A Igreja Evangélica Assembléia de Deus sempre foi um referencial do movimento pentecostal brasileiro. Ao longo da história a denominação tornou-se protagonista do avanço missionário e um identificador de fervor evangelístico. Por quase todas as cidades que se percorria havia uma igreja Assembléia de Deus. Lugarejos inalcançados pelos protestantes históricos abrigavam comunidades pujantes de assembleianos entusiasmados e inflamados com a típica efervescência pentecostal.
A história das Assembléias de Deus no Brasil, como todos sabem, iniciou-se com a chegada dos missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg a Belém do Pará em 1910. Dali espalhou pelo país, tornando-se uma das maiores denomianções evangélicas do mundo.
A característica e a dinâmica do movimento pentecostal fizeram da Assembléia de Deus uma denominação ímpar, mas também lhe trouxeram alguns prejuízos históricos.
Por muito tempo a Assembléia de Deus foi uma denominação tipicamente antiintelectual. Seus pastores e obreiros se orgulhavam de nunca terem passado por um seminário teológico, afirmando que o pregador do evangelho precisava apenas da Bíblia e da “unção” do Espírito, e não de um diploma para cumprir o “Ide” de Jesus. Seus membros sempre confiaram que o tal “batismo do Espírito Santo” (e suas manifestações excêntricas) seria suficiente para garantir plenitude e firmeza espiritual. Com o tempo, o discurso assembleiano passou a ser uma antítese do protestantismo histórico, e não demorou muito para a Assembléia de Deus ser contaminada pelo vírus perigoso da superioridade espiritual. O “batismo nas águas” passou a ser considerado superior ao batismo por aspersão; o seu “falar em línguas” passou a ser regra e critério fundamental e absoluto de conversão e de espiritualidade; em muitos lugares, a Assembléia de Deus tornou-se rival de outras denominações protestantes, onde líderes trabalhavam incessantemente a fim de tirar crentes de outras igrejas alertando contra o que passaram a chamar de “tradicionalismo”. Assim “tradicional” e “renovado” passaram a ser extremos intocáveis da fé evangélica, contaminando a maneira de ser e pensar de muitos crentes até os dias de hoje.
Não há como duvidar da importância da Assembléia de Deus para o universo evangélico brasileiro. Não há como negar seu valor e influência positiva em muitos aspectos. Mas não se pode também negar que em sua trajetória centenária, a Assembléia de Deus rechaçou muitos ideais fundamentais do movimento reformado e ainda perdeu os rumos de sua rota original, razão por que se encontra numa forte turbulência nesses tempos de comemoração de seu Centenário.
O ano 2011 marca o Centenário da Assembléia de Deus no Brasil. Mas ao invés de uma denominação jubilosa, unida em festa, o que se vê de fora é uma igreja dividida, sulcada por egos inflamados em busca do poder denominacional, ao revés da história e das almas que a fizeram e ainda fazem. Confesso que nada foi mais triste do que assistir recentemente pela televisão a disputa entre facções da denominação pelo controle de uma igreja em São José dos Campos, e a exposição vexatória e constrangedora de disputas judiciais e suas razões em rede nacional, contrapondo ao bom senso e exiguidade recomendados pelas Escrituras aos servos de Deus em litígios pessoais. Até os não-assembleianos, como eu, lamentam que a festa do Centenário das Assembléias de Deus ocorra sob um flagrante racha, que coloca em risco o futuro da denominação.
O tão aguardado Centenário da Assembléia de Deus no Brasil corre o risco de entrar para a história como uma data a ser esquecida. Que as lideranças assembleianas resgatem os princípios que inflamaram os pioneiros missionários e provem que o fogo que arde nos corações assembleianos em seu centenário é o mesmo da “fogueira divina”, descrita por Emílio Conde em seu livro “História das Assembléias de Deus no Brasil” e não um fogo estranho provindo da “Fogueira das Vaidades” de Tom Wolfe. O tempo dirá.
Agnaldo Silva Mariano
Agnaldo Silva Mariano
3 comentários:
Na realidade a Assembleia de Deus surgiu do racismo entre os pastores brancos e pastores negros da Igreja de Deus fundada em 1906.
Ver vídeos sobre a historia da rua Azuza.
O que Deus determina não se pode mudar, aconteceram erros e sempre vai acontecer, espero que não seja um centenário para ser esquecido, mas, que marque os corações para a necessidade de mudanças.
Jesus tem que estar no controle!
Em Cristo,
Ibimon Pereira Morais
muitas das vezes não vejo por este lado. em todas denominações existe situações criticas no relacionamento entre irmãos e pastores sou evangelica há dezesseis anos certa vez me minha adolescencia quis conhecer outras denominações e o que vi foram guerras entre pastores sendo eu assembleiana sempre tento fazer diferença em meu bairro . hoje eu tenho uma mente bem mais aberta e não aceito que critique a aminha igreja.
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