As eleições se aproximam, e com elas, a expectativa em relação aos nomes que ocuparão os diversos cargos em disputa. Os candidatos têm pouco tempo para convencer os indecisos, e os indecisos têm pouco tempo para se decidir. Intensificam-se as propagandas e com elas os ataques, as defesas e algumas suspeitas.
Ao longo do período de campanha vários alertas são emitidos a fim de despertar o cuidado do eleitor. Eu mesmo fiz alguns aqui no blog, mas não quero, e nem posso, decidir por ninguém, nem mesmo influenciar qualquer pessoa na sua escolha. O voto é uma escolha individual. Este blog não se manifesta em defesa de nenhuma agremiação política, nem a favor de nenhum candidato. Os alertas que fazemos não são - e nem se pretende que sejam – inclinações para este ou aquele nome ou partido.
Gostaria de usar este espaço para dar uma opinião sobre o conhecido posicionamento do pastor Paschoal Piragine, amplamente divulgado através de vídeos na internet. Assisti várias vezes ao vídeo e concordo com boa parte do pronunciamento do pastor. Mas fico preocupado com a interpretação que muitas pessoas têm feito daquelas palavras.
As palavras do pastor Piragine têm sido interpretadas por muitas pessoas como uma palavra final quanto ao partido mencionado e seus candidatos. Para muitos, não votar naquele partido será suficiente para garantir que os valores cristãos não sejam ameaçados no país. É como se aquele partido fosse um representante do mal, e devêssemos votar em outro que fosse o representante do bem. Vale ressaltar que o pastor Piragine em nenhum momento apresentou outro partido ou candidato como opção. Mas ao nomear o tal partido, muitas pessoas podem entender que ele seja do mal e os concorrentes sejam do bem. É um tipo de maniqueísmo eleitoral.
Reconheço que há muitas questões defendidas por partidos políticos e candidatos que, como cristãos, não podemos aceitar. Postei há alguns dias um vídeo de outro partido onde é exposta sua defesa em relação à união homossexual. Por uma questão de consciência eu não votaria em um partido que defende tal posição. Mas não poderia tratar o partido como um representante do mal na terra. Eu sou contra a união de pessoas do mesmo sexo, assim como sou contra o aborto e outros temas denunciados no vídeo do pastor Piragine. Mas não vejo a política como uma luta entre o bem e o mal. É preciso ter muito cuidado com esse tipo de maniqueísmo eleitoral, porque nada garante que, se qualquer outro partido concorrente vencer as eleições, esses e outros temas não serão igualmente defendidos ou autorizados. Não sou eleitor do partido denunciado pelo pastor Piragine, nem concordo com muitas de suas posturas, mas não posso concordar com o tipo de maniqueísmo adotado por muitos a partir do pronunciamento.
A Igreja precisa se posicionar contra determinados temas que afetam não apenas a ética cristã como também a vida humana na terra. Ela precisa orar e denunciar o pecado. Mas ela precisa lembrar também que “o mundo inteiro jaz no maligno” (1 Jo 5. 19). O que está em disputa nas eleições não são os valores cristãos, embora muitos desses valores sejam agredidos e afrontados por alguns candidatos. Esses valores são absolutos, e continuarão sendo, mesmo que haja governos que os ataquem frontalmente. Mas se o mundo está morto por causa do pecado, caberá à Igreja cumprir o seu papel de evangelizar e proclamar a verdade do Evangelho a fim de que sejam libertos os cativos e os eleitos salvos. Acreditar que a manutenção dos valores cristãos dependerá do partido político que estiver no poder é, no mínimo, inocente demais.
Os cristãos poderão, por motivo de consciência, deixar de votar em um partido ou outro. Mas que não transformemos a eleição em uma guerra entre o bem e o mal. Não creio que haja partidos do mal, assim como não creio que haja partidos do bem. Há propostas e propostas; caberá a cada eleitor, a partir de sua consciência, definir as que julga boas ou ruins. E acima de tudo, como cristãos, devemos crer que Deus é o Senhor, e que ele estará sempre no controle. Seja qual for o candidato eleito ou o partido que ele representar, fará somente aquilo que Deus, em sua Soberania o permitir, para a sua própria glória.
Agnaldo Silva Mariano
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