sábado, 6 de agosto de 2011

INTEGRIDADE PASTORAL

Por David Fisher

O poder suscita grande capacidade de corrupção. A vida pastoral envolve autoridade. Os pastores têm o poder organizacional, pessoal, espiritual e financeiro — o poder da confiança, do ofício e das almas.

Abuso de poder é o mais básico de todos os males, e ele jaz no coração do fracasso pastoral. O antídoto é o fundamental valor cristão da submissão. Todo pastor necessita estar submisso não apenas a Deus, mas também à Igreja de Cristo. Um corpo dentro da congregação precisa zelar por nossas almas. As denominações deveriam gastar menos tempo tratando de assuntos organizacionais e mais tempo pastoreando os pastores. E muitos precisam fazer amizade com outros ministros de fora da congregação, a fim de que sejam auxiliados nas difíceis questões de suas vidas e sua fé. Por uma questão de integridade, nossas existências devem combinar com o Evangelho que proclamamos, exatamente como a vida interior da congre¬gação deve refletir o caráter de Cristo.

No passado, quando enfrentei pela primeira vez o muro da desilusão, lembrei-me de procurar nas obras de Paulo uma palavra que me encorajasse a enfrentar a montanha russa de minha vida, repleta de altos e baixos. Certamente não queria entregar o meu espírito ao cinismo e desenvol¬ver um coração amargo dentro de mim. Eu vira isso acontecer com outros companheiros de ministério, e isso me assustava. Voltei-me para as cartas aos coríntios, pois sabia que a experiência do apóstolo com eles era muito pior do que qualquer coisa que eu enfrentara. E, com cer¬teza, Paulo sentiu todos os altos e baixos que eu experi¬mentei. No capítulo 4 da primeira carta, depois de um longo discurso sobre o que significa o ministério apostóli¬co, ele diz que era injuriado, caluniado e perseguido. Considerava-se "o lixo deste mundo, e como a escória de todos" (v. 13). Meu diário nunca refletiu tal intensidade.

Paulo lidou bem com a sua própria desilusão. Ele disse: ''Quando somos injuriados, bendizemos; quando somos perseguidos, sofremos; quando somos difamados, conso¬lamos" (w.12,13). Aparentemente, o apóstolo era capaz de oferecer a outra face do rosto, quando estava sob o senhorio de Cristo. Sua submissão a Jesus estabeleceu um triunfo em seu coração. Seu remédio para a desilusão dos pastores e das igrejas é uma palavra adequada para o nos¬so tempo. Os ministros do Evangelho por vezes sentem-se traídos por sua educação no seminário, pelos oficiais da denominação e por suas congregações. Os leigos, jovens e velhos, sentem a traição por toda parte, até mesmo dentro da igreja.

A desilusão é uma oportunidade para a integridade. Outra dupla metáfora paulina ajudará os pastores de hoje na luta pela integridade. Paulo disse à igreja em Corinto que o considerasse e aos seus colegas ministros como "servos de Cristo, e mordomos dos mistérios de Deus" (1Co 4:1, minha paráfrase).

David Fisher em: "O Pastor do Século XXI" - Editora Vida.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

AMY WINEHOUSE E MINHA LEMBRANÇA DE ERASMO DE ROTERDÃ

Amy Winehouse morreu e foi cremada. Muito já se falou sobre sua vida desregrada e sobre sua morte precoce. Muita gente boa já escreveu bons textos a respeito da cantora inglesa encontrada morta no dia 23 de julho em Londres. Mas é difícil passar sem escrever algo a respeito dela. O Rev. Augustus Nicodemus Lopes escreveu um brilhante texto sobre Amy Winehouse no blog Tempora Mores, onde diz que “Aos 27 anos, Amy chegou ao fim de uma vida atribulada, marcada por escândalos, internações, sofrimento, fama, riquezas e popularidade”. Um fim previsível, diga-se de passagem.

A vida curta de Amy Winehouse parece ter sido vivida no anseio pela morte, como diz a canção Posmortem, da banda americana de thrash-metal Slayer: “O desejo pela morte é a sua razão de viver”. Outro trecho da canção diz: “Você quer morrer!!!”. Amy parecia querer mesmo. E conseguiu.

A morte anunciada de Amy Winehouse fez com que muitas pessoas se lembrassem de outros artistas que perderam a vida precocemente, vítimas de seus próprios abusos e exageros. Muitos se lembraram de Kurt Cobain, vocalista da banda americana Nirvana, morto em 1994; de Jimi Hendrix, morto em 1970; de Janis Joplin, também morta em 1970, entre outros artistas que perderam a vida precocemente, no auge da carreira, especialmente, por causa de abuso de drogas.

Ao tomar conhecimento da morte de Amy Winehouse, sinceramente, não me lembrei de nenhum desses artistas, até porque não conheço nenhuma das canções deles. Na verdade, me lembrei de Desiderius Erasmus Roterodamus, ou, simplesmente, Erasmo de Roterdã, teólogo neerlandês que viveu entre os séculos 15 e 16. Erasmo escreveu, entre outras obras, “O Elogio da Loucura”. Tive o prazer de ler esta obra há alguns anos e pude reviver parte da leitura nestes últimos dias. Principalmente para refletir sobre Amy Winehouse.

Amy Winehouse foi uma filha rebelde, uma jovem sem limites que desde os 17 anos já consumia drogas. Tornou-se viciada em álcool, foi presa várias vezes devido aos seus excessos, namorava um sujeito também viciado e dono de uma extensa ficha policial, e freqüentemente aparecia bêbada em seus shows; enfim, Amy Winehouse era um péssimo exemplo para qualquer jovem. Seu comportamento depravado deveria ser motivo para que as pessoas rejeitassem qualquer influência sua. Mas, ao contrário disto, Amy Winehouse acumulou fãs em todo o mundo e seu estilo de vida ditou moda e se tornou, para muitos, regra de conduta.

Erasmo de Roterdã morreu em 1536, aos 70 anos de idade. Viveu duas vezes e meia a vida de Amy Winehouse. O suficiente para questionar o por que de tantas pessoas aprovarem o que é reprovável, imitarem o que é vergonhoso e amarem o que deveria ser detestável. Em seu “Elogio da loucura”, Erasmo traduz um pouco da inquietação que a admiração que Amy Winehouse conquistou, a despeito de sua vida dissoluta, produz na mente de quem não quer se conformar a esses padrões distorcidos: “Quanto menos talento possuem, tanto mais orgulho, vaidade e arrogância têm. Todos esses loucos, entretanto, encontram outros loucos que os aplaudem, pois, quanto mais uma coisa contraria o bom senso, tanto maior o número de admiradores que atrai; o que existe de pior é sempre o que lisonjeia o maior número; e nada é mais natural, pois, como já vo-lo disse, a maior parte dos homens são loucos. Ora, visto que os artistas mais ignorantes estão sempre contentes com a sua pequenina pessoa e gozam da admiração do maior número, errariam, e muito, se se dessem a trabalhos enormes para adquirir verdadeiro talento o qual não serviria, afinal, senão para fazer desvanecer a vantajosa idéia que eles têm do seu próprio mérito, para torná-los mais modestos, para diminuir grandemente o número dos seus admiradores”.

Agnaldo Silva Mariano