terça-feira, 3 de novembro de 2009

“SOBRE O ESPAÇO, SONHADORA E BELA!”. A GRAÇA COMUM EM VILLA LOBOS


Os teólogos chamam de graça comum a influência geral do Espírito Santo que oferta a todos os homens a possibilidade de experimentar algumas bênçãos da parte de Deus. A Bíblia diz que “Deus faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mt 5. 45). Esta bendita providência sobre os incrédulos não lhes confere qualquer recurso contra a essência pecaminosa, nem é capaz de produzir a genuína conversão deles. É somente através do poder iluminador do Espírito Santo, que torna efetiva a pregação do Evangelho, que o não regenerado pode experimentar a verdadeira transformação espiritual. Todavia, a graça comum é aquela bendita manifestação da Graça de Deus, oferecida a fim de “restringir a devastadora influência e desenvolvimento do pecado no mundo, e para manter, enriquecer e desenvolver a vida da humanidade em geral e dos indivíduos componentes da raça humana” (Louis Berkhof). De acordo com o teólogo Loraine Boettner, “entre as bênçãos mais comuns que devem ser atribuídas à esta fonte, podemos enumerar a saúde, a prosperidade material, a inteligência em geral, os talentos para a arte, música, oratória, literatura, arquitetura, comércio, invenções e etc. (...) A graça comum é a fonte de toda a ordem, o refinamento, a cultura, a virtude comum, etc., que encontramos no mundo, e através dela é que o poder moral da verdade no coração e na consciência é aumentado, e as paixões maléficas dos homens são restringidas. Ela não leva à salvação, mas livra esta terra de transformar-se em inferno”.

Recentemente ouvi algumas das composições de Villa Lobos. Soaram leve e encantadoramente agradáveis aos ouvidos e à alma. Uma beleza tão rara que não poderia ser produzida sem qualquer influência divina.

Heitor Villa Lobos não entendia esse conceito de graça comum, mas foi alvo dela. As suas Bachianas nasceram, creio, sob a influência da graça comum de Deus. Ouvi-las é ter a certeza de que, conforme disse Boettner, a terra só não é um inferno porque Deus intervém com a sua graça. E que graça! Ainda que comum, na linguagem teológica; mas sobrenaturalmente encantadora.

“Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente. Sobre o espaço, sonhadora e bela! Surge no infinito a lua docemente, Enfeitando a tarde, qual meiga donzela. Que se apresta e a linda sonhadoramente, Em anseios d'alma para ficar bela. Grita ao céu e a terra toda a Natureza! Cala a passarada aos seus tristes queixumes, E reflete o mar toda a Sua riqueza... Suave a luz da lua desperta agora. A cruel saudade que ri e chora! Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente. Sobre o espaço, sonhadora e bela!” (Bachianas Brasileiras nº 05 - Heitor Villa Lobos).

Um comentário:

folton disse...

Caro Agnaldo;
Você não imagina minha alegria em ler teu post. Também gosto muito do Villa e vejo que você está coberto de razão: a graça comum atuou sobre ele e ele a respondeu com belas obras.

Gosto de todas as Bachianas e da Suite Descobrimento do Brasil e de quase todos os choros.

Espero que você continue escrevendo sobre ele.

Ab
Fôlton