quarta-feira, 21 de julho de 2010

VEDE PRUDENTEMENTE COMO VOTAIS. NÃO COMO "CRENTES", NEM COMO "OVELHAS", MAS COMO CIDADÃOS.

É preciso ter muita cautela para falar sobre política nesta época. Qualquer descuido e a gente cai na malha fina da lei eleitoral. Mas como eu não vou fazer propaganda de ninguém, acho que não corro riscos com este post. Meu propósito aqui é falar sobre uma moléstia típica desse período: os candidatos oportunistas que se aproveitam da igreja para se eleger, ou pelo menos, tentar algum lugar ao sol.

Nesta época esses candidatos surgem aos montes, de todo lugar e credo. Vêm simpáticos, distribuindo sorrisos e abraços, destilando chavões evangélicos à vontade, ao som de paródias de músicas gospel e muito discurso maroto de que não queriam ser candidatos, mas “Deus me mostrou através de um sonho”, ou “Deus me falou através de uma irmã”; ou ainda, “Deus me levantou para fazer a diferença” e coisa e tal. E tome textos bíblicos fora de contexto para apoiar a aventura! Aí começam a chegar e-mails, santinhos e cartas em que esses candidatos apresentam indicações de "pastores famosos", como se o aval desses homens fosse garantia de alguma coisa.

Não bastasse a quantidade de material de divulgação, há ainda as visitas aos cultos, por gente que só aparece na igreja de quatro em quatro anos, fingindo de bobo e achando que a gente é igual. Pedem uma oraçãozinha aqui e uma oportunidadezinha para dar uma palavrinha ali e deixar uns folhetinhos acolá, tudo sem o menor interessezinho. Ah, meu Deus! Só de pensar fico nauseado.

Para piorar, ainda tem os pastores candidatos. Quer coisa pior do que isto? Fico pensando como esses homens têm coragem de usar o púlpito em benefício próprio! Eu penso que assim como qualquer pessoa ligada à mídia ou ao serviço público precisa deixar o trabalho ao se tornar candidato, o mesmo deveria acontecer com pastores que pleiteassem cargos políticos; deveriam ser afastados do trabalho. Não por força da lei simplesmente, mas por uma questão ética as igrejas deveriam fazer isto. Fico imaginando o constrangimento que os membros das igrejas desses pastores devem passar em períodos de campanha. E se o membro da igreja não quiser votar no pastor, como faz? O voto é secreto, alguém poderia dizer. É mesmo? Me convença!

Há muitas pessoas crentes que ingressam na política defendendo o mote: crente vota em crente. Sinceramente, abomino essa idéia. Este não pode ser o critério para se escolher os governantes. Mesmo como crentes, não podemos votar em alguém somente por ser crente, muito menos por ser pastor. Isto não é garantia de coisa alguma. O voto não é questão de fé, e sim, de cidadania. Ninguém deveria sentir-se constrangido a votar em alguém simplesmente porque é da mesma igreja ou porque é o seu pastor. Esse tipo de mentalidade é um atraso que nos remete ao tempo do chamado voto de cabresto muito comum nos tempos da República Velha.

Em época eleitoral  há ainda as igrejas e pastores que se submetem à vergonhosa prática de apoiar candidatos em troca de tijolos, estações de rádio, equipamentos de som, ônibus e outras benesses. Tudo “em nome da fé”. Fé? Deus tenha misericórdia.

O período de campanha eleitoral dura três meses. Serão três longos meses, de muito barulho, muitos santinhos, muitos e-mails, muitas visitinhas marotas aos cultos da igreja e bajulação interesseira.

Eu não creio que todos os candidatos sejam iguais. Sinceramente, acredito que há gente séria se candidatando. Há homens e mulheres fiéis a Deus desejando servir ao Senhor de maneira honesta na política. Mas nem sempre os eleitores ouvem suas vozes, nem tomam conhecimento de suas propostas sérias, porque eles são abafados pelas paródias gospel e pelo oba-oba dos oportunistas da fé. Gente séria só chegará ao poder para promover um governo sério se os eleitores forem prudentes, e se comportarem como cidadãos conscientes na hora de votar, não simplesmente como “crentes” ou como "ovelhas".


Agnaldo Silva Mariano