
O lulismo era um sonho; o sonho virou presidente, e o presidente quer virar mito com o lançamento do filme “O Filho do Brasil”. A demagogia precisa do elemento mitológico para sobreviver. É este elemento que cria o fascínio e sustenta a crença nas suas imponderáveis alegações. Ninguém se iludiria com uma demagogia se por trás dela não houvesse um mito amparando as teses e lhe dando um aspecto de plausibilidade.
Os mitos que sustentam as demagogias são, em geral, aparentemente, humildes e simplórios. Mas na realidade são vaidosos e egocêntricos. O lulismo é assim; na aparência é humilde como um simples filho do Brasil. No entanto, a realidade é outra. O lulismo não se vê apenas como “UM” filho do Brasil; ele quer ser “O” filho. O lulismo se vê como o modelo de filho da pátria, o grande exemplo, o maior referencial, o primogênito da nação. Nada poderia ser mais narcisista.
Na realidade o narcisismo lulista não está satisfeito em ser apenas um simples “Filho do Brasil”. O lulismo quer ser o “Pai da Pátria”; ele se comporta como o Salvador da nação. O lulismo quer passar para a história como aquele que verdadeiramente descobriu o Brasil. O lulismo pode até reconhecer que não inventou a roda, mas, seguramente, acredita que foi ele quem descobriu a sua utilidade.
O lulismo é também egocêntrico, não vê nada além de si mesmo. Seu egocentrismo permite declarações auto-intituladas de ser o melhor em tudo. Um tipo perigoso de ufanismo que lhe assegura imunidade irrestrita a fim de justificar quaisquer de seus atos, inclusive os mais suspeitos. O ufanismo lulista não respeita regras, porque faz as suas próprias em benefício do seu próprio idealismo. Idealismo este que faz a nação aproximar-se perigosamente de tantos “ismos” inconseqüentes, como o castrismo cubano, o chavismo venezuelano, o terrorismo iraniano ou até mesmo acolher o anti-democratismo zelaysta, sem dar à nação o direito de opinar se quer ou não fazer parte dessa confraria de “ismos” avessa às liberdades e direitos próprios da democracia.
O lulismo é pateticamente cínico. Finge não saber o que todos sabem e muitos provam. Ninguém esqueça que o cinismo lulista negou com absurda soberba o inegável fato do mensalão e seus dólares escondidos até em partes íntimas de alguns de seus pares.
O lulismo é fruto do malfadado socialismo, aquela utopia que já morreu há muito tempo, e muitos não querem sepultar. Infiltrou-se na vida pública através do atalho do sindicalismo, e fez deste viés um chamariz para o messianismo que o transformou em herói nacional e o colocou nos braços do povo. O populismo é a arma da demagogia lulista, é o seu maior trunfo. Inflamar as massas com discursos carregados de erros de português e até palavrões faz parte da cartilha demagógica lulista, um truque para não cair na malha fina do bom senso.
O nacionalismo é pródigo em criar os pseudo-messias, os impecáveis heróis defensores dos desfavorecidos. Puro sentimentalismo inconseqüente. O sentimentalismo lulista ignora os seus próprios pecados, transformando acusações de crimes em perseguições maldosas. A demagogia lulista não aceita oposições. O lulismo sempre é a vítima quando se trata dos seus próprios erros e dos seus capangas; mas sempre o herói, o descobridor, mesmo com os acertos dos outros.
O ignorantismo lulista age contra a liberdade de imprensa. Ela é sempre uma ameaça, uma pedra no caminho do seu pragmatismo messiânico. Pragmatismo este que combina esmola e cotas raciais, transformando o assistencialismo numa arma de manipulação de quem acredita que o Estado é servo do seu chefe e dependente dele. Há que se ressaltar que numa democracia o Estado nunca poderá ser menor do que quem o comanda. Assim sofreram tantas civilizações (e ainda sofrem outras) dominadas pelo despotismo que viu no totalitarismo uma medida de segurança contra o prejuízo nacional. Mas a história tem provado que o maior prejuízo para uma nação é o oportunismo de quem se julga insubstituível e deflagra uma guerra contra a sanidade do povo ao pensar por ele em beneficio do idealismo daqueles que não querem deixar o poder. É o que o lulismo faz ao determinar por si e para si quem é melhor para Brasil, sem dar ao país a chance de comparar e escolher com base na realidade, não em um realismo inventado por agências de marketing.
O maior ideário do lulismo é, talvez, o mais perigoso entre todos os outros "ismos": o continuísmo. Esta, sim, é uma arma capaz de destruir as esperanças. Se, conforme alegado, a esperança havia vencido o medo quando o lulismo chegou ao poder, hoje a demagogia tem vencido a esperança, tentando impor à nação a sua perpetuação. O continuísmo lulista é planejado no ilusionismo que tenta criar uma imagem messiânica numa candidata sem expressão, sem projeto e sem graça. É ainda engendrado no sincretismo que aliançou, sem pudores, o lulismo ao velho brizolismo, ao nada ético sarneismo e, se pudesse aliançaria até Jesus a Judas.
A demagogia lulista acredita piamente no estabelecimento de uma nova ordem mundial, na qual o lulismo está no centro. De repente o mundo passou a girar em torno do lulismo, e sem ele, nada do que foi feito se fez. Essa demagogia quer fazer o povo pensar que o lulismo é indispensável à nação pelos próximos séculos.
É bem verdade que as demagogias sempre fizeram parte da história, mas a historia já superou muitas delas. O lulismo é só mais uma demagogia. E que a história nos prove mais uma vez que, de tempos em tempos, o povo se enfada e volta a ter uma nova esperança.