quarta-feira, 27 de outubro de 2010

PROVIDÊNCIAS EXTRAORDINÁRIAS OU MILAGRES

Por Louis Berkhof

Usualmente se faz distinção entre providentia ordinária e providentia extraordinária. Na primeira, Deus age por meio de causas secundárias em estrito acordo com as leis da natureza, embora possam variar os resultados, com diferentes combinações. Mas na última Ele age imediatamente ou sem a mediação de causa secundárias, em sua operação ordinária. Diz Mcpherson: “Milagre é uma coisa feita sem se recorrer aos meios ordinários de produção, um resultado produzido diretamente pela Causa Primeira, sem a mediação, pelo menos do modo habitual, das causas secundárias”. A coisa distintamente característica do feito miraculoso é que ele resulta do exercício do poder sobrenatural de Deus. E, naturalmente, isto significa que o referido feito não é ocasionado por causas secundárias que operam segundo as leis da natureza. Se fosse, não seria sobrenatural (acima da natureza), isto é, não seria milagre. Se Deus, na realização de um milagre, algumas vezes utilizou forças que estavam presentes na natureza, utilizou-as de maneira inteiramente distantes do ordinário, para produzir resultados não esperados pelo homem, e foi justamente isso que constitui o milagre. Todo milagre está acima da ordem estabelecida da natureza, mas podemos distinguir diferentes classes, conquanto não graus, de milagres. Há milagres que estão absolutamente acima da natureza, de modo que não estão ligados, de modo algum, a quaisquer meios. Mas também há milagres que são contra media, nos quais os meios são empregados, mas de modo tal, que o resultado é uma coisa completamente diversa do resultado habitual daqueles meios.

Pode-se presumir que os milagres da Escritura não foram realizados arbitrariamente, mas, sim, com um propósito definido. Não são meras maravilhas e exibições de poder, destinadas a provocar admiração, mas têm significação revelacional. A entrada do pecado no mundo torna necessária a intervenção sobrenatural de Deus no curso dos eventos, para a destruição do pecado e para a renovação da criação. Foi mediante milagre que Deus nos deu a Sua revelação especial e verbal na escritura, bem como a Sua revelação suprema e fatual em Jesus Cristo. Os milagres estão relacionados com a economia da redenção, uma redenção que com freqüência eles prefiguram e simbolizam. Não visam a uma violação, mas, antes, a uma restauração da obra criadora de Deus. Daí, vemos ciclos de milagres ligados a períodos especiais da história da redenção, e especialmente durante a época do ministério público de Cristo e da fundação da igreja. Estes milagres ainda não resultaram na restauração do universo físico. Mas, no fim dos tempos, haverá outra série de milagres, que redundarão na renovação da natureza, para a glória de Deus – o estabelecimento final do reino de Deus em novo céu e nova terra.

Fonte: BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Luz Para o Caminho; São Paulo, SP, 1990.

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