quinta-feira, 30 de junho de 2011

O QUE SE PODE DIZER DE VERDADE A RESPEITO DA MENTIRA?

A mentira é quase tão antiga na história humana quanto a própria humanidade. O primeiro pecado cometido por nossos primeiros pais foi motivado por uma mentira contada por Satanás. O “é certo que não morrereis”, dito pela serpente (Gn 3. 4) foi a mentira suficiente para gerar no coração de Eva o interesse por aquilo que Deus havia proibido que se fizesse. Desde então, a mentira, que já era uma prática caracteristicamente diabólica, se tornou uma técnica tipicamente humana.

O ser humano caído em pecado introduziu a mentira como elemento indispensável em seus relacionamentos. Uma mentira aqui, outra ali e pronto, não dava mais para viver só de verdades. Afinal, como se sair bem em um negócio sem contar uma mentirinha? Como conseguir um bom casamento para a filha sem mentir sobre certos defeitos dela? Como manter um casamento sem mentir sobre a engordadinha da esposa ou sobre o mau hálito do marido? E assim, a humanidade passou a mentir para sobreviver.

Para justificar a necessidade da mentira, foi preciso diferenciar entre mentiras e mentiras. A mentira contada para promover um bem maior passou a ser chamada de “mentira branca”. Por exemplo, uma pessoa que está sendo ameaçada de morte se esconde na sua casa. Aí os assassinos vêm à procura dela e você mente, dizendo que ela não está ali. Para proteger a pessoa você precisa mentir. Foi uma mentira, mas uma “mentira branca”. Foi o expediente usado por Raabe para proteger os espias de Israel (Js 2. 1 a 5).

A mentira contada para prejudicar alguém eu não sei se tem cor, ou se tem um nome específico além de “mentira”; mas ela é sempre condenável. Ela visa tão somente o mal do próximo e está sempre a serviço do seu pai, que é o diabo (Jo 8. 44).

A questão ética em torno da necessidade da mentira em alguns casos extraordinários será sempre alvo de muita discussão. Mentir é sempre errado? Mentir às vezes é certo? A verdade é que a Bíblia condena a mentira em vários lugares (Sl 101. 7; Sl 119. 163; Pv 13. 5; Ef 4. 25; 1 Jo 2. 21; Ap 21. 8). No entanto, ela também não esconde o uso de certas mentiras por parte de servos de Deus, até como mecanismos de promoção de um bem maior. Contudo, o que se pode afirmar com segurança é que a verdade será sempre o padrão, a regra divina.

A grande questão é que, desde que o ser humano conheceu a mentira, nunca mais conseguiu viver sem ela. É uma triste ironia ter que dizer que a mentira, que é um mal, às vezes, serve para o bem. Há até quem diga que não é possível viver somente da verdade, como, por exemplo, o jornalista alemão Jürgen Schmieder que, por conta de uma experiência para o jornal Süddeutsche Zeitung tentou passar quarenta dias sem mentir. O resultado, segundo afirmou após a experiência, foi que quase perdeu o casamento, os amigos e, por pouco, não entrou em depressão. A conclusão dele é de que o ser humano precisa de, pelo menos, 50 mentiras diárias para sobreviver.

Bom, eu creio que a conclusão de Schmieder sobre a mentira só é verdade porque vivemos em um mundo que jaz no pai da mentira (1 Jo 5. 19). Só necessitamos de mentiras em nossos relacionamentos porque não conseguimos compreender plenamente os valores divinos nem vivê-los em sua perfeição neste lado da vida. A mentira só ganhou espaço nas relações humanas porque essas relações estão absolutamente contaminadas pela corrupção dos nossos primeiros pais e, assim, severamente comprometidas pelo pecado em todos os seus níveis e motivações.

Vivemos em um mundo de valores invertidos, que “ao mal chama bem e ao bem, mal; que faz da escuridade luz e da luz, escuridade; que põe o amargo por doce e o doce por amargo”, como disse o profeta (Is 5. 20). Neste mundo oposto aos padrões divinos não é possível viver apenas da verdade, porque ela tem padrões tão elevados que o homem não seria capaz de suportá-los. Falar somente a verdade significaria, por exemplo, não tolerar erros em nome do politicamente correto, não permitir excessos em nome da gentileza da boa-vizinhança, não se conformar com transgressões em nome da simpatia ou da amizade, não justificar falhas em função de benefícios, nem mesmo tolerar pecados em nome do amor.

Olhando por esse lado, parece realmente muito difícil viver em um mundo só com verdades. Mas muito pior do que isto é viver em um mundo em que a mentira ganha justificativas absurdas para parecer necessária ou imprescindível. Muito pior é viver num mundo de mentiras como o de Amim Khader que inventou que estava morto só para promover um quadro em um programa de televisão.

A grande diferença entre a mentira e a verdade é que a mentira serve para justificar qualquer ato, do mais inútil ao mais vil, pois está a serviço da mediocridade de Satanás. A verdade, por sua vez, representa e está a serviço dos elevados propósitos de um Deus absolutamente santo e justo, que não tolera o pecado ainda que maquiado pela pretensa necessidade de mentiras coloridas ou “brancas”. A verdade é sempre o padrão de Deus. Por isso ele enviou seu Filho ao mundo para libertar e santificar o homem através da verdade (Jo 8. 32; Jo 17. 17) e, por fim, recolherá aqueles arrependidos e alforriados do pecado em todas as suas propriedades ao seu reino eterno, onde não há lugar para mentirosos nem mentiras de espécie alguma (Ap 21. 8).

Agnaldo Silva Mariano

3 comentários:

Edu Leal disse...

Graça e paz!
Rapaz, que blog legal...
Bom post - e não é mentira.
Agora uma dúvida: Qnd Jesus falou que o mundo jazia no malígno Ele ainda não havia passado pelo sacrifício do calvário. E depois já ressurreto Jesus afirma em Mateus 28: 18 "É me dado todo poder no céu e na terra". Será realmente que ainda o mundo jaz no maligno?
Paz!

Unknown disse...

Edu, obrigado por sua visita ao blog. Na verdade, quem disse que "o mundo inteiro jaz no maligno" não foi Jesus, e sim, o apóstolo João na sua primeira carta (5. 19).O sentido da frase é que não há ninguém no mundo que esteja fora da condição de pecador e que "ninguém pode escapar à rede de tentação, pecado e condenação do maligno sem o socorro divino" (Bíblia de Genebra).
Um abraço.
Agnaldo.

Edu Leal disse...

Valeu pelo esclarecimento.
Fica na paz!