I. Ainda que os hipócritas e os
outros não regenerados podem iludir-se vãmente com falsas esperanças e carnal
presunção de se acharem no favor de Deus e em estado de Salvação, esperança essa
que perecerá, contudo, os que verdadeiramente crêem no Senhor Jesus e o amam
com sinceridade, procurando andar diante dele em toda a boa consciência, podem,
nesta vida, certificar-se de se acharem em estado de graça e podem regozijar-se
na esperança da glória de Deus, nessa esperança que nunca os envergonhará.
II. Esta certeza não é uma mera
persuasão conjectural e provável, fundada numa falsa esperança, mas uma
infalível segurança da fé, fundada na divina verdade das promessas de salvação,
na evidência interna daquelas graças a que são feitas essas promessas, no
testemunho do Espírito de adoção que testifica com os nossos espíritos sermos
nós filhos de Deus, no testemunho desse Espírito que é o penhor de nossa
herança e por quem somos selados para o dia da redenção.
III. Esta segurança infalível não
pertence de tal modo à essência da fé, que um verdadeiro crente, antes de
possuí-la, não tenha de esperar muito e lutar com muitas dificuldades; contudo,
sendo pelo Espírito habilitado a conhecer as coisas que lhe são livremente
dadas por Deus, ele pode alcançá-la sem revelação extraordinária, no devido uso
dos meios ordinários. É, pois, dever de todo o fiel fazer toda a diligência
para tornar certas a sua vocação e eleição, a fim de que por esse modo seja o
seu coração no Espírito Santo confirmado em paz e gozo, em amor e gratidão para
com Deus, em firmeza e alegria nos deveres da obediência que são os frutos
próprios desta segurança. Este privilégio está, pois, muito longe de predispor
os homens à negligência.
IV. Por diversos modos podem os
crentes ter a sua segurança de salvação abalada, diminuída e interrompida
negligenciando a conservação dela, caindo em algum pecado especial que fira a consciência
e entristeça o Espírito Santo, cedendo a fortes e repentinas tentações,
retirando Deus a luz do seu rosto e permitindo que andem em trevas e não tenham
luz mesmo os que temem; contudo, eles nunca ficam inteiramente privados daquela
semente de Deus e da vida da fé, daquele amor a Cristo e aos irmãos, daquela
sinceridade de coração e consciência do dever; dessas bênçãos a certeza de
salvação poderá, no tempo próprio, ser restaurada pela operação do Espírito, e
por meio delas eles são, no entanto, suportados para não caírem no desespero
absoluto.
Confissão de Fé de Westminster - Capítulo XVIII.