sexta-feira, 9 de novembro de 2007

UMA ANÁLISE SOBRE UM ARTIGO DE EDIR MACEDO (2)

"A fé é a única moeda de troca com Deus. "(...) dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão" (Lucas 6.38). Quando Ele profetizou tais palavras, Seus olhos estavam voltados para o mercado. Ele quis nos passar a idéia de troca. Da mesma forma como as pessoas trocavam dinheiro ou o valor de suas mercadorias por grãos, acontece com a prática da fé, pois ela é a moeda de troca no relacionamento com Deus". (Edir Macedo)
Continuando minhas considerações sobre o artigo "Em tudo na vida há a prática da troca".

2) Moeda de troca. Edir Macedo afirma que "a fé é a única moeda de troca com Deus". Ele demonstra não entender com exatidão as motivações do relacionamento de Deus com o homem. Para Macedo o relacionamento é comercial, não pactual.

O "bispo" usa, o texto de Lucas 6. 38, fora de contexto, diga-se, para afirmar: "Quando Ele profetizou tais palavras, Seus olhos estavam voltados para o mercado. Ele quis nos passar a ideia de troca. Da mesma forma como as pessoas trocavam dinheiro ou o valor de suas mercadorias por grãos, acontece com a prática da fé, pois ela é a moeda de troca no relacionamento com Deus". De acordo com Macedo, quando Jesus disse: "(...) dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão" ele igualou a relação entre a fé humana e as bênçãos de Deus a um negócio.

Vejamos as implicações dessa afirmação: a) Se a fé é uma moeda de troca, então isso significa que podemos comprar o favor de Deus. A fé confere ao homem direitos e estabelece deveres para Deus. Deus nunca poderá estabelecer as regras da relação pois, num negócio, como se diz costumeiramente, "o freguês tem sempre razão". Cabe a Deus colocar as bênçãos numa vitrine e esperar que o homem as compre usando a sua moeda de troca chamada fé. Macedo concebe a ideia de um Deus que está sempre à espera do homem. Um pacato comerciante aguardando pacientemente os clientes realizarem o poder de compra de sua fé. Esse não é o Deus das Escrituras, que é apresentado como Soberano, Senhor de todas as coisas, um Rei assentado no trono do universo, não dependente de ninguém ou de coisa alguma, "ele é o que está assentado sobre as redondezas da terra, cujos moradores são como gafanhotos; é ele quem estende os céus como cortina e os desenrola para neles habitar" (Is 40. 22).

b) Se a fé é uma moeda de troca, tudo o que Deus nos dá deixa de ser um ato de graça e passa a ser um ato de recompensa. Não podemos dizer que Deus nos concede um favor imerecido mas que ele não faz mais que sua obrigação. Deus passa a ser um grande devedor: "Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida..." (Rm 4.4). Spurgeon, falando a respeito da fé diz: "Fé é a língua que pede perdão, a mão que recebe; porém, não é o preço que compra. Fé nunca, por si mesma, faz sua própria demanda. Repousa seus argumentos no sangue de Cristo. Torna-se um bom servo para trazer as riquezas do Senhor Jesus para a alma porque sabe de onde as retira e admite que a graça, sozinha, confia-lhe as riquezas".

Em nosso relacionamento com Deus é absolutamente impossível imaginar que podemos trabalhar para conquistar alguma coisa da parte de Deus como se fôssemos merecedores, porque somos miseráveis pecadores. "Aquele que trabalha recebe somente o seu salário, não a justiça. Mas aquele que não se chega a Deus com alguma ideia de mérito ou lucro, mas ao invés disso confia em Deus(...). Ela é uma fé que vem com uma mão vazia, não reivindicando nada para si ou de si, mas buscando seu tudo em Cristo. Essa fé de mão vazia é o tipo de fé que resulta numa posição justa diante de Deus" (James White).

c) Se a fé é uma moeda de troca, sugere-se algo intrínseco ao homem, algo do homem para Deus. A fé seria um tipo de característica inata ao homem para ser usada quando precisar de Deus. Ao contrário disso, a Bíblia nos afirma que até mesmo a fé que temos é um dom de Deus (Ef 2. 8), e que não há em nós qualquer mérito ou justiça própria capaz de constranger Deus a fazer algo em nosso favor (Fp 3. 9).

Nosso relacionamento com Deus é pactual, baseado numa aliança de graça estabelecida por Deus, preservada por Deus e confirmada por Deus na pessoa de Jesus. Todos os méritos estão n’Ele. Tudo o que recebemos d’Ele vem por graça, não como pagamento ou reconhecimento de direitos. James White diz: "A graça maravilhosa de Deus não pode ser misturada com o mérito humano. A mão que agarra sua própria suposta bondade, ou que tenta achar um mérito aqui, uma boa obra ali, não encontrará a mão aberta da graça de Deus".

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