quinta-feira, 15 de março de 2012

POR QUE EU NÃO FAÇO PARTE DE NENHUM CONSELHO DE PASTORES


Quem é pastor já deve ter sido abordado, pelo menos uma meia dúzia de vezes, com convites para se filiar a alguma instituição que congrega líderes evangélicos em sua cidade. São os conselhos de ministros, as ordens de pastores, as associações ou quaisquer nomes semelhantes. Alguns têm até credencial, algum tipo de “documento oficial” para os pastores darem carteirada nos hospitais, penitenciárias ou outros órgãos públicos. É carteirada mesmo! Alguns pastores acham que esses documentos os habilitam a entrar em qualquer lugar a qualquer hora. Acham que podem passar por cima de normas e regulamentos simplesmente porque têm uma carteirinha plastificada com um brasão impresso, escrito: “Ordem de Ministros”, “Conselho de Pastores”, ou coisa semelhante.

No Brasil existem várias dessas entidades. Elas prometem desde representação junto a órgãos governamentais, apoio jurídico até intercâmbios, “incentivo ao esporte”, “efervescência cultural”, e outras “vantagens”. Não faltam nomes imponentes e embustes criativos para essas entidades que proliferaram pelo país afora, buscando para si a condição de representantes das lideranças evangélicas e também das igrejas.

O que se vê em boa parte destas agremiações é um festival de estranhezas que deveria afugentar de seus arraiais ministros sérios e comprometidos com a ética pastoral. Eu não sou filiado a nenhum conselho, associação ou qualquer coisa parecida por algumas razões bem simples. Eis algumas delas:

Primeiramente, eu não faço parte de nenhum conselho de pastores porque creio que esse tipo de instituição promove um ecumenismo evangélico sem qualquer compromisso com a verdade bíblica. Em reuniões desses conselhos não se questionam métodos e práticas das denominações ali representadas, nem mesmo se requer uma declaração de fé de seus membros que exija fidelidade aos princípios inegociáveis das Escrituras. Na realidade, ignora-se todo tipo de aberração praticada nas igrejas locais por seus pastores em nome de uma unidade que, quase sempre, se revela falsa e, quando não, danosa para o testemunho da igreja. Temas e questões importantíssimas para a pureza evangélica não são discutidos para não comprometer a tal “unidade”. Ali, dizem, não se discutem “placas de igreja” nem doutrinas. Assim, em nome dessa coisa a que chamam de “unidade” a verdade é deixada de lado como se fosse um elemento prejudicial.

Em segundo lugar, eu não faço parte de nenhum conselho de pastores porque esse tipo de entidade utiliza critérios frouxos para a filiação em seus quadros. Os conselhos de ministros, em geral, congregam indiscriminadamente qualquer um que se denomine pastor ou pastora, mesmo aqueles que a si mesmo se fizeram tais. Não há critério nenhum. Basta visitar os sites desses conselhos. Qualquer pessoa que se identifique como pastor pode pertencer a essas organizações. Não se exige nada além de documentos pessoais e, em alguns casos, o pagamento de taxas e mensalidades.  Tolera-se de tudo nessas sociedades, desde “pastoras” até auto-proclamados bispos e outras sumidades. Na cidade onde moro, por exemplo, o líder de um desses conselhos se auto-intitula “apóstolo”. A mesma falta de critério se dá em relação às denominações representadas. Não há juízo crítico quanto à declaração de fé dessas igrejas nem quanto à sua história e práticas. Basta ter o nome de igreja “evangélica” e um título de pastor, bispo ou até mesmo “apóstolo” e a filiação é garantida.

Em terceiro lugar, eu não faço parte de nenhum conselho de pastores porque tais entidades, por vezes, se tornam vergonhosas plataformas políticas em tempos de eleições. É notório que, em época de campanhas políticas, muitas reuniões desses conselhos são frequentadas por candidatos ávidos pelo apoio dos pastores e pela indicação de seus nomes nas igrejas. E muitos líderes desses conselhos aproveitam a ocasião oportuna para conseguir benesses em nome do povo de Deus.

Em quarto lugar, eu não faço parte de nenhum conselho de pastores porque não concordo que estas entidades emitam opiniões em nome dos evangélicos como se tivessem recebido uma procuração para falar em nome de todos. Basta surgir uma questão polêmica e lá estão os conselhos de pastores emitindo notas e reivindicando coisas em nome de todos os evangélicos, ainda que ninguém os tenha delegado como seus representantes. O segmento evangélico brasileiro é extremamente diversificado e as opiniões divergem em questões que vão muito além das placas denominacionais. Entre os evangélicos brasileiros não se fala a mesma língua em questões como aborto, homossexualismo, ecumenismo, política, etc. Por que eu, como pastor, confiaria a uma entidade formada por todo tipo de gente e que representa os tipos mais estranhos de movimentos e que não compartilha da mesma confissão de fé, o direito de falar em meu nome?

Em quinto lugar, eu não faço parte de nenhum conselho de pastores porque não quero compactuar com as crendices evangélicas defendidas, praticadas e disseminadas e por essas entidades, que afastam o povo da centralidade das Escrituras e da prática simples do evangelho de Cristo. Essas organizações são, em geral, lideradas por neo-pentecostais, defensores da teologia da prosperidade com suas práticas excêntricas e seu espírito megalomaníaco, pouco afeitos à centralidade das Escrituras como regra de fé e de prática.

Há, evidentemente, outras razões pessoais para eu não me filiar a nenhum conselho ou associação de ministros. Mas vou me deter nestas aqui. Creio que elas já são suficientes para que muitos não concordem comigo e critiquem a minha posição. Afinal, diriam, como pastor eu não deveria pregar a unidade do povo de Deus? Sim, e eu prego. Mas eu prego a unidade baseada em Cristo e na verdade do Evangelho, e não na mera condição de “evangélicos”, compartilhada por alguns. Ser evangélico há muito tempo deixou de ser sinônimo de apego ao evangelho. Ser pastor, então, há muito deixou de ser sinônimo de compromisso com a sagrada vocação. 

Movimentos interdenominacionais têm se transformado em esconderijos de aberrações e refúgio cômodo para muitos desvios doutrinários, éticos e morais, comprometendo a verdadeira vocação evangélica. Conselhos e associações desta natureza têm, muito frequentemente, abrigado em seus terrenos muitos oportunistas da fé, reverenciados e devidamente autorizados por, simplesmente, se auto-declararem “pastores”. Na verdade, a tolerância dessas organizações os incentiva e os credencia sem o pudor suficiente para desmascarar-lhes as intenções e as práticas.

Enquanto essas organizações se contentarem em esconder a verdade em nome do que chamam de “unidade” e se permitirem afrouxar os padrões para abrigar hereges travestidos de pastores, a igreja evangélica brasileira continuará caminhando a passos largos rumo à apostasia. E eu não gostaria de fazer parte disto.

Agnaldo Silva Mariano

Um comentário:

Anônimo disse...

Pelos mesmos motivos e por outros Agnaldo é que nunca também me filiei, sempre fiquei ainda mais cabreiro com as associações políticas que determinam quais os candidatos que são anjos e quais são demônios.
Parabéns pelo artigo.

Antonio Carlos