segunda-feira, 12 de novembro de 2007

UMA ANÁLISE SOBRE UM ARTIGO DE EDIR MACEDO (3)

"Em tudo na vida há a prática da troca. Deus a criou justamente para deixar que cada um tome sua própria decisão de fé. Em toda a Bíblia, Deus sempre sugere uma condição. Vejamos este exemplo: "Se ouvires a voz do Senhor, teu Deus, virão sobre ti e te alcançarão todas estas bênçãos (...)" (Deuteronômio 28.2). (Edir Macedo)


Quero encerrar minhas considerações sobre o artigo "Em tudo na vida há a prática da troca" de Edir Macedo, refletido sobre a afirmação acima.

3) A decisão da fé. De acordo com Macedo, a fé é apresentada como um poder humano de decidir o quando de Deus. Sem o exercício da fé por parte do homem, Deus não poderia agir.

Macedo tenta manter a visão cristã de um Deus que tem poder, ao afirmar que foi Deus quem criou a fé. Mas compromete a sua visão ao dizer que a fé criada foi entregue ao homem para ser exercida como um poder de decisão. Mais uma vez percebe-se que, na opinião do "bispo", Deus não pode ser Soberano, mas dependente da ação humana.

Nessa relação entre Deus e o homem apresentada por Edir Macedo, há uma cooperação entre o homem e Deus para a realização de uma obra, na base do: "Faça a tua parte, que eu te ajudarei". Isso significa que Deus só pode agir quando o homem decidir. Deus sabe o que é melhor para o homem; ele tem o poder de fazer, mas o seu poder só pode ser liberado quando o homem quiser. As palavras de um escritor chamado Winkie A. Pratney definem esse conceito: "O diretor sabe muito do que acontecerá no filme, mas os detalhes concernentes aos eventos menores são opções dos atores".

Sinergismo seria a palavra ideal para definir esse conceito de cooperação entre o homem e Deus apresentado na afirmação de Edir Macedo. O sinergismo é definido como "a ação simultânea e associada de vários agentes, de tal maneira que o efeito total é maior que a soma dos efeitos quando medidos separadamente". É um conceito utilizado em vários segmentos, da física às ciências sociais. Mas, quando aplicado à teologia na relação entre o homem e Deus, confronta-se com a visão bíblica da soberania divina.

Afirmar que Deus é soberano significa negar completamente qualquer poder de decisão do homem em matéria de fé. Ao ensinar a soberania de Deus, as Escrituras ensinam que Deus "é o Altíssimo, o Senhor dos céus e da terra. Não sujeito a ninguém, não influenciado por nada, absolutamente independente. Deus age como Lhe apraz, somente como Lhe apraz, sempre como Lhe apraz" (A. W. Pink). "Tudo o que Deus quis, ele o fez, nos céus, na terra, nos mares e em todos os abismos" (Sl 135. 6).

Deus é soberano e age de acordo com o seu decreto eterno, que é o seu propósito ou determinação com respeito às coisas futuras. Quando decide agir em relação ao homem, Deus o faz de acordo com o seu eterno propósito. Ao homem não cabe o poder de decidir sobre os rumos da sua vida. Deus o fez por meio de seu decreto. Não existe esse tal poder de decisão da fé porque todo poder de decisão pertence ao Deus Soberano, Governador Todo Poderoso e Supremo de tudo o que existe.

Macedo, ao afirmar que Deus criou a fé "para deixar que cada um tome sua própria decisão de fé" nega a doutrina do decreto de Deus ensinada pelas Escrituras e entrega o mundo ao caos da vontade humana. "Deus não decretou meramente criar o homem, colocá-lo na terra, e depois deixá-lo entregue à sua própria direção descontrolada; antes, fixou todas as particularidades que a história da raça humana compreende, desde o seu início até o seu fim", diz A. W. Pink em seu livro "Os decretos de Deus", onde ainda afirma que o decreto de Deus é livre, independente, absoluto e incondicional. "Sua execução não depende de qualquer condição que se pode ou não cumprir". "O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade", diz o SENHOR (Is 46. 10).

4) Posição condicional. Macedo encerra o seu artigo dizendo, erradamente, que "em toda a Bíblia, Deus sempre sugere uma condição". Ou seja, se o homem fizer a sua parte, Deus fará a dele. O homem, mesmo salvo, estaria debaixo de uma posição condicional em seu relacionamento com Deus.

Arthur Pink falando sobre a Soberania de Deus no livro "Atributos de Deus", faz algumas considerações importantes a respeito desse estado condicional. Para ele, de acordo com as Escrituras, no pacto das obras Deus soberanamente colocou Adão e Israel numa posição condicional. No caso de Adão, Deus o colocou no jardim sobre a base da responsabilidade como criatura, de modo que permanecesse ou caísse conforme correspondesse ou não à sua responsabilidade. Adão estava sob condição por causa do pacto das obras: "Se comer, certamente morrerás".

O mesmo aconteceu com Israel no Antigo Testamento. Deus o colocou numa posição condicional porque Israel também estava sob um pacto de obras. Deus deu ao povo certas leis e condicionou as bênçãos à nação à observância dos estatutos divinos. Foi o que Deus disse ao povo no texto citado por Macedo: "Se ouvires a voz do Senhor, teu Deus, virão sobre ti e te alcançarão todas estas bênçãos (...)".

No caso dos eleitos, a posição na qual eles se encontram diante de Deus não é uma posição condicional. Os eleitos são colocados num estado incondicional porque não estão mais sob o pacto das obras e sim sob o pacto da graça. As responsabilidades que pesavam sobre os eleitos caíram sobre Cristo e ele cumpriu por eles todas as estipulações do pacto das obras. Cristo foi colocado num estado condicional no lugar dos eleitos e cumpriu todas as condições, "e uma vez que as cumpriu, o Pai está comprometido, com juramento solene a preservar sempre a abençoar por toda a eternidade cada um daqueles pelos quais o Seu Filho encarnado fez mediação (...) Não lhes resta sequer uma condição para cumprir, nem uma só responsabilidade da qual desincumbir-se para alcançarem a bem-aventurança eterna. ‘...com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados’ (Hebreus 10. 14)" (Pink). Isso não anula a responsabilidade humana, mas submete-a à soberania de Deus.

Os eleitos não mais estão numa posição condicional, "bispo" Macedo. Estão, sim, numa posição incondicional e imutável no pacto de Deus, nos seus conselhos e em seu Filho. As bênçãos de Deus não dependem da ação da fé deles, mas do que Cristo fez em seu favor: "O fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: o Senhor conhece os que são seus" (2 Tm 2. 19).

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

UMA ANÁLISE SOBRE UM ARTIGO DE EDIR MACEDO (2)

"A fé é a única moeda de troca com Deus. "(...) dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão" (Lucas 6.38). Quando Ele profetizou tais palavras, Seus olhos estavam voltados para o mercado. Ele quis nos passar a idéia de troca. Da mesma forma como as pessoas trocavam dinheiro ou o valor de suas mercadorias por grãos, acontece com a prática da fé, pois ela é a moeda de troca no relacionamento com Deus". (Edir Macedo)
Continuando minhas considerações sobre o artigo "Em tudo na vida há a prática da troca".

2) Moeda de troca. Edir Macedo afirma que "a fé é a única moeda de troca com Deus". Ele demonstra não entender com exatidão as motivações do relacionamento de Deus com o homem. Para Macedo o relacionamento é comercial, não pactual.

O "bispo" usa, o texto de Lucas 6. 38, fora de contexto, diga-se, para afirmar: "Quando Ele profetizou tais palavras, Seus olhos estavam voltados para o mercado. Ele quis nos passar a ideia de troca. Da mesma forma como as pessoas trocavam dinheiro ou o valor de suas mercadorias por grãos, acontece com a prática da fé, pois ela é a moeda de troca no relacionamento com Deus". De acordo com Macedo, quando Jesus disse: "(...) dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão" ele igualou a relação entre a fé humana e as bênçãos de Deus a um negócio.

Vejamos as implicações dessa afirmação: a) Se a fé é uma moeda de troca, então isso significa que podemos comprar o favor de Deus. A fé confere ao homem direitos e estabelece deveres para Deus. Deus nunca poderá estabelecer as regras da relação pois, num negócio, como se diz costumeiramente, "o freguês tem sempre razão". Cabe a Deus colocar as bênçãos numa vitrine e esperar que o homem as compre usando a sua moeda de troca chamada fé. Macedo concebe a ideia de um Deus que está sempre à espera do homem. Um pacato comerciante aguardando pacientemente os clientes realizarem o poder de compra de sua fé. Esse não é o Deus das Escrituras, que é apresentado como Soberano, Senhor de todas as coisas, um Rei assentado no trono do universo, não dependente de ninguém ou de coisa alguma, "ele é o que está assentado sobre as redondezas da terra, cujos moradores são como gafanhotos; é ele quem estende os céus como cortina e os desenrola para neles habitar" (Is 40. 22).

b) Se a fé é uma moeda de troca, tudo o que Deus nos dá deixa de ser um ato de graça e passa a ser um ato de recompensa. Não podemos dizer que Deus nos concede um favor imerecido mas que ele não faz mais que sua obrigação. Deus passa a ser um grande devedor: "Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida..." (Rm 4.4). Spurgeon, falando a respeito da fé diz: "Fé é a língua que pede perdão, a mão que recebe; porém, não é o preço que compra. Fé nunca, por si mesma, faz sua própria demanda. Repousa seus argumentos no sangue de Cristo. Torna-se um bom servo para trazer as riquezas do Senhor Jesus para a alma porque sabe de onde as retira e admite que a graça, sozinha, confia-lhe as riquezas".

Em nosso relacionamento com Deus é absolutamente impossível imaginar que podemos trabalhar para conquistar alguma coisa da parte de Deus como se fôssemos merecedores, porque somos miseráveis pecadores. "Aquele que trabalha recebe somente o seu salário, não a justiça. Mas aquele que não se chega a Deus com alguma ideia de mérito ou lucro, mas ao invés disso confia em Deus(...). Ela é uma fé que vem com uma mão vazia, não reivindicando nada para si ou de si, mas buscando seu tudo em Cristo. Essa fé de mão vazia é o tipo de fé que resulta numa posição justa diante de Deus" (James White).

c) Se a fé é uma moeda de troca, sugere-se algo intrínseco ao homem, algo do homem para Deus. A fé seria um tipo de característica inata ao homem para ser usada quando precisar de Deus. Ao contrário disso, a Bíblia nos afirma que até mesmo a fé que temos é um dom de Deus (Ef 2. 8), e que não há em nós qualquer mérito ou justiça própria capaz de constranger Deus a fazer algo em nosso favor (Fp 3. 9).

Nosso relacionamento com Deus é pactual, baseado numa aliança de graça estabelecida por Deus, preservada por Deus e confirmada por Deus na pessoa de Jesus. Todos os méritos estão n’Ele. Tudo o que recebemos d’Ele vem por graça, não como pagamento ou reconhecimento de direitos. James White diz: "A graça maravilhosa de Deus não pode ser misturada com o mérito humano. A mão que agarra sua própria suposta bondade, ou que tenta achar um mérito aqui, uma boa obra ali, não encontrará a mão aberta da graça de Deus".

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

UMA ANÁLISE UM ARTIGO DE EDIR MACEDO (1)

"A fé é a única moeda de troca com Deus. A cada ação dela, há uma reação de Deus. E para cada manifestação de fé, existe um tipo de oferta a ser apresentada".

A afirmação acima é do bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, em artigo publicado em seu site (http://www.bispomacedo.com.br)/. Li esse artigo ontem e resolvi comentar aqui no blog minha opinião sobre as declarações de Macedo. Vou dedicar alguns posts para refutar a visão de Macedo. Se você tiver paciência, convido-o a ler.

O artigo em questão tem como título: "Em tudo na vida há a prática da troca" e apresenta a visão do "bispo" sobre o tipo de relacionamento que Deus tem com o homem, baseado não na livre graça e iniciativa divinas, mas na força de decisão humana por meio da fé. Macedo faz suas declarações sob forte influência do pensamento arminiano, o que, por si só, já compromete suas opiniões à luz das Sagradas Escrituras. A seguir, e em outros posts, procuro fazer uma análise dos equívocos teológicos cometidos por Macedo em seu artigo:

1) Ação e reação. Edir Macedo vê o relacionamento entre Deus e o homem baseado, não no conceito bíblico de graça e soberania de Deus, mas na Terceira Lei de Newton, conhecida como Lei da Ação e Reação, que afirma: "Para cada ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade". É o que Macedo compreende do relacionamento entre Deus e o homem, ao afirmar em seu artigo: "A cada ação dela (da fé), há uma reação de Deus". O relacionamento, portanto, não é baseado no caráter de Deus, não depende da iniciativa soberana de Deus, mas de uma Lei de Ação e Reação. Se o homem fizer a sua parte, Deus, de maneira irremediável, fará a dele.

É interessante observar que neste conceito, a ação será sempre do homem e a reação sempre será de Deus. Há uma inversão de valores. O homem age com a fé e Deus reage com as bênçãos. Deus deixa de ser o Autor Soberano para ser um mero coadjuvante no relacionamento. Deus nunca tomará a iniciativa; será sempre um refém da ação humana. O homem determina e Deus faz; o homem se torna soberano e Deus dependente.

Ao contrário dessa visão, as Escrituras afirmam que Deus não reage, mas age: "O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade" (Is 46. 10). "Segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa deter a sua mão" (Dn 4. 35). Deus não pode ser coagido, nem dominado pela fé humana. Sua ação é livre e soberana, não causada ou influenciada, do contrário, ele não seria Deus. O que Deus faz ou deixa de fazer não é segundo a ação humana, nem dependende dela ou meramente em resposta a ela, mas "segundo o conselho da sua vontade" (Ef 1. 11).

Por estar sob a influência sinistra do arminianismo, Macedo não crê num Deus Soberano e determinador; resta-lha, como alternativa crer num homem soberano. Como disse o Rev. Mark R. Rushdoony: "A alternativa a um Deus que decreta é um Deus espectador, um que é sujeito às ações dos homens no tempo e na história".

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

PASTORES SEM CAMPO

Temos vivido em nossa denominação um grande dilema nos tempos atuais: muitos pastores experimentando a triste realidade da falta de campo para exercer o seu ministério. Vários fatores, a meu ver, vêm contribuindo para o aumento do número de ministros ordenados na IPB. Por exemplo: o crescimento do número de candidatos ao ministério, a abertura de novos seminários em diversas regiões do Brasil, a ordenação de pastores sem curso teológico em muitos presbitérios, a recepção de pastores vindos de outras denominações, a precipitação de determinados concílios no envio e conseqüente ordenação de candidatos sem o devido reconhecimento de sua vocação. Ademais, há ainda o fato de nossa igreja não experimentar atualmente um crescimento tão destacado.

Além desses fatores, é necessário que façamos uma reflexão a respeito de outros temas como:

(1) O preparo dos nossos candidatos. A Bíblia diz que Deus concedeu uns para "apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres" (Ef 4. 11). Os nossos seminários precisam preparar os novos obreiros levando em consideração a variedade de dons concedidos por Deus à igreja para o "desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo" (Ef 4. 12), bem como as necessidades e a amplitude do ministério da Igreja. Nem só de teólogos e administradores vive a igreja. Precisamos, sim, de bons teólogos, mestres, administradores; mas precisamos também de evangelistas, plantadores de igrejas, homens capacitados para a revitalização de igrejas, conselheiros, etc.

Há muitos irmãos, servos de Deus, vocacionados, sem campo por não encontrarem em nossas igrejas locais e concílios a oportunidade de desenvolver seu ministério específico; e por insistirem em ser teólogos e administradores, acabam frustrados e rejeitados pelas igrejas locais e concílios. Vivemos sob uma cultura de que cada igreja deve ter UM pastor para cuidar de todas as áreas. Em muitas igrejas os pastores precisam ser, ao mesmo tempo (e com eficiência) pregadores, evangelistas, psicólogos, pedreiros, superintendentes de Escola Dominical, conselheiros de sociedades, instrumentistas, secretários de conselhos e até zeladores. Tanta carga vem acrescida de cobranças por resultados por parte dos Conselhos e Presbitérios, gerando nos obreiros insegurança e frustração.

(2) Outro fator que considero decisivo é a nossa falta de investimento como pastores em nosso ministério. Às vezes nos contentamos apenas com o diploma e o conhecimento adquiridos nos bancos do seminário e não investimos na atualização, capacitação teológica, não participamos de congressos, novos cursos, e passamos temporadas sem sequer comprar ou ler novos livros. Como pastores, nunca podemos nos acomodar; precisamos estar sempre atualizados, buscando novas alternativas ministeriais, novas ferramentas e aperfeiçoamento nas áreas de atuação específicas do nosso ministério. Pastores acomodados e desatualizados terão dificuldades em desempenhar o ministério num tempo de grandes transformações como o nosso.

(3) Vejo ainda um outro problema: a visão de muitos conselhos e igrejas de que o pastor é uma peça facilmente descartável: "Não deu certo, vamos arranjar outro". Há pastores sendo dispensados de igrejas porque pregam muito, outros porque pregam pouco; uns porque não visitam, outros porque não tocam violão; alguns por discordarem dos presbíteros, outros por não agradarem os adolescentes, etc. As igrejas e conselhos precisam valorizar os pastores como homens vocacionados por Deus, e dar-lhes condições de exercer o seu ministério com alegria e segurança. Pastores não são objetos que a igreja usa e joga fora quando acha que não servem mais.

(4) Outro fator que considero preocupante é a idéia, muito comum em nossos dias, de que a igreja precisa "contratar" um pastor que tenha o "perfil da igreja". Muitas igrejas locais imaginam ter um "perfil" no qual nenhum pastor de seu presbitério se encaixa. Reconheço que pastores e igrejas têm características específicas, mas a vocação ministerial tem uma finalidade prescrita: "O aperfeiçoamento dos santos para o desenvolvimento do seu serviço, a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura de Cristo" (Ef 4. 12 a 13). O perfil da igreja de Cristo já está definido na sua missão. Características específicas são ferramentas dadas por Deus para o desempenho da missão da igreja. Se a Igreja é de Cristo e se os pastores são vocacionados por Deus, não deveria haver pastor sem "perfil" para desenvolver o ministério em qualquer igreja local. Além do mais, quem definiu esse "perfil" da igreja? Deus ou a conveniência humana?

Sei que há muitos outros fatores, e reconheço que a simples identificação deles não resolverá esse sério problema em nossa denominação. É preciso refletir com serenidade e piedade, e rogar a Deus que nossa querida IPB experimente um tempo de mudança em que, ao invés de dispensar obreiros, possamos rogar ao Senhor da seara: "Mande, Senhor, mais trabalhadores, porque os campos são muitos e os trabalhadores são poucos".

domingo, 4 de novembro de 2007

REFORMA PROTESTANTE: 490 ANOS

No último dia 31 de outubro a Reforma Protestante completou 490 anos. Nenhuma notícia na TV, nenhuma referência nos jornais ou revistas seculares, pouquíssima lembrança entre os evangélicos.

A Reforma Protestante foi um marco na história universal. Um brado contra posturas e imposições de uma igreja caótica, soberba e paganizada.

Na "era das trevas", a luz do mundo jazia ineficiente debaixo dos alqueires do poder e da pompa cerimonial, obscurecida sob o pálio da infalibilidade papal, inconsistente, irrelevante diante do pecado, insípida...

O protesto de Lutero trouxe à tona o que se passava nos porões da espiritualidade medieval e convocou a verdadeira Igreja de Cristo a um retorno aos oráculos antigos, à Escritura, Sola Scriptura.

Mais que um dia a ser lembrado, 31 de outubro é um dia para se fazer uma profunda reflexão: será que estamos hoje, como protestantes, mantendo vivas as chamas acesas naquele dia? Será que os ideais da Reforma Protestante ainda sobrevivem na igreja do nosso tempo? Podemos nos considerar realmente protestantes, reformados?

Nesse tempo pós-moderno, a igreja evangélica não tem muita coragem de protestar. Protesto soa como briga, parece agressivo. É politicamente incorreto. Há tantos males no mundo e no cristianismo pós-modernos quanto havia na era medieval. Faltam-nos Luteros. Falta-nos virilidade teológica. Faltam-nos ideais mais elevados que apenas os números.

Em tempos como os nossos é vital para a igreja evangélica brasileira observar a sua prática a fim de aproximar-se dos ideais que impulsionaram o movimento protestante do século XVI. Precisamos de uma igreja firme, consistente, missionária, bíblica. Precisamos de uma igreja reformada, sempre se reformando à luz das Escrituras.

Sola Gratia.