terça-feira, 29 de março de 2011

O SANTO DAS CAUSAS URGENTES E A URGENTE CAUSA DO SANTO

No Catolicismo Romano, como todos sabem, há santos para todos os gostos e necessidades humanas. A relação é imensa e as especialidades as mais variadas. Há santo para arranjar casamento (Santo Antônio); santo para resolver causas impossíveis (São Judas Tadeu); santo para proteger os motoristas (São Cristóvão); santo para ajudar os advogados (Santo Ivo); santo para proteger a amamentação (São Gil); santo para proteger os assistentes sociais (Santa Luiza e São Baltazar); há até santo para proteger o bom ladrão (São Dimas), os cabeleireiros (São Luiz IX), os achados e perdidos (São Longuinho) e os cervejeiros (Santo Arnaldo).

Os santos ocupam lugar de destaque no cotidiano católico romano. Há dias especiais dedicados a eles, orações, invocações, cânticos, oferendas e cultos particulares. Suas imagens são veneradas e seus nomes ocupam uma posição intermediária entre Deus e os homens a fim de conceder graças obtidas por seus méritos especiais. Nenhum católico romano admite que esses cultos, venerações e honrarias sejam atos de idolatria. Para eles são apenas o reconhecimento da fé e das obras de pessoas mais fiéis que, ao partirem, passaram a ocupar um lugar de destaque diante de Deus que as credenciou a interceder em favor dos menos puros que ainda permanecem deste lado da glória.

Os católicos romanos podem não saber ou admitir, mas a idéia de santos padroeiros é uma reprodução de uma prática pagã muito comum na antiguidade, de atribuir às várias divindades a proteção de determinadas cidades ou de determinadas atividades. Assim, os deuses pagãos eram padroeiros de países, pessoas, cidades, reinos e profissões. A prática pagã foi copiada pelo romanismo e recebeu uma caricatura de cristianismo.

Seja qual for a motivação ou interesse do catolicismo romano com seus santos, a verdade é que eles são tão inúteis como os deuses pagãos para resolver qualquer necessidade humana. O seu culto é a mais flagrante desobediência à ordem divina de “não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20. 3), e “não farás para ti imagem de escultura” e “não as adorarás, nem lhes darás culto” (Êx 20. 4 e 5); e a confiança na sua intercessão é deliberada afronta à declarada exclusividade de Cristo como único mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2. 5).

Na semana passada tomei conhecimento da notícia da queda da imagem de Santo Expedito na cidade de Belo Horizonte, ocorrida no último dia 23 de março. A imagem foi derrubada de uma pilastra que ficava na porta da igreja de Santo Expedito, no bairro Guarani, na capital mineira. Derrubada por “vândalos”, conforme denuncia o padre local, a imagem que pesa mais de uma tonelada, teve os braços quebrados e apresentou várias rachaduras provocadas pela queda, e permaneceria caída no local mais alguns dias antes de ser retirada. Os fiéis, devotos do santo, precisaram fazer muita força para arredar parte da estátua e desimpedir o fluxo das pessoas pelo local.

É impossível ler uma notícia dessas sem lembrar do que diz o salmista no Salmo 115 sobre os ídolos pagãos, que serve perfeitamente para esta situação: “Têm boca e não falam; têm olhos e não vêem; têm ouvidos e não ouvem; têm nariz e não cheiram. Suas mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da garganta”. Santo Expedito, o tão venerado “santo das causas urgentes” não pôde resolver a urgência de sua própria causa. Não pode dizer ao pároco quem lhe derrubou, porque ele “tem boca, mas não fala”; não pôde ver quem lhe causou a queda, porque ele “tem olhos, mas não vê”; não pôde sequer levantar-se sozinho, porque tem mãos, mas não pode apalpar; tem pés, mas não pode mover-se. Foi necessário que aqueles que nele confiam se sujeitassem ao melancólico dever de ajudar quem esperam que lhes ajude, levantar quem anseiam que os levante e carregar quem eles almejam que lhes carregue.

O profeta Jeremias, fazendo um contraste entre o Senhor e os ídolos, diz: “Porque os costumes dos povos são vaidade; pois cortam do bosque um madeiro, obra das mãos do artífice, com machado; com prata e ouro o enfeitam, com pregos e martelos o fixam, para que não oscile. Os ídolos são como um espantalho em pepinal e não podem falar; necessitam de quem os leve, porquanto não podem andar” (Jeremias 10. 3 5).

O santo das causas urgentes nada pôde fazer para resolver a sua própria situação vexatória. O que ele poderá fazer pelos que nele confiam? Se ele não pôde impedir que vândalos lhe jogassem ao chão, o que fará pelos que, caídos à sarjeta, esperam o estender de seus braços?

Muitos católicos poderiam dizer que aquela é apenas uma representação de Santo Expedito. Que ele, na verdade está no céu, e que a imagem é apenas uma lembrança, um sinal para os fiéis se dirigirem a ele. Pois bem, se é apenas um sinal, uma lembrança, então por que gastar tanto dinheiro na restauração de uma imagem quebrada? Por que simplesmente não se fazer outra e jogar a velha no lixo? Porque o apego dos católicos não está apenas na pessoa representada, como querem, mas na imagem, no ícone. Para eles a imagem é o santo em si. Por isso lamentam tanto sua depredação.

Quero dizer aqui que sou contra o vandalismo. Mas sou contra a idolatria também. Aos pobres devotos de Santo Expedito que gastaram suas forças erguendo o seu ídolo e que gastarão muito do seu dinheiro na sua restauração ficam as palavras do salmista aos idólatras: “Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e quantos neles confiam” (Salmo 115. 8).

Agnaldo Silva Mariano


















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