quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

COM QUANTOS “ISMOS” SE FAZ UMA DEMAGOGIA

A demagogia sempre esteve presente na história. Os demagogos são figuras características dos sistemas políticos. Eles surgem em meio às incertezas como porta-vozes da esperança, os libertadores, salvadores da pátria. Na história do nosso país não faltam personagens assim. Seja nos sertões ou nas grandes urbes, seja construindo pontes sobre córregos vazios ou cidades no meio do nada, os demagogos sempre estiveram em cena. Mas a verdade é que, nunca na história deste país, a demagogia fez tanto sucesso e alcançou índices tão exuberantes de popularidade como nestes tempos de lulismo no poder.

O lulismo era um sonho; o sonho virou presidente, e o presidente quer virar mito com o lançamento do filme “O Filho do Brasil”. A demagogia precisa do elemento mitológico para sobreviver. É este elemento que cria o fascínio e sustenta a crença nas suas imponderáveis alegações. Ninguém se iludiria com uma demagogia se por trás dela não houvesse um mito amparando as teses e lhe dando um aspecto de plausibilidade.

Os mitos que sustentam as demagogias são, em geral, aparentemente, humildes e simplórios. Mas na realidade são vaidosos e egocêntricos. O lulismo é assim; na aparência é humilde como um simples filho do Brasil. No entanto, a realidade é outra. O lulismo não se vê apenas como “UM” filho do Brasil; ele quer ser “O” filho. O lulismo se vê como o modelo de filho da pátria, o grande exemplo, o maior referencial, o primogênito da nação. Nada poderia ser mais narcisista.

Na realidade o narcisismo lulista não está satisfeito em ser apenas um simples “Filho do Brasil”. O lulismo quer ser o “Pai da Pátria”; ele se comporta como o Salvador da nação. O lulismo quer passar para a história como aquele que verdadeiramente descobriu o Brasil. O lulismo pode até reconhecer que não inventou a roda, mas, seguramente, acredita que foi ele quem descobriu a sua utilidade.

O lulismo é também egocêntrico, não vê nada além de si mesmo. Seu egocentrismo permite declarações auto-intituladas de ser o melhor em tudo. Um tipo perigoso de ufanismo que lhe assegura imunidade irrestrita a fim de justificar quaisquer de seus atos, inclusive os mais suspeitos. O ufanismo lulista não respeita regras, porque faz as suas próprias em benefício do seu próprio idealismo. Idealismo este que faz a nação aproximar-se perigosamente de tantos “ismos” inconseqüentes, como o castrismo cubano, o chavismo venezuelano, o terrorismo iraniano ou até mesmo acolher o anti-democratismo zelaysta, sem dar à nação o direito de opinar se quer ou não fazer parte dessa confraria de “ismos” avessa às liberdades e direitos próprios da democracia.

O lulismo é pateticamente cínico. Finge não saber o que todos sabem e muitos provam. Ninguém esqueça que o cinismo lulista negou com absurda soberba o inegável fato do mensalão e seus dólares escondidos até em partes íntimas de alguns de seus pares.

O lulismo é fruto do malfadado socialismo, aquela utopia que já morreu há muito tempo, e muitos não querem sepultar. Infiltrou-se na vida pública através do atalho do sindicalismo, e fez deste viés um chamariz para o messianismo que o transformou em herói nacional e o colocou nos braços do povo. O populismo é a arma da demagogia lulista, é o seu maior trunfo. Inflamar as massas com discursos carregados de erros de português e até palavrões faz parte da cartilha demagógica lulista, um truque para não cair na malha fina do bom senso.

O nacionalismo é pródigo em criar os pseudo-messias, os impecáveis heróis defensores dos desfavorecidos. Puro sentimentalismo inconseqüente. O sentimentalismo lulista ignora os seus próprios pecados, transformando acusações de crimes em perseguições maldosas. A demagogia lulista não aceita oposições. O lulismo sempre é a vítima quando se trata dos seus próprios erros e dos seus capangas; mas sempre o herói, o descobridor, mesmo com os acertos dos outros.

O ignorantismo lulista age contra a liberdade de imprensa. Ela é sempre uma ameaça, uma pedra no caminho do seu pragmatismo messiânico. Pragmatismo este que combina esmola e cotas raciais, transformando o assistencialismo numa arma de manipulação de quem acredita que o Estado é servo do seu chefe e dependente dele. Há que se ressaltar que numa democracia o Estado nunca poderá ser menor do que quem o comanda. Assim sofreram tantas civilizações (e ainda sofrem outras) dominadas pelo despotismo que viu no totalitarismo uma medida de segurança contra o prejuízo nacional. Mas a história tem provado que o maior prejuízo para uma nação é o oportunismo de quem se julga insubstituível e deflagra uma guerra contra a sanidade do povo ao pensar por ele em beneficio do idealismo daqueles que não querem deixar o poder. É o que o lulismo faz ao determinar por si e para si quem é melhor para Brasil, sem dar ao país a chance de comparar e escolher com base na realidade, não em um realismo inventado por agências de marketing.

O maior ideário do lulismo é, talvez, o mais perigoso entre todos os outros "ismos": o continuísmo. Esta, sim, é uma arma capaz de destruir as esperanças. Se, conforme alegado, a esperança havia vencido o medo quando o lulismo chegou ao poder, hoje a demagogia tem vencido a esperança, tentando impor à nação a sua perpetuação. O continuísmo lulista é planejado no ilusionismo que tenta criar uma imagem messiânica numa candidata sem expressão, sem projeto e sem graça. É ainda engendrado no sincretismo que aliançou, sem pudores, o lulismo ao velho brizolismo, ao nada ético sarneismo e, se pudesse aliançaria até Jesus a Judas.

A demagogia lulista acredita piamente no estabelecimento de uma nova ordem mundial, na qual o lulismo está no centro. De repente o mundo passou a girar em torno do lulismo, e sem ele, nada do que foi feito se fez. Essa demagogia quer fazer o povo pensar que o lulismo é indispensável à nação pelos próximos séculos.

É bem verdade que as demagogias sempre fizeram parte da história, mas a historia já superou muitas delas. O lulismo é só mais uma demagogia. E que a história nos prove mais uma vez que, de tempos em tempos, o povo se enfada e volta a ter uma nova esperança.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

QUE PROBLEMA HÁ SE AS IGREJAS EVANGÉLICAS CANTAREM MÚSICAS CATÓLICAS?

Escrevi recentemente um texto neste blog no qual expus minha opinião contrária quanto à aproximação do cantor André Valadão com a banda católica Rosa de Saron. Embora haja quem considere aquela situação uma grande dádiva de unidade, tenho muitas razões para continuar afirmando que aquela estratégia não passa de ecumenismo barato que em nada contribui para o Evangelho. Mas o tema da aproximação entre católicos e evangélicos em relação à música é recorrente, e parece tornar-se cada vez mais provocante.

Os católicos, assim como os evangélicos, sempre cantaram. Nunca houve um período em que o catolicismo não se utilizasse da música como instrumento de proclamação da sua fé. O que ocorre é que, com o fortalecimento do movimento de renovação carismática ocorrido no Catolicismo após o Concílio Vaticano II, inaugurou-se uma nova fase da música católica. A chamada “música católica popular”, surgida por volta da década de 60, veio como uma espécie de defesa, e, ao mesmo tempo, de “contra-ataque” do catolicismo contra a força protestante na utilização do recurso musical como meio de propagação de sua mensagem. Deste período vem a utilização de instrumentos populares e de uma linguagem mais acessível e emotiva nas canções, limitando o uso da formalidade, não só dos instrumentos clássicos, mas também do palavreado tradicional.

Um dos precursores desse movimento foi o Padre Zezinho, que por um longo tempo foi o único cantor de grande expressão no catolicismo. Na década de 80 o avanço de uma musicalidade mais popular dentro do Catolicismo deu-se, principalmente, através da Comunidade Canção Nova, que passou a produzir suas próprias canções e a inserir, no repertório católico, músicas produzidas e cantadas pelos evangélicos.

A grande revolução da música católica popular ocorreu em meados da década de 90, com o surgimento da banda Vida Reluz, da Banda Canção Nova e o grande crescimento de gravações musicais de padres populares como Marcelo Rossi e Antônio Maria. Hoje destacam-se nomes na música católica como Dunga, da Comunidade Canção Nova, Anjos de Resgate, Padre Fábio de Melo e Rosa de Saróm, entre outros.

As músicas produzidas por esse segmento do Catolicismo têm repercutido não apenas no seu contexto original, mas tem chegado às residências e igrejas evangélicas, produzindo, em alguns desses espaços, grande discussão a respeito de ser lícito ou não os evangélicos cantarem músicas católicas em seus cultos.

O meu problema com as músicas católicas está na ideologia que as originou. Acredito que a música é um poderoso instrumento para qualquer segmento religioso expressar a sua ideologia e atrair a atenção; afinal, a música cativa e, muitas vezes, é o veículo mais fácil para se chegar às massas e convencê-las ou, no mínimo, gerar interesse pelo que aquele segmento prega. Os cantores católicos populares usam a música para expressar a sua fé católica. Eles não deixaram de ser católicos, nem de crer e defender os dogmas da sua religião que, diga-se de passagem, na maioria dos casos ferem absurdamente o conteúdo da fé genuinamente bíblica. Aliás, alguns desses dogmas estão lá; ainda que sutilmente, mas estão. Por exemplo, no mesmo CD em que o Rosa de Saron canta: “Mesmo na tempestade, mesmo que se agite o mar, te louvo, te louvo de verdade”, há uma canção que diz: “Não chore, linda menina, mas clame sem cessar, Ave, Ave, Ave Maria”. A melodia e as letras das músicas simplesmente camuflam aquilo que está no coração católico dos cantores. Além do mais, uma vez que essas canções foram produzidas, gravadas e divulgadas por bandas reconhecidamente católicas, elas representam o segmento no qual foram geradas; portanto, quando os evangélicos as cantam em seus cultos, automaticamente faz-se uma associação com catolicismo, o que, em muitos casos, gera uma idéia de que não há nada que faça distinção entre catolicismo e o protestantismo. Neste caso, o problema, em minha opinião, está nessa associação, que pode causar confusão na mente de alguém que, estando no romanismo, não perceba as diferenças e acredite que está tudo bem com o seu catolicismo.

Infelizmente, muitas pessoas acreditam que não devemos ressaltar as diferenças entre o catolicismo e a fé protestante, por isso buscam no repertório católico, novas opções de “louvor” para suas igrejas. Mas eu acredito que, em tempos como os nossos, as diferenças entre esses segmentos precisam ser evidenciadas, para que cada um busque apresentar suas razões de fé e deixar evidente a sua identidade. Não vejo nenhum benefício no sincretismo religioso, nem no ecumenismo, ainda que ele pareça belo e piedoso.

Minha opinião é de que nem tudo que fala de Deus realmente vem de Deus. Jesus disse: “Nem todo o que me diz: Senhor! Senhor! entrará no reino dos céus” (Mt 7. 21). O diabo também chamou Jesus de “Filho do Deus Altíssimo” (Mc 5. 7). Nem tudo que tem aparência de piedade é, de fato, agradável a Deus, pois, no fim, nega o seu poder (2 Tm 3. 5). O povo de Israel, por se aproximar dos cultos falsos, desconsiderando as diferenças que lhe afastavam deles, abandonou o verdadeiro culto a Deus e embrenhou-se num paganismo que culminou por destruir a nação. Incorporar elementos contaminados pela idolatria no culto a Deus sempre trouxe grandes prejuízos ao povo de Deus, nunca a bênção.

Acredito que os evangélicos podem louvar a Deus sem precisar recorrer ao que os católicos produzem debaixo de suas crenças idólatras. Ainda que algumas dessas canções falem daquilo que nós também cremos, não há razão para nos associarmos a uma fé que nega alguns princípios básicos da fé bíblica. Sou contra qualquer tipo de aproximação com o catolicismo romano, como sou contra qualquer aproximação com qualquer religião ou crença que negue a centralidade das Escrituras e o senhorio de Cristo. Assim como não justifica cantar músicas espíritas nos cultos evangélicos, embora algumas delas falem de Jesus ou de Deus, não justifica cantar músicas que venham do catolicismo. Como já havia afirmado aqui mesmo neste blog, creio que as diferenças que nos separam do catolicismo são maiores que qualquer aparência que, supostamente, nos une. Não há razão para sermos associados ao catolicismo romano se ele insiste em não voltar às Escrituras.

O grande problema é que a maioria das igrejas evangélicas prefere copiar o modismo em matéria de música do que voltar-se para a Bíblia e produzir seus cânticos baseados nos ensinamentos revelados por Deus. Preferem copiar o que todo mundo está fazendo sem obedecer critérios elementares como o bom senso e a verdade. Em muitos casos, não importa se é verdade ou não o que se está cantando; o importante é se está na moda. São critérios assim que permitem às igrejas evangélicas cantar aquilo que, muitas vezes, nega a sua própria fé. E é por isso que o catolicismo romano tem feito tanto sucesso atualmente no meio evangélico.