terça-feira, 14 de outubro de 2008

SOLA SCRIPTURA (Parte 2)



AS ESCRITURAS SAGRADAS TÊM SUPERIORIDADE EM RELAÇÃO À TRADIÇÃO E AS EXPERIÊNCIAS.

Um dos mais eficazes métodos da Igreja Romana para manter as pessoas presas ao seu terrível corolário dogmático é a declaração do valor das tradições em matéria de fé e prática. Ou seja, para a Igreja Romana, nem tudo o que a Igreja crê e pratica precisa estar na Bíblia. Se a tradição da igreja definiu algo como aceitável e correto, assim deve ser mantido para sempre, independentemente de ser ou não especificado nas Escrituras.

O Catecismo da Igreja Católica diz nos parágrafos 81 e 82: “Quanto à Sagrada Tradição, ela ‘transmite integralmente aos sucessores dos apóstolos a Palavra de Deus...’” “...a Igreja... não deriva a sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura. Por isso, ambas devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência”. Eis uma terrível blasfêmia contra as Escrituras. Comparar a autoridade das Escrituras com tradições humanas é, no mínimo, um ato de blasfêmia.

A Igreja Romana entende que a tradição da Igreja e a autoridade do Papa é infalível. Portanto, tudo o que a igreja ou o Papa ensinar estão livres de erros. Com tal declaração, os católicos caem no grosseiro erro de colocar a autoridade humana em mesmo nível que a autoridade das Escrituras. Esta doutrina não é ensinada nas Escrituras, mas foi incorporada à vida da Igreja no ano 1076.

O autor reformado Paulo Cristiano da Silva argumenta com precisão: “A posição oficial do catolicismo em relação à Bíblia é que a Bíblia não pode falar por si mesma a não ser que seja interpretada pela igreja católica, levando em conta a tradição viva da igreja. Em outras palavras, a Bíblia não possui nenhuma autoridade inerente, como a verdadeira Palavra de Deus. Quando um fiel se defronta com um conflito entre a Bíblia e a autoridade da igreja em algum ponto doutrinário, como por exemplo: purgatório, imagens, santos ou idulgências ele imediatamente abandona a voz da Palavra de Deus e apega-se à voz da sua igreja, pois, como ele sempre foi ensinado, esta é a única intérprete infalível da Bíblia, tendo a tradição como ferramenta exegética”.

O Rev. João Alves dos Santos diz que “a Igreja Romana arroga a si não só a autoridade de interpretar e contextualizar a Bíblia, de modo infalível, mas a de continuar a sua revelação. Por isso a leitura da Bíblia pelos leigos não é vista como necessária; e, em alguns casos, é tida até como perigosa... A igreja pode errar e tem errado”.

Na contramão desse engodo pernicioso, os reformadores afirmaram: Sola Scriptura, somente a Escritura. Com isto declararam a superioridade das Escrituras Sagradas em relação às tradições humanas em matéria de fé e prática. Embora a Igreja Romana não negue declaradamente a autoridade das Escrituras, torna essa autoridade insuficiente quando acrescenta a tradição como igual fonte da revelação de Deus. Os reformadores resgataram o princípio da exclusividade da Palavra de Deus em matéria de autoridade: Sola Scriptura; somente a Escritura. Com este brado os reformadores “queriam dizer que a Bíblia é a única autoridade infalível dentro da igreja” (Paulo Cristiano da Silva).


Os reformadores viram que a igreja pode errar, as tradições podem errar, os líderes podem errar; e, se estes erram, sua autoridade não pode ser tida como infalível. As Escrituras, por sua vez, e somente as Escrituras, jamais erram; então, somente sua autoridade é infalível.

As Escrituras afirmam categoricamente que são dignos da mais severa punição aqueles que desejam acrescentar algo à autoridade da Palavra de Deus: “Se alguém acrescentar alguma coisa às palavras da profecia deste livro, Deus lhe acrescentará as pragas que estão escritas neste livro...” (Ap 22. 18).

A Tradição tem sido a mãe de todas as heresias encontradas no bojo da teologia católica. É importante lembrar que é pela tradição, e não pelo que diz as Escrituras, que ainda hoje a Igreja Romana defende heresias como culto aos santos, culto à virgem Maria, doutrina do purgatório, extrema-unção, adoração às imagens e relíquias, adoração à hóstia, entre outras. A Bíblia nada ensina sobre essas coisas, e essas doutrinas contrariam todo o conteúdo da Palavra de Deus.

As tradições podem nos ter legado certas informações importantes, mas são falíveis; não podem ter autoridade igual à das Escrituras em matéria de fé e prática.

Na época de Jesus, os judeus também cometiam o erro de colocar a tradição em pé de igualdade com a Bíblia. “Na verdade, eles faziam as suas tradições superiores à própria Bíblia, porque esta, fora interpretada através das tradições”, diz Paulo Cristiano da Silva; e ainda acrescenta com propriedade: “Sempre que a tradição é elevada a um nível tão alto de autoridade, fica inevitavelmente prejudicada a autoridade da Bíblia”.

Quanto ao erro dos judeus em colocar sua tradição em pé de igualdade com a Bíblia, Jesus os repreendeu severamente:

“Ele, porém, respondendo, disse-lhes: E vós, por que transgredis o mandamento de Deus por causa da vossa tradição?” Mt. 15:3

“Vós deixais o mandamento de Deus, e vos apegais à tradição dos homens.” Mc. 7:8

“Disse-lhes ainda: Bem sabeis rejeitar o mandamento de Deus, para guardardes a vossa tradição.” Mc 7:9

“Invalidando assim a palavra de Deus pela vossa tradição que vós transmitistes; também muitas outras coisas semelhantes fazeis.” Mc. 7:13

Mas não é somente a Tradição que tem sido colocada em pé de igualdade com a Palavra de Deus ainda hoje. Em muitos círculos evangélicos as experiências pessoais ocupam uma posição tão singular quanto a Tradição entre os católicos.


O professor Francisco Solano Portela denuncia: “No campo evangélico neopentecostal, a suficiência da Palavra de Deus é desconsiderada e substituída pelas supostas ‘novas revelações’, que passam a ser determinantes das doutrinas e práticas do povo de Deus”. Isto significa que muitos crentes têm deixado de procurar nas Escrituras Sagradas a verdade sobre sua fé e sua maneira de viver para confiar em supostas revelações, sonhos, profecias, e outras experiências incertas e questionáveis. Para muitos crentes essas profecias e revelações funcionam como regra de fé e conduta, e esses crentes dependem desses argumentos para viver a sua vida cristã.

Ao rebater Satanás, Jesus usou o argumento inquestionável das Escrituras: “Está escrito” (Mt 4. 4). Os crentes de Beréia foram chamados “mais nobres” porque examinavam as Escrituras para buscar a comprovação do que estava sendo pregado pelos apóstolos, a fim de fundamentar nas Escrituras a sua fé e prática (At 17. 11). Estes deveriam ser modelos para as igrejas cristãs de hoje; mas o que se observa em muitos casos é a exaltação das experiências em detrimento da segurança e superioridade das Escrituras. Em lugar de “está escrito” ouve-se: “Eu senti”, “Eu sonhei”; ao invés de examinar as Escrituras para compreender a insuperável revelação de Deus, muitos crentes simplesmente dizem: “Eu fui revelado”... E o mais terrível é que muitas doutrinas e regras têm sido ensinadas e vividas a partir dessas experiências infundadas, descaracterizando a Igreja Cristã, e mergulhando o povo de Deus num imenso caos de subjetividades e misticismos inconseqüentes, como se o Espírito de Deus falasse independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia.

O autor João Alves dos Santos afirma: “Só a Escritura e toda a Escritura! Não precisamos de outra fonte para saber o que devemos crer e como devemos agir. Hoje há uma tendência para se colocar a experiência humana e supostas revelações do Espírito no mesmo nível de autoridade das Escrituras, por parte de alguns grupos evangélicos. Na prática, às vezes essas experiências acabam se tornando mais desejadas e tidas como mais valiosas do que o próprio ensino das Escrituras. Tomam hoje o lugar que, no passado, tomava a Tradição. É preciso que voltemos ao princípio da Sola Scriptura, se queremos ser realmente reformados em nossas convicções e práticas. A Escritura, e não a nossa experiência subjetiva, deve ser o nosso critério de verdade”.

Afirmamos que a Bíblia é meio ordinário de o Espírito falar ao povo de Deus. Novas revelações, supostas profecias, sonhos e outras experiências pessoais não devem ocupar o lugar ímpar das Escrituras na busca da vontade de Deus pelos cristãos. As experiências pessoais não são veículos de revelação, muito menos podem ter autoridade na igreja semelhante à das Escrituras.

Michael Horton, grande escritor reformado diz acertadamente: “Não deveria ser permitido à igreja fazer regras ou doutrinas fora das Escrituras. Não existem novas revelações, nem papas que ouvem diretamente a voz de Deus, e nada que a Bíblia não apresente deveria ser ordenado aos cristãos”.


Lutero combateu a venda de indulgências e das outras superstições da igreja medieval porque ele percebeu que estas coisas não estavam baseadas na Bíblia. Hoje cabe a nós continuar combatendo as heresias defendidas pela Tradição católica e outras incorporadas à igreja evangélica pelas experiências casuais de certos crentes.

Os reformados ficam ao lado das Escrituras, e defende sua superioridade em relação à tradição e às experiências pessoais em matéria de fé e prática. A nossa fé não pode ter outro fundamento que não seja a Palavra de Deus. As experiências e as boas intenções dos homens não substituem a revelação especial de Deus contida somente nas Escrituras.

Como Lutero diante de seus acusadores, afirmemos também: “Eu estou atado pelas Escrituras, e a minha consciência é escrava da Palavra de Deus”. Nossa consciência não pode ficar presa às tradições ou experiências. Elas são falíveis e inseguras. Somente as Escrituras devem cativar nossa consciência. “Deus, pela sua Palavra, tornou a fé segura para sempre, fazendo-a superior a toda mera opinião”, diz o reformador João Calvino.

“A lei do Senhor é perfeita, e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel, e dá sabedoria aos símplices; os mandamentos do Senhor são retos, e alegram o coração; os preceitos do Senhor são puros e iluminam os olhos” (Sl 119. 7 e 8).

A autoridade das Escrituras é superior à tradição e às experiências pessoais. Doutrina e prática cristãs não se baseiam em sentimentos, experiências, boas intenções nem mesmo em tradições. Doutrina e prática cristãs se baseiam única e exclusivamente na imutável Palavra de Deus. Somente a Escritura deve ser a nossa única regra de fé e prática. “Qualquer igreja que dê à Palavra uma posição inferior é mentirosa e enganadora” (Richard Bennet). O catolicismo afirma: “As Escrituras mais a tradição”; o neo-pentecostalismo ensina: “As Escrituras mais as experiências”. A fé reformada determina: “As Escrituras, e somente as Escrituras”.

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