quarta-feira, 21 de maio de 2008

EU CREIO NA BONDADE DE DEUS


Nas últimas semanas o mundo parou diante das notícias de duas grandes catástrofes naturais. Na China o maior terremoto já registrado no país em cinqüenta anos, ocorrido neste mês, provocou a morte de mais de quarenta mil pessoas e deixou mais de 4 milhões sem ter onde morar. E Mianmar, um dos países mais pobres do planeta, foi varrido pelo ciclone Nargis, deixando um saldo de mais de 133 mil mortos e cerca de 2, 4 milhões de desabrigados.

Esses fatos causaram comoção mundial, mobilizaram ações humanitárias e desencadearam gestos comoventes em favor das vítimas, vindos de todas as partes do planeta, como quase sempre ocorre em ocasiões como estas. Mas, além dessas ações nobres provocadas pelo sofrimento alheio, surgem por todo lado tentativas de se explicar tais fatos. Seria o anúncio do fim do mundo? Porventura estamos diante do cumprimento das profecias apocalípticas? Sim, porque é comum em situações trágicas como essas levantarem-se intérpretes apocalípticos precipitados vaticinando fantasias, promovendo debates inúteis em torno do que não tem explicação teológica.

Estaria, então, Deus castigando tais países pela opressão ao cristianismo? Afinal de contas, China e Mianmar são duas nações governadas por regimes totalitários que impedem a liberdade religiosa e perseguem duramente a Igreja. Mas, sinceramente, não creio que esta seja a maneira ordinária de Deus julgar os opressores da sua grei.

Seriam essas tragédias culpa de um descuido fortuito de Deus? Assim poderiam argumentar os proponentes da Teologia Relacional para quem Deus pode ser pego de surpresa por não ter um conhecimento absoluto do futuro. Mas as ilações dos teólogos relacionais são tão vazias que nem merecem consideração.

Ou quem sabe, tais infortúnios sejam uma prova de que Deus não é tudo o que dizem por aí? Afinal, dizem os cristãos, Deus é bom. E se ele é bom com dizem, por que essas desgraças ocorreram?

Diante de acontecimentos comoventes como os que ocorreram naqueles países, é comum levantarem-se questionamentos a respeito da bondade de Deus. Deus é colocado no banco dos réus para dar explicações aos por quês de pecadores irados. Sua soberania é contestada, seu amor é posto em dúvida e sua bondade é desacreditada.

Creio que esses questionamentos se dão porque o homem do nosso tempo desconhece o que realmente significa a bondade de Deus. De acordo com a expectativa dos seus acusadores, para que Deus realmente seja bom, ele não pode agir com soberania, nem por decreto. Ele precisa estar limitado às necessidades humanas, agindo convenientemente a elas, de acordo com elas e sempre a favor delas. Caso contrário, Deus passa a ser o culpado por todo o mal que ocorre na existência humana. Mas o Deus da Escritura não é assim.

Catástrofes como essas geram em muitos cristãos um medo de proclamar a bondade de Deus. Ao contrário, prega-se um deus sofredor, impotente diante do caos, inerte, que senta-se ao lado do homem e chora sua dor sem saber o que fazer, desculpando-se por qualquer coisa. Esse não é o Deus que eu creio. Eu creio na bondade de Deus, independente das circunstâncias que cercam a fragilidade humana.

Não são as nossas experiências, frustrações, tristezas ou dores que devem moldar a nossa fé e prática, e sim, a Escritura; e ela afirma de maneira categórica a bondade de Deus. Segundo ela, Deus é essencialmente bom em si mesmo. Sua bondade é infinita “e permanece para sempre” (Sl 52. 1). Deus é bom (Sl 34. 8) e sua bondade se manifesta em tudo o que ele faz (1 Jo 1. 5), aos homens e às demais criaturas. Deus é bom! Assim diz a Escritura e assim creio.

Michael Horton disse em um de seus excelentes livros: “Não podemos aniquilar a bondade de Deus para encontrar uma explicação fácil para o sofrimento”. De fato, não podemos deixar de anunciar ao mundo, mesmo ferido por tragédias horrendas, a bondade de Deus. É a certeza da bondade de Deus que nos anima nesses momentos de dor, nos enche de força e renova a nossa esperança, como diz o profeta: “O Senhor é bom, uma fortaleza no dia da angústia” (Na 1. 7). “A bondade de Deus é o sustentáculo da confiança do crente”, disse Arthur Pink.

As tragédias ocorridas na China e em Mianmar causaram em mim tristeza e espanto diante da dor de pessoas que eu nem conheço. Senti-me comovido e perplexo. Mas, mesmo diante dessas catástrofes, eu creio que Deus é bom.

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