Por Charles H. Spurgeon
Como está registrado que Davi, no
calor da batalha, abateu-se, assim se pode escrever de todos os servos do
Senhor. Crises de depressão acometem a maioria de nós. Animados como possamos
ser normalmente, a intervalos temos que ser derrubados. O forte nem sempre está
vigoroso, o sábio nem sempre é expedito, o bravo nem sempre é corajoso, e o
alegre nem sempre está feliz. Pode ser que existam aqui e ali homens de aço a
quem o ralar e o rasgar não causam nenhum dano perceptível, mas por certo a
inércia desgasta mesmo a estes; e quanto aos homens comuns, o Senhor sabe e os
faz saber que não passam de pó.
Sabendo pela mais penosa experiência
o que significa uma profunda depressão de espírito, sendo visitado por ela
freqüentemente e a intervalos não demorados, achei que poderia ser consolador
para alguns dos meus irmãos se partilhasse meus pensamentos sobre isso para que
os mais jovens não imaginem que algo estranho lhes acontece quando tomados em
alguma ocasião pela melancolia; e para que os mais deprimidos saibam que a
pessoa sobre quem o sol está brilhando jubilosamente nem sempre andou na luz.
Não é necessário provar com citações
de biografias de ministros eminentes que a maioria deles, senão todos, passou por
períodos de terrível prostração. A vida de Lutero poderia ser suficiente para
dar mil exemplos, e ele não era de modo nenhum do tipo mais fraco. Seu espírito
grandioso esteve muitas vezes no sétimo céu da exultação, e com igual freqüência
às bordas do desespero. Nem mesmo seu leito de morte ficou livre de temporais,
e ele soluçou no seu último sono como um fatigado menino grande. Em vez de
multiplicar casos, demoremos nas razões pelas quais estas coisas são
permitidas. Por que será que os filhos da luz andam às vezes em trevas
espessas? Por que será que os arautos da alvorada às vezes se acham numa noite
que vale por dez?
Não será primeiro porque são homens? Sendo homens, estão enquadrados na fraqueza e são
herdeiros da tristeza. Com acerto disse o sábio nos textos apócrifos de
Eclesiástico 40:1-5,8: "Grande fardo foi imposto a todos
os homens, e um pesado jugo posto sobre os filhos de Adão, desde o dia em que
eles saem do ventre da mãe até ao dia da sua sepultura (em que eles entram) no
seio da mãe comum de todos. Os seus cuidados, os sobressaltos do coração, a apreensão
do que esperam, e o dia em que tudo acaba (perturbam-nos a todos), desde o que
está sentado sobre um trono de glória, até àquele que jaz abatido na terra e na
cinza; desde aquele que está vestido de púrpura e traz coroa, até ao que se
cobre de linho cru. Tudo é furor, inveja, inquietação, perplexidade, temor da
morte, rancor obstinado e contendas. Isto acontece a todos os viventes, desde
os homens até aos animais, mas para os ímpios é sete vezes pior".
A graça nos protege de grande
parte disso, mas devido não termos maior porção da graça, continuamos sofrendo
até males que poderiam ser evitados. Mesmo sob a economia da redenção, é mais
que evidente que temos que suportar debilidades; de outra forma não haveria
necessidade do prometido socorro do Espírito nessas circunstâncias. É preciso
que às vezes enfrentemos durezas. Aos homens de bem foram prometidas tribulações
neste mundo, e os ministros podem esperar maior parte do que outros, para
aprenderem a simpatizar com o sofredor povo do Senhor, e assim possam ser aptos
pastores de um rebanho enfermo.
Poderiam ter sido enviados
espíritos desencarnados para proclamarem a Palavra, mas não teriam penetrado os
sentimentos dos que, estando neste corpo, gemem deveras, sobrecarregados que estão;
os anjos poderiam ter sido ordenados evangelistas, mas os seus atributos
celestiais os teriam incapacitados para terem compaixão dos ignorantes;
poderiam ter sido modelados homens de mármore, mas a sua natureza impassível
seria um sarcasmo para a nossa fragilidade e uma zombaria das nossas
necessidades. Foi a homens, e homens sujeitos às paixões humanas, que o
sapientíssimo Deus escolheu para serem os Seus vasos de bênçãos; daí estas
lágrimas, estas perplexidades, estas quedas.
Do livro: "Lições aos Meus Alunos - Volume 2", Editora PES.
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