ tem características próximas ao movimento G12, já rejeitado pela IPB conforme resoluções da CE-SC/IPB-2000 - Doc XCIX; CE-SC/IPB-2001 - Doc. XLI e SC-IPB-2002 Doc. CXXII; 2. Que a terminologia empregada pelo movimento de “igrejas em células“ é semelhante ao do movimento G12, a saber, “ano de transição“ e “celularização da igreja“, 3. Que a prática do movimento difere da eclesiologia da IPB, por exemplo, nos seguintes pontos: a) administração dos sacramentos ministrados nas células e não na igreja; b) ênfase nos relacionamentos e não no ensino; c) relaxamento da disciplina eclesiástica; d) incentivo ao não funcionamento das Escolas Dominicais. A CE-SC/IPB - 2012 RESOLVE: 1. Tomar conhecimento; 2. Informar que a igreja em células não é o mesmo que pequenos grupos, que permanecem jurisdicionados ao conselho da Igreja local, os quais têm importância na vida da igreja contribuindo para comunhão e instrução; 3. Reafirmar que as funções privativas do Conselho estão expostas no art. 83 da CI-IPB; 4. Responder ao Presbitério que o movimento diverge de nossa teologia bíblico-reformada e orientar as igrejas a não aderirem a este movimento em células ou a qualquer outro divergente de nosso sistema presbiteriano.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

QUEM DEVE PREGAR A PALAVRA DE DEUS?

Do Catecismo Maior de Westminster Comentado


Pergunta 158. Por quem deve ser pregada a Palavra de Deus?


R. A Palavra de Deus deve ser pregada somente pelos que forem suficientemente dotados e devidamente aprovados e chamados para tal ofício.

Referências bíblicas

1) Aqueles que pregam a Palavra de Deus publicamente devem possuir obrigatoriamente certas qualificações definidas na Bíblia. 1Tm 3.2, 6; Ef 4.8-11; Os 4.6; Ml 2.7; 2Co 3.6.

2) A Palavra de Deus deve ser pregada publicamente somente pelos que foram legitimamente chamados para o ofício do ministério da Palavra. Jr 14.15; Rm 10.15; Hb 5.4; 1Co 12.28-29; 1Tm 3.10; 4.14; 5.22.

Comentário

1. Essa pergunta do Catecismo trata especialmente de que tipo de pregação da Palavra?

Trata da pregação da Palavra numa congregação da igreja de Cristo. Pode-se inferir isso das palavras “em público para a congregação” na resposta da Pergunta 156. Quem não for ministro ordenado ou licenciado pode testemunhar de Cristo em particular ou em público, conforme a oportunidade o permita, mas a pregação pública oficial da Palavra na igreja deve ser feita apenas por aqueles devidamente separados para essa obra.

2. Por que a pregação oficial da Palavra deve ser feita só “pelos que forem suficientemente dotados”?

Claro está que a pregação da Palavra é uma obra de importância muito grande. São necessárias as qualificações apropriadas para que seja feita da maneira adequada. Há qualificações espirituais, intelectuais e educacionais sobre as quais se deve insistir para que a igreja tenha um ministério adequado. Um homem que não tenha nascido de novo e que não seja um consistente crente em Cristo, não tem obviamente condição de pregar a Palavra de Deus aos outros; seria apenas um cego conduzindo outro. Um homem incapaz de pensar corretamente, incapaz de detectar a falácia de um argumento perverso, é passível de ser ele mesmo desviado por um falso ensinamento e, por sua vez, capaz de desviar outros. Um homem a quem falta educação geral e teológica normalmente não será capaz de fazer justiça à grande obra de pregação da Palavra de Deus e correrá o perigo de pregar uma mensagem desequilibrada ou parcial. Quando Deus chama um homem para a obra do ministério, também o aparelha com as habilidades e qualificações necessárias para que possa realizar a obra adequadamente.

3. Por que a nossa igreja, e a maioria das igrejas Protestantes, exige a formação superior completa num seminário para o ofício do ministério?

Quanto mais importante for a obra, mais importante será que tenham o treinamento adequado os que a realizarão. Sempre tem havido quem ache que seja perda de tempo, em maior ou menor grau, gastar sete anos na formação superior num seminário, preparando-se para a obra do ministério. Há hoje em muitas denominações a pressão constante para que essas exigências sejam relaxadas e que sejam admitidos no ministério homens que tenham menos do que isso. Alguns consideram que as matérias ensinadas em um curso superior — como filosofia, história e literatura — sejam inúteis ao ministério e uma perda do tempo que deveria ser investido “ganhando almas”. Há, da mesma maneira, quem pense que um breve “Curso de Bíblia” e mais algumas matérias práticas como a retórica religiosa (homilética) e prática pastoral devam ser suficientes e que o amplo estudo de Hebraico, Grego, História Eclesiástica e Teologia Sistemática sejam desperdício de tempo.

Ninguém que precisasse passar por uma cirurgia estaria disposto a ir a um cirurgião que obteve o seu treinamento através de atalhos. O Estado insiste, corretamente, que aqueles cujas decisões e ações envolvam a vida ou a morte de seus semelhantes estejam plenamente treinados para o exercício do seu ofício. Quão mais importante é que os ministros do evangelho, cujo trabalho pode afetar o destino eterno de seres humanos, estejam plenamente instruídos para a tarefa a eles designada. Considerando-se o espaço de tempo necessário ao treinamento na medicina e de outras doutas profissões, os quatro ou cinco anos empenhados no curso superior de um seminário não são demasiados para o treinamento ministerial.

O ministro a quem faltar o treinamento num seminário dificilmente conseguirá entender o mundo moderno ao qual tem de entregar a sua mensagem. O estudo de filosofia, história e de outras matérias acadêmicas está longe de ser uma perda de tempo. Elas apresentam o cenário do pensamento moderno e habilitam o ministro a proclamar todo o conselho de Deus de modo que confronte cabalmente a situação dos dias presentes. Semelhantemente o estudo de Grego, Hebraico, Teologia Sistemática, etc., é qualquer coisa, menos perda de tempo, pois permitem ao ministro conhecer de primeira-mão a Bíblia e seus ensinamentos, e pregar uma mensagem bíblica, consistente e integrada.

A tendência moderna de cortar os estudos “teóricos” e aumentar os estudos “práticos” na preparação para o ministério é deplorável e deve ser resistida. Existem dois tipos de seminários teológicos e institutos bíblicos. Num deles o alvo é instrumentar o estudante com uma certa quantidade de material pronto com o qual ele pode sair e ir pregar. No outro, o objetivo é colocar nas mãos do estudante as ferramentas do estudo bíblico e da pesquisa teológica e treiná-lo para usá-las corretamente. Daí, então, ele pode sair e pregar e a matéria-prima da sua pregação jamais vai se esgotar enquanto viver. Cremos que este último é que é o único e apropriado tipo de treinamento para a obra do ministério.

Não se deve entender, pelo que foi dito, que jamais haja exceções a essas regras. É óbvio que alguns dos discípulos do nosso Senhor tiveram pouca ou nenhuma educação formal, mas tornaram-se eficazes ministros da Palavra. Eles, no entanto, gozaram da inestimável vantagem de passarem três anos na companhia de Jesus sob a Sua instrução pessoal. Deus às vezes chama para o ofício ministerial um homem com pouca ou nenhuma educação formal e nesses casos excepcionais, onde está evidente a chamada divina, a igreja não deve hesitar em ordenar o candidato ao ministério. Tais casos, contudo, são muito raros, especialmente em dias em que são normais as oportunidades para a aquisição da educação. Não se deve permitir que a exceção torne-se regra.

4. Que significa “devidamente aprovados e chamados”?

Há uma chamada divina para o ministério e uma chamada da igreja. Devemos lembrar sempre que o ministério não é uma profissão, mas um ofício. Ninguém pode simplesmente decidir tornar-se um ministro da mesma maneira que decide tornar-se advogado ou exercer uma linha de trabalho. É preciso ter alguma razão para se crer que seja chamado para o ministério. Isso não quer dizer uma revelação especial do céu, como um sonho ou uma visão, mas a consciência de que se possui em alguma medida as qualificações exigidas, juntamente com o sincero desejo de pregar o evangelho, a disposição para fazer sacrifícios pela causa de Cristo e de empenhar-se para obter a preparação necessária. Deus conduzirá ao ministério, da Sua própria maneira, àqueles a quem Ele chamar.

A chamada da igreja consiste, primeiro, em autenticar a chamada de Deus pela “devida aprovação” do candidato, suas convicções religiosas, sua habilidade geral e a sua preparação acadêmica e teológica. Essa “aprovação” está normalmente dividida em vários estágios. Primeiro, o candidato é recebido sob os cuidados de um presbitério como estudante para o ministério; depois de uma preparação parcial ele é licenciado para pregar; finalmente, depois de completada a preparação e com o convite de uma congregação ou junta missionária é ordenando ao ofício do ministério.

A chamada formal da igreja é o convite de alguma congregação para que o candidato venha a ser o seu pastor, ou de alguma junta missionária ou outra agência da igreja visível para que o candidato se engaje na obra missionária local ou no estrangeiro, ou em algum outro aspecto da obra ministerial. Em todo caso, antes que o homem seja ordenado, deve haver uma chamada definitiva — seja para o pastorado de alguma congregação ou de outro campo de trabalho específico.

5. Por que antes de entrar no ofício ministerial o homem tem de ser devidamente chamado por Deus e pela igreja?

Nem mesmo o nosso Senhor Jesus Cristo fez de si sumo sacerdote, mas foi chamado por Deus para esse ofício da mesma maneira que Arão o fora (Hb 5.4-5). Apesar disso existem hoje muitos pregadores e missionários freelancers e independentes. Essa é uma tendência errada e deve ser desencorajada. Muitos desses pregadores e missionários independentes podem verdadeiramente ter sido chamados por Deus e podem estar fazendo um bom trabalho pregando a Cristo, e este crucificado; mas há uma certa falta de consideração e negligência da igreja visível como instituição divina comprometida com a atitude deles, e que não pode ser aprovada. O chamado de Deus e o chamado da igreja não são antagônicos, toda verdadeira igreja é instrumento de Deus para o treinamento e o ordenamento de homens no ofício ministerial. Alguns há que, alegando uma piedade superior, sustentam que a chamada de Deus é suficiente e que eles não precisam da chamada e da ordenação da igreja. Essa falta de respeito para com a igreja visível não é bíblica e deve ser desestimulada.

Extraído do livro Catecismo Maior de Westminster Comentado, por I. G. Vos, Editora Os Puritanos, páginas 508-511



O Catecismo Maior de Westminster é adotado oficialmente pela Igreja Presbiteriana do Brasil como sistema expositivo de doutrina e prática juntamente com o Breve Catecismo e a Confissão de Fé (CONSTITUIÇÃO DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL, CAPÍTULO I — NATUREZA, GOVERNO E FINS DA IGREJA, § 1).

quarta-feira, 20 de junho de 2012

VEM AÍ O PRIMEIRO ENCONTRO NACIONAL DE BLOGUEIROS CRISTÃOS


VINACC realizará Encontro de Blogueiros Evangélicos na 15ª Consciência Cristã

Com realização entre os dias 06 e 12 de fevereiro de 2013, acontecerá em Campina Grande-PB a 15ª edição da Consciência Cristã, que terá como tema central a passagem escrita em Romanos 12.2a- "E não vos Conformeis com este Mundo". 

Durante o Encontro acontecerão vários eventos paralelos que proporcionarão aos participantes uma programação ampla e diversificada. Em parceria com a UBE- União de Blogueiros Evangélicos- a VINACC anuncia que um destes eventos paralelos será o I ENBLOGUE- Encontro Nacional de Blogueiros Evangélicos, que receberá os seguintes preletores: Pr. Renato Vargens (ICNA/RJ), Drª. Norma Braga (IPB/CE), Pr. Carlos Roberto da Silva (AD/SP), Pr. Altair Germano (AD/PE), Valmir Nascimento (AD/MT) e Vinicius Pimentel (Voltemos ao Evangelho/SP).


Veja as temáticas que serão abordadas no I ENBLOGUE:

* “Entendendo a Blogosfera Cristã: A Gênese da blogosfera cristã: como tudo começou; A importância de existir uma blogosfera cristã; Como aumentar e melhorar a blogosfera cristã; A necessidade de qualificação dos blogueiros cristãos; Como potencializar a influência da blogosfera cristã?”

* “Blogosfera cristã: Ontem, Hoje e Amanhã: Princípios norteadores que devem reger a blogosfera cristã; A blogosfera cristã e o futuro da igreja brasileira; Qual a influência da blogosfera para a Teologia Cristã (Apologética e Cosmovisão). Blogosfera cristã: Focar o mundo, a igreja ou ambos?

* “Blogosfera cristã: Ontem, Hoje e Amanhã: Princípios norteadores que devem reger a blogosfera cristã; A blogosfera cristã e o futuro da igreja brasileira; Qual a influência da blogosfera para a Teologia Cristã (Apologética e Cosmovisão). Blogosfera cristã: Focar o mundo, a igreja ou ambos?

* “Do blog para a editora: como fazer posts se transformarem em livro: cases de sucesso”.

Dentro da programação do I ENBLOGUE acontecerá também a Mesa de debates  “A realidade dos blogs e a nova liderança intelectual”. Qual de fato é o poder da blogosfera evangélica? E por que os líderes evangélicos devem investir ou apoiar blogs reconhecidamente evangélicos? - que terá a participação de Valmir Nascimento, Altair Germano, Carlos Roberto da Silva, Renato Vargens, Vinicius Pimentel e Norma Braga.


Outra novidade já divulgada pelos organizadores do Encontro, será, em parceria da VINACC com a UBE, o lançamento de mais uma obra da Editora VCP -Visão Cristocêntrica Publicações- O livro “Manual do Blogueiro Cristão”.

A supervisão do I ENBLOGUE será do Dr. Uziel Santana Dos Santos, e a coordenação de Wallace Sousa - um dos diretores da UBE.

Publicado originalmente no site Consciência Cristã

quinta-feira, 14 de junho de 2012

APELO FANÁTICO AO ESPÍRITO EM DETRIMENTO DA ESCRITURA


Por João Calvino

Ademais, aqueles que, repudiada a Escritura, imaginam não sei que via de acesso a Deus, devem ser considerados não só possuídos pelo erro, mas também exacerbados pela loucura. Ora, surgiram em tempos recentes certos desvairados que, arrogando- se, com extremada presunção, o magistério do Espírito, fazem pouco caso de toda leitura da Bíblia e se riem da simplicidade daqueles que ainda seguem, como eles próprios a chamam, a letra morta e que mata.

Eu, porém, gostaria de saber deles que Espírito é esse de cuja inspiração se transportam a alturas tão sublimadas que ousem desprezar como pueril e rasteiro o ensino da Escritura? Ora, se respondem que é o Espírito de Cristo, tal certeza é absurdamente ridícula, se na realidade concedem, segundo penso, que os apóstolos de Cristo, e os demais fiéis na Igreja primitiva, foram iluminados não por outro Espírito. O fato é que nenhum deles daí aprendeu o menosprezo pela Palavra de Deus; ao contrário, cada um foi antes imbuído de maior reverência, como seus escritos o atestam mui luminosamente. E, na verdade, assim fora predito pela boca de Isaías. Pois o povo antigo não cinge ao ensino externo como se lhe fosse uma cartilha de rudimentos, onde diz: “Meu Espírito que está em ti, e as palavras que te pus na boca, de tua boca não se apartarão, nem da boca de tua descendência, para sempre” (Is 59.21), senão que ensina, antes, haver de ter a nova Igreja, sob o reino de Cristo, esta verdadeira e plena felicidade: que seria regida pela voz de Deus, não menos que pelo Espírito. Do quê concluímos que, em nefando sacrilégio, estes dois elementos que o Profeta uniu por um vínculo inviolável são separados por esses biltres.

A isto acresce que Paulo, arrebatado que foi até ao terceiro céu (2 Co 12.2), entretanto não deixou de aprofundar-se no ensino da lei e dos profetas, assim como também exorta a Timóteo, mestre de singular proeminência, a que se devotasse a sua leitura [1Tm 4.13]. E digno de ser lembrado é esse elogio com que adorna a Escritura: “é útil para ensinar, admoestar, redargüir, a fim de que os servos de Deus se tornem perfeitos” (2Tm 3.16). De quão diabólica loucura é imaginar como se fosse transitório ou temporário o uso da Escritura que conduz os filhos de Deus até a meta final!

Em seguida, desejaria que também me respondessem isto: porventura beberam de outro Espírito além daquele que o Senhor prometia a seus discípulos? Ainda que se achem possuídos de extrema insânia, contudo não os julgo arrebatados de tão frenético desvario que ousem gabar-se disso. Mas, ao prometê-lo, de que natureza declarava haver de ser esse Espírito? Na verdade, um Espírito que não falaria por si próprio; ao contrário, que lhes sugeriria à mente, e nela instilaria o que ele próprio havia transmitido por meio da Palavra (Jo 16.13).

Logo, não é função do Espírito que nos foi prometido configurar novas e inauditas revelações ou forjar um novo gênero de doutrina, mediante a qual sejamos afastados do ensino do evangelho recebido; ao contrário, sua função é selar-nos na mente aquela mesma doutrina que é recomendada através do evangelho.

Do Livro 1 das "Institutas da Religião Cristã".

segunda-feira, 11 de junho de 2012

AS CRISES DE DESÂNIMO DO MINISTRO


Por Charles H. Spurgeon

Como está registrado que Davi, no calor da batalha, abateu-se, assim se pode escrever de todos os servos do Senhor. Crises de depressão acometem a maioria de nós. Animados como possamos ser normalmente, a intervalos temos que ser derrubados. O forte nem sempre está vigoroso, o sábio nem sempre é expedito, o bravo nem sempre é corajoso, e o alegre nem sempre está feliz. Pode ser que existam aqui e ali homens de aço a quem o ralar e o rasgar não causam nenhum dano perceptível, mas por certo a inércia desgasta mesmo a estes; e quanto aos homens comuns, o Senhor sabe e os faz saber que não passam de pó.

Sabendo pela mais penosa experiência o que significa uma profunda depressão de espírito, sendo visitado por ela freqüentemente e a intervalos não demorados, achei que poderia ser consolador para alguns dos meus irmãos se partilhasse meus pensamentos sobre isso para que os mais jovens não imaginem que algo estranho lhes acontece quando tomados em alguma ocasião pela melancolia; e para que os mais deprimidos saibam que a pessoa sobre quem o sol está brilhando jubilosamente nem sempre andou na luz.

Não é necessário provar com citações de biografias de ministros eminentes que a maioria deles, senão todos, passou por períodos de terrível prostração. A vida de Lutero poderia ser suficiente para dar mil exemplos, e ele não era de modo nenhum do tipo mais fraco. Seu espírito grandioso esteve muitas vezes no sétimo céu da exultação, e com igual freqüência às bordas do desespero. Nem mesmo seu leito de morte ficou livre de temporais, e ele soluçou no seu último sono como um fatigado menino grande. Em vez de multiplicar casos, demoremos nas razões pelas quais estas coisas são permitidas. Por que será que os filhos da luz andam às vezes em trevas espessas? Por que será que os arautos da alvorada às vezes se acham numa noite que vale por dez?

Não será primeiro porque são homens? Sendo homens, estão enquadrados na fraqueza e são herdeiros da tristeza. Com acerto disse o sábio nos textos apócrifos de Eclesiástico 40:1-5,8: "Grande fardo foi imposto a todos os homens, e um pesado jugo posto sobre os filhos de Adão, desde o dia em que eles saem do ventre da mãe até ao dia da sua sepultura (em que eles entram) no seio da mãe comum de todos. Os seus cuidados, os sobressaltos do coração, a apreensão do que esperam, e o dia em que tudo acaba (perturbam-nos a todos), desde o que está sentado sobre um trono de glória, até àquele que jaz abatido na terra e na cinza; desde aquele que está vestido de púrpura e traz coroa, até ao que se cobre de linho cru. Tudo é furor, inveja, inquietação, perplexidade, temor da morte, rancor obstinado e contendas. Isto acontece a todos os viventes, desde os homens até aos animais, mas para os ímpios é sete vezes pior".


A graça nos protege de grande parte disso, mas devido não termos maior porção da graça, continuamos sofrendo até males que poderiam ser evitados. Mesmo sob a economia da redenção, é mais que evidente que temos que suportar debilidades; de outra forma não haveria necessidade do prometido socorro do Espírito nessas circunstâncias. É preciso que às vezes enfrentemos durezas. Aos homens de bem foram prometidas tribulações neste mundo, e os ministros podem esperar maior parte do que outros, para aprenderem a simpatizar com o sofredor povo do Senhor, e assim possam ser aptos pastores de um rebanho enfermo.

Poderiam ter sido enviados espíritos desencarnados para proclamarem a Palavra, mas não teriam penetrado os sentimentos dos que, estando neste corpo, gemem deveras, sobrecarregados que estão; os anjos poderiam ter sido ordenados evangelistas, mas os seus atributos celestiais os teriam incapacitados para terem compaixão dos ignorantes; poderiam ter sido modelados homens de mármore, mas a sua natureza impassível seria um sarcasmo para a nossa fragilidade e uma zombaria das nossas necessidades. Foi a homens, e homens sujeitos às paixões humanas, que o sapientíssimo Deus escolheu para serem os Seus vasos de bênçãos; daí estas lágrimas, estas perplexidades, estas quedas.

Do livro: "Lições aos Meus Alunos - Volume 2", Editora PES.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

COMO SERIA O MUNDO SEM O CALVINISMO?


Por Abraham Kuyper

Para provar isto, perguntem-se o que a Europa e a América teriam se tornado, se no século 16 a estrela do Calvinismo não tivesse subitamente nascido no horizonte da Europa Ocidental. Neste caso, a Espanha teria esmagado a Holanda. Na Inglaterra e Escócia, os Stuarts teriam executado seus planos fatais. Na Suíça, o espírito de indiferença teria prosperado. Os primórdios da vida neste novo mundo teriam sido de um caráter completamente diferente. E como seqüência inevitável, a balança do poder na Europa teria retornado a sua primeira posição. O Protestantismo não teria sido capaz de manter-se na política. Nenhuma resistência adicional poderia ter sido oferecida ao poder romanista conservador dos Hapsburgos, dos Bourbons e dos Stuarts; e o livre desenvolvimento das nações, como visto na Europa e América, simplesmente teria sido impedido. Todo o continente americano teria permanecido sujeito à Espanha. A história de ambos os continentes teria se tornado uma história muito triste, e sempre permanece uma questão se o espírito do Ínterim de Leipzig não teria sido bem-sucedido, por via de um protestantismo romanizado, ao reduzir o norte da Europa novamente ao controle da velha hierarquia.

Do livro: "Calvinismo" - Editora Cultura Cristã

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O QUE HÁ DE ERRADO COM O PENTECOSTALISMO?


Por Laurence A. Justice

Nós poderíamos mencionar muita coisa que existe de errado com o Pentecostalismo. Poderíamos mencionar a divisão que ele parece sempre trazer a igreja. Poderíamos mencionar a atmosfera de circo criada em cultos de adoração na igreja. Mas, aqui queremos ver somente quatro dos erros desta heresia que é o Pentecostalismo.

Primeiramente o Pentecostalismo busca aplicar ao nosso dia-a-dia aquilo que pertenceu somente aos apóstolos e ao seu tempo. Os Pentecostais ensinam que os dons extraordinários dados pelo Senhor aos apóstolos e a outros no Novo Testamento foram criados para serem atribuídos aos cristãos em todas as épocas.

O propósito dos dons carismáticos era dar autenticidade aos apóstolos e às suas mensagens no princípio do Cristianismo, já que o Novo Testamento não tinha, contudo, sido completado. Deus deu para os apóstolos alguns dons especiais pelos quais eles e as suas mensagens eram aprovadas ou autenticadas como sendo de Deus. No tempo do Novo Testamento, Deus falou através de revelações diretas aos seus apóstolos e profetas. Foram necessários sinais para confirmar que as suas mensagens eram realmente de Deus.

Paulo refere-se a estes dons como sinais de um apóstolo. Em 2 Coríntos 10-13 Paulo está defendendo a sua autoridade de apóstolo contra alguns que evidentemente estavam reivindicando que ele não o era. Em 2 Coríntos 12:12, Paulo diz: “Os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas.” Paulo diz aqui: “Eu evidenciei a vós a minha chamada de apóstolo pelos sinais que era suficiente para provar-lhe que sou um verdadeiro apóstolo de Deus.” Paulo reafirma que os sinais e os milagres provavam que ele e a sua mensagem eram de Deus, que eles autenticavam seu ministério como apóstolo. O selo da aprovação de Deus para o ministério dos apóstolos foi a efetuação de milagres, os dons milagrosos ou os sinais de um apóstolo praticados por eles.

Não estando mais os apóstolos em cena, o evangelho foi apresentado para o mundo e o Cânon do Novo Testamento ficou completo e, dessa forma, os dons de sinais especiais acabaram. Hebreus 2:3-4 demonstra claramente que estes dons especiais acabaram. “Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos (os ouvintes) depois confirmada (passado) pelos que a ouviram (os apóstolos); testificando também Deus com eles (os apóstolos, não nós), por sinais, e milagres, e várias maravilhas e dons do Espírito Santo, distribuídos por sua vontade?”

O que está errado com o Pentecostalismo? Em segundo lugar, o Pentecostalismo dá maior ênfase ao Espírito Santo do que ao Senhor Jesus Cristo. A melhor experiência para os Pentecostais é o batismo com o Espírito Santo, pois eles falam muito em ser cheio com o Espírito Santo, os dons do Espírito e ter as suas vidas cheias de bênçãos do Espírito, e para isso procuram que o homem receba o batismo com o Espírito Santo. Esta ênfase é contrária ao que a Bíblia ensina sobre o ministério do Espírito Santo.

De acordo com o Senhor Jesus, em João 16:13-14, o Espírito Santo não procura trazer o homem à consciência do Espírito. Ele os faz conscientes em relação a pessoa de Cristo. “Mas quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.”

A principal função do Espírito Santo de Deus é glorificar a Cristo e não a si mesmo. Um homem cheio do Espírito fala de Cristo, glorifica a Cristo, dá atenção a Cristo, testemunha de Cristo, para que em todas as coisas Cristo tenha a preeminência.

Em Atos 1:8 o Senhor, ressurreto, ensina-nos o propósito de enviar o Espírito Santo quando diz: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra.” No Pentecostes, quando Pedro encheu-se do Espírito Santo, sobre o que ele pregou? Não foram as bênçãos maravilhosas de uma vida cheia do Espírito! Quem ele glorificou? Não o Espírito Santo. Quando Pedro encheu-se do Espírito no Pentecostes, ele pregou a Cristo! As pessoas cheias do Espírito estão ocupadas com Cristo!

Agora, como nós reconhecemos a presença do Espírito Santo em nossas igrejas hoje, se os dons extraordinários ou carismáticos cessaram? O Espírito Santo, hoje, leva as coisas de Cristo e as mostra aos homens. Ele glorifica a Cristo, e quando o Espírito Santo enche os homens eles passam a louvar e a glorificar a Cristo.

Antes a bênção, agora o Senhor
Antes o sentimento, agora a sua Palavra
Antes os dons que eu quis, agora o próprio Doador
Antes a busca de cura, agora, apenas Cristo

Cristo é o centro da sua vida? Ele será se você for um homem cheio do Espírito.

Um terceiro mal do Pentecostalismo é a freqüente sobreposição da experiência humana à Palavra de Deus por escrito. Para os Pentecostais um modo de se encontrar a verdade é olhar para si mesmo, olhar para dentro de si, olhar para sua própria experiência. “Eu sei que isto é de Deus porque ele me faz sentir muito bem” ou “isto me faz sentir tão correto”, eles dizem freqüentemente.

O padrão para se determinar a verdade na religião deve ser a Bíblia, a Palavra de Deus escrita, em vez de nossas experiências ou as de outros. Deus diz em Isaías 8:20: “A lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles.” Amado leitor, este é o padrão, esta é a regra pela qual a verdade de todas as coisas deve ser medida: a Palavra de Deus!

Freqüentemente, quando as reivindicações dos Pentecostais são questionadas, eles respondem: “Você não sabe por que você não tem consciência de como eu me sinto! Você nunca experimentou o que eu experimentei!” Talvez não, mas o que diz o livro? Muitos dirão: “Eu sei que os dons são para hoje porque eu os tenho experimentado.” Mas se uma experiência não se enquadra com a Palavra de Deus, ela não veio de Deus!

Qualquer experiência que não está em harmonia com a Palavra de Deus não é do Senhor e não importa a natureza espetacular, incomum, impressionante ou comovente que ela possa ter.

Todas as nossas experiências devem ser fundamentadas e enquadradas pela rocha sólida da Palavra de Deus. Uma pessoa nunca deve confiar na sua própria experiência como padrão para determinar a verdade, porque nossos sentimentos mudam e também as pessoas são diferentes e têm sentimentos diferentes sobre cada assunto.

Acaso podíamos conseguir,
Maior segurança do que possuir
As lindas promessas do nosso bom Deus,
Firmadas na Bíblia pra todos os seus

Um quarto ponto que se vê como errado no Pentecostalismo, são as reuniões da igreja, feitas para discutir assuntos não pertencentes à Palavra de Deus. Uma igreja verdadeira de Jesus Cristo se reúne ao redor do púlpito. Ajunta-se para pregar a Palavra de Deus. Os pentecostais, hoje, se reúnem nas igrejas para ouvir e receber revelações especiais, sonhos, falar em línguas e ter experiências, ao invés de pregar a Palavra de Deus. É dedicado mais tempo às curas e experiências do que à declaração do evangelho de Jesus Cristo.

A confraternidade existente entre as pessoas que freqüentam tais igrejas está baseada em experiências que elas têm em comum, não em Jesus Cristo, pela Bíblia. A sua confraternidade não está baseada na doutrina de Deus, mas nos dons e nas experiências que eles podem proporcionar. Os Pentecostais podem ter confraternidade com a maior parte dos extremos liberais ou com os apóstatas que negam os fundamentos da fé e também com os fundamentalistas e os católicos romanos, para isso só importa que todos tenham o batismo com o Espírito Santo.

O Pentecostalismo enfatiza a experiência sobre a doutrina. A coisa mais importante para os Pentecostais é a experiência do batismo com o Espírito e o falar em línguas. A coisa a ser buscada e festejada não é o evangelho glorioso de Jesus Cristo, mas a experiência dos dons.

Publicado originalmente em Monergismo

quinta-feira, 31 de maio de 2012

AS FESTAS JUNINAS E A LIBERDADE CRISTÃ


Por Rev. Misael Nascimento

Um cristão protestante pode participar de festas juninas? Três respostas têm sido dadas a esta pergunta. Primeiro, há os que dizem “sim”, uma vez que entendem as festas juninas como celebrações cristãs. Afirma-se, nesse caso, que estamos diante de festejos ligados a personagens bíblicos tais como João Batista, Pedro e Paulo e isso, por si só, legitima tais festas como integrantes do calendário cristão. Essa é a posição defendida pela Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR).

Outros respondem com um absoluto “não”. Entendem que o modo como o Catolicismo Romano ensina sobre os santos não é bíblico. A Bíblia não prescreve nenhuma festa ligada aos profetas ou apóstolos, muito menos a nenhum ser humano canonizado pela igreja. Não há espaço para a crença em santos mediadores. Segundo as Escrituras “há um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm 2.5). Essa é a posição defendida pela maioria dos evangélicos tradicionais.
Uma terceira resposta inicia com um “não”, afirmando que os cristãos protestantes devem afastar-se das comemorações romanistas das festas juninas e, ao mesmo tempo, finaliza com um “sim”, abrindo espaço para a realização de arraiais gospel – festas caipiras evangélicas. Essa posição tem sido defendida por alguns evangélicos.
Aqui é recomendável lembrar as palavras do apóstolo Paulo:
"Portanto, meus amados, fugi da idolatria. Falo como a criteriosos; julgai vós mesmos o que digo. Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo. Considerai o Israel segundo a carne; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar? Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou provocaremos zelos no Senhor? Somos, acaso, mais fortes do que ele?" (1Co 10.14-22).
Um dos fatos a destacar é que, no texto em questão, Paulo trata da participação dos cristãos em refeições realizadas no contexto de rituais pagãos (Bíblia de Estudo de Genebra, 1. ed., 1999, nota 10.14, p. 1357). Sua convicção é que o cristão não deve participar de coisas ligadas à idolatria; tal ligação, em última instância, corresponde a uma “associação” com os demônios. Para o apóstolo, o problema era que os crentes, ao comer alimentos oferecidos aos ídolos, depreciavam sua comunhão com Deus na Santa Ceia, ou seja, agiam de modo inconsistente com a aliança, e, deste modo, provocavam o “zelo” do Senhor (1Co 10.18-22).

Isso pode ser transposto à questão das festas juninas por meio de um argumento de quatro pontos, qual seja:

1.    A veneração aos santos da ICAR, por ferir não apenas a recomendação de 1Timóteo 2.5, mas também Êxodo 20.3-6, é idolatria.
2.    As festas juninas, ligadas à veneração dos santos romanistas, são idólatras.
3.    O cristão, de acordo com 2Coríntios 10.14, deve fugir da idolatria.
4.    Portanto, o cristão deve fugir das festas juninas.

Anteriormente eu entendia que não havia problema em uma criança participar dos festejos juninos de sua escola. Hoje penso que o melhor é os pais explicarem a essa criança as razões pelas quais ela não participará da festa junina. É mais instrutivo, bíblico e edificante.
Mas, o que dizer da “alma caipira” que reside em nós, que nos motiva a acender fogueira, assar mandioca e batata-doce e comer bolo de fubá? Qual o problema, por exemplo, de realizar uma noite caipira ao som de modas de viola e, quem sabe, até brincar inocentemente de quadrilha evangélica? Ou criar uma “Festa dos Estados”, com barracas de comidas típicas ou algo semelhante, quem sabe até como estratégia para atrair visitantes?

Inicialmente, declaro meu respeito aos colegas pastores e irmãos em Cristo que não enxergam problemas na realização desse tipo de atividade. Eu mesmo já acreditei que isso podia ser feito sem prejuízos para o testemunho cristão e fiz isso de muito boa fé, com a alma sincera diante de Deus. No entanto, mudei de posição. Hoje, creio que a produção de versões evangélicasde festas juninas não é recomendável por algumas razões. Primeiro, porque estamos saturados de versões gospel de tudo: Temos uma quase inesgotável lista de práticas e “produtos” gospel. É preciso compreender que não fomos chamados a imitar o mundo e sim a transformá-lo (1Jo 2.15-17).

Em segundo lugar, há outro problema denominado associação. É possível que, ao participar de uma festa junina gospel, sejam feitas associações com o evento original, de origem e significado idolátricos – queiramos ou não, festas juninas estão ligadas às crenças da ICAR. Cristãos sensíveis podem sentir um desconforto inexplicável diante disso. Visitantes interessados na fé protestante exigirão explicações mais detalhadas sobre as razões da realização de tal noite caipira “calvinista”.

Sendo assim, parece-me mais adequado considerar as festas juninas evangélicas entre aquelas coisas que o apóstolo Paulo chama de lícitas, mas inconvenientes e não-edificantes (1Co 10.23). Nessas questão, pensemos primeiramente nos interesses do corpo de Cristo, e não nos nossos (1Co 10.24). Não sou contra comer bolo de milho, ou canjica, ou pé-de-moleque. Gosto de batata-doce assada na brasa e me delicio com um bom curau e uma música caipira de raiz. Desfrutemos dessas coisas, porém, na privacidade de nossos lares ou fora do contexto de festas caipiras nos meses de junho e julho. Não porque tais iguarias sejam pecaminosas em si, mas para evitar associações indesejáveis.

Somos livres para participar de festas juninas? Não. Ao participarmos de tais festas, nos ligamos em idolatria. Devemos realizar eventos caipiras gospel? Devemos participar de tais atividades? Também não. Nesse segundo caso, não porque haja idolatria envolvida, mas porque há o perigo de associações indesejáveis. O ideal é que fortaleçamos nossa identidade cristã, bíblica e protestante, desvinculando-nos de qualquer aparência do mal (1Ts 5.22).

Publicado originalmente em http://www.misaelbn.com.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

MÚSICA GOSPEL: VISÃO DE REINO OU NEGÓCIO?


Li, recentemente, dois textos relacionados à música evangélica no Brasil. Um deles foi publicado pela revista Veja, edição de 23/05/12 e trazia o título: “Deus é pop”. A reportagem de três páginas procurou retratar a mudança pela qual passou a música evangélica nos últimos tempos. De acordo com o texto, a música evangélica, tempos atrás, era assim representada: “Homens de terno alinhadinho e mulheres de saia comprida e cabelo preso, todos com a Bíblia debaixo do braço, cantam barulhentos hinos de louvor com vozes potentes, tão exageradas que até dão a impressão de que Deus é surdo e só atende às preces de quem grita”. Hoje, no entanto, as coisas mudaram. Agora a música evangélica é gospel, e é representada por “astros” e “estrelas nacionais”, num guarda-sol que abriga “os mais variados gêneros: rock, samba, soul, hip-hop e até axé music”.

Ainda, conforme a reportagem assinada por Sérgio Martins, a música gospel é “o segundo gênero mais consumido no país, atrás apenas do sertanejo”. Por tudo isto, muitos, certamente, comemoraram o reconhecimento da grande mídia ao segmento, que hoje tem acesso fácil a programas de televisão, especiais produzidos até pela, antes demonizada, Rede Globo e contratos milionários com grandes gravadoras “seculares”.

Para alcançar tamanho “reconhecimento”, a reportagem destaca que algumas mudanças precisaram ser feitas. Mudaram-se as roupas, os ritmos e até a mensagem. Antes, Deus “parecia ser sempre o Deus implacável do Antigo Testamento”. Agora, nestes tempos de popularidade, “o Deus gospel ficou bem mais camarada”.

O segundo texto sobre música evangélica eu li na versão digital da revista Cristianismo Hoje. Trata-se de uma entrevista com o pastor Paulo Cézar da Silva, líder do Ministério Logos, publicada em dezembro de 2011. A entrevista dada ao jornalista Carlos Fernandes é uma verdadeira aula de bom senso. Questionado sobre o que mudou para melhor e para pior na música evangélica ao longo dos últimos trinta anos, tempo de existência do Logos, Paulo Cézar respondeu: “Para melhor, acho que mudou a qualidade técnica. A evolução dos músicos, dos estúdios, dos instrumentos e do som é perceptível. As chances de alguém gravar e fazer um bom trabalho, hoje, são muito maiores do que antes. O que mudou para pior, com algumas exceções, foi o conteúdo, tanto do que se produz como do objetivo com que se canta”. Para Cézar, na música gospel atual “o mundanismo tomou o lugar da contextualização”, “as letras são escritas de acordo com várias influências”, compositores são levados “a compor o que seus ‘clientes’ gostam, e não o que precisam”, que hoje há muita “ganância por posição, popularidade, fama e dinheiro”, e que quando fica sabendo dos valores cobrados por muitos “artistas gospel” para suas apresentações, sente-se “enojado”. A certa altura da entrevista Paulo Cézar diz: “Vale qualquer coisa, desde que resulte em grana!  Então eu pergunto: Onde está a visão do Reino nesse negócio?”.

Aí está o ponto. Os dois textos apontam numa mesma direção: A música evangélica passou por diversas mudanças ao longo dos últimos tempos. O problema é que cada um deles intepreta essas mudanças de maneiras diferentes. A reportagem de Veja analisa os pontos considerados por muitos, positivos dessas mudanças. A entrevista de Paulo Cézar expõe muitos aspectos negativos. Qual dessas interpretações eu prefiro? É preciso dizer?

Há muito a música evangélica deixou de ser música de adoração para ser música de mercado. Seus principais representantes mudaram da categoria de adoradores para a de “artistas”, “celebridades”, “astros” ou “estrelas”. A música gospel agora é um grande negócio, e não há espaço para visão de Reino em um negócio. Visão de Reino pressupõe voluntariedade, abnegação; negócio requer receita. Visão de Reino abrange absolutos inegociáveis em nome da fé; negócio exige relativizações em função dos lucros. Visão de Reino tem princípios; negócio tem contratos. Visão de Reino cria servos; negócio inventa ídolos. Visão de Reino conclama culto a Deus; negócio agenda shows. Visão de Reino visa adoradores; negócio atrai clientes. Na visão de Reino, como disse Paulo Cézar, “crentes de verdade rendem seus talentos ao Senhor e testemunham com suas vidas o caráter de verdadeiros adoradores”. Nos negócios faz-se como o compositor gospel Anderson Freire, citado na reportagem de Veja: “Minha aliança é com Deus e com os homens”.

Grande parte da música gospel está a serviço de uma indústria de entretenimento e não a serviço da visão de Reino. Ela não representa com tanta exatidão a fé cristã e está muito longe de ser uma expressão genuinamente evangélica; é mais uma expressão do pluralismo pós-moderno, um triste retrato de uma igreja sem identidade bíblica.

Eu creio que a música cristã precisa estar a serviço da adoração a Deus e não de uma indústria. Ela deve expressar a crença do povo de Deus e identificar a fé desse povo, e não agradar a uma plateia ou produzir fãs. A música cristã deve se preocupar em ser bíblica antes de ser contextualizada.

A reportagem de Veja encerra dizendo que, no caso da música evangélica brasileira, “ainda há alguns obstáculos no caminho até os homens: as rádios comerciais em geral ignoram o grosso da produção gospel”. Em sua entrevista, o pastor Paulo César da Silva diz: “Sonho com bons músicos, crentes de verdade, que rendam seus talentos ao Senhor e testemunhem com suas vidas o caráter de verdadeiros adoradores”. A julgar por este sonho do pastor Paulo Cézar o caminho até Deus é bem mais longo.

Agnaldo Silva Mariano

terça-feira, 24 de abril de 2012

"ELES" PODEM TUDO. A DITADURA GAY NO BRASIL



Por Reinaldo Azevedo


O “Fantástico” levou ontem ao ar uma reportagem preconceituosa. Sim, é o “preconceito a favor”. A questão é saber se o “preconceito a favor de uma causa” provoca ou não danos a terceiros. A dúvida é meramente retórica porque a resposta é óbvia. O vídeo com a reportagem está aqui. Eu a reproduzo abaixo (em vermelho). Leiam com atenção. Volto em seguida.

Dois domingos atrás, o Fantástico foi a Santos conhecer um curso que se destina a formar drag queens. Durante a gravação, um aluno se destacou e, quando voltou ao trabalho, o aprendiz de drag teve uma surpresa. E não foi nada agradável. Foi Ailton aparecer no Fantástico na semana passada. “Sou psicólogo, administrador, professor da área de logística e quase drag.”, disse ele na reportagem. No dia seguinte, tudo mudou. “Um dos meus chefes simplesmente chegou para mim e disse que não era condizente com ele, que aquilo não era bom para empresa, não era bom para a imagem”, conta o professor.

A reportagem era sobre um curso de drag queen, e Ailton era um dos alunos. Ele andou de salto alto, dançou, cantou. Ele era professor de logística em uma escola, no centro de São Vicente, litoral de São Paulo. Ficou dois anos e meio no emprego. Na segunda-feira depois da reportagem, recebeu o aviso do chefe, antes mesmo de chegar ao trabalho. “Ele falou abertamente: ‘você está demitido’”, diz conta. A carta de demissão diz que Ailton foi despedido “sem justa causa”, mas ele acha que o motivo está claro. “Sofri um ato homofóbico”, desabafa.

Por isso, o professor registrou um boletim de ocorrência por “injúria”. Contou à polícia que o patrão disse que ele era uma “mancha para sua empresa”. Ailton ficou apenas com o segundo emprego, em uma entidade que oferece cursos profissionalizantes de graça. O professor é homossexual assumido e alega que o agora ex-chefe sabia disso. “Eu não imaginava que fosse gerar essa polêmica toda”, se emociona Ailton.

Procuramos o dono da empresa. Ele conversou com nossa equipe, mas não quis gravar entrevista. Em uma nota, o advogado da escola contesta a versão de Ailton. Afirma que a empresa está “indignada com as inverdades mencionadas e que tomará medidas judiciais para proteger sua honra”. O ex-patrão de Ailton negou qualquer tipo de preconceito, disse que já vinha pensando em demitir o ex-funcionário, porque o rendimento dele estava caindo e que Ailton também estava faltando. Ele achou melhor fazer o desligamento, depois que Ailton não apareceu na escola durante dois dias, porque estava participando do curso de drag queen.

Repórter: Você faltava?

Ailton: O único dia que eu faltei, foi exatamente no Sábado de Aleluia. Na quinta-feira, eu havia deixado uma atividade.


Para a presidente da Comissão Nacional de Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil, demitir por causa de duas faltas é exagero. “Não houve nenhuma advertência e simplesmente a demissão? Dois dias de falta não ensejam a demissão desta forma como foi feito. Acho que isso fica evidenciado, que foi uma demissão causada por homofobia.”, afirma Maria Berenice Dias.  Chateados, os colegas do curso de drag queen mandaram recados para o ex-patrão de Ailton.

 “Agora você deveria conversar com o Ailton e trazer ele de volta. Faz isso que eu to te pedindo. Chama ele de volta que eu acho que vai ser melhor pra todo mundo.”

 “Eu aproveitaria o marketing que o Ailton teve, colocaria ele montado de drag na frente da loja. Eu garanto que ia ter muito mais público. Pensa nisso. Contrata ele agora como drag!”, sugere Zé Carlos Gomes, coordenador do curso .

Segundo a representante da OAB, Ailton pode pedir indenização por danos morais. Mas ele não se decidiu. “Eu não sei te dizer até que ponto a indenização é interessante. Eu só sei de uma coisa: preconceito não pode existir.”

Voltei

Se a tal lei tivesse sido aprovada, a chance de o ex-patrão de Ailton ir para a cadeia seria enorme. Dispensa “por homofobia” rende pena de 2 a 5 anos de reclusão. Caso o empregador seja acusado de não contratar alguém pela mesma a razão, a coisa é ainda pior: pena de três a cinco anos. No caso em questão, a lei nem existe, mas a sentença já está dada: pela reportagem do Fantástico — não há como negar — e pela representante da OAB, todos convertidos em juízes.

Aílton não tem dúvida de que foi vítima de homofobia, claro!, embora, vejam que fantástico (!), ele seja homossexual assumido e seu patrão soubesse disso. Assim, devemos entender que seu patrão “homofóbico” contratou um homossexual assumido. Entenderam???

Muito bem! Aílton diz que faltou ao emprego num dia e deixou de “cumprir uma atividade em outro”… Mas, se ele é gay e aparece na televisão se comportando como uma drag queen, é claro que só isso pode ter decidido a sua demissão. Temos, então, que um gay não poderá mais ser dispensado por incompetência, negligência, sei lá o quê. Será sempre homofobia. Fosse ele hétero e tivesse aparecido na TV como aluno de um curso para machões, aí não haveria como alegar preconceito.

Reitero: a lei nem foi aprovada, e já há gente sendo demonizada na televisão. Ademais, pergunto: uma escola — estou falando de “escola”, não de uma empresa da área de entretenimento — tem o direito de não querer uma drag queem como professora caso considere que isso a prejudica na disputa pelo mercado? Uma pré-escola pode decidir não contratar a Tia Swellen Wonderful — que, na verdade, é o Tio João Evangelista de Souza —porque isso deixaria as crianças um pouco confusas? Segundo a lei que querme aprovar, não! Cadeia! 

Essa é a mesma lei que poderia mandar para a cadeia um padre ou pastor que coibisse a expressão da “homoafetividade” dentro de uma igreja. Atenção! Se um líder religioso desse um pito num casal hétero que estivesse trocando um beijo de língua dentro do templo, a lei o protegeria. Afinal, nos seus domínios, cabe-lhe impor o padrão moral de sua crença. Caso fizesse o mesmo com parceiros gays, poderia ficar cinco anos trancafiado. E olhem que nem seria preciso dizer palavras duras: caso os parceiros gays se sentissem psicologicamente constrangidos — uma coisa, assim, subjetiva… —, já haveria motivos para a acusação de homofobia. O texto trata até do “constrangimento filosófico”, seja lá o que isso signifique.

O que quer essa gente? Que os empregadores comecem a ficar com receio de contratar gays, já que podem estar se expondo a uma futura acusação de homofobia?