quarta-feira, 13 de julho de 2011

A PERSEVERANÇA DOS SANTOS

Apresento, aos leitores do blog, uma exposição do chamado "Quinto Ponto do Calvinismo". Esta é uma doutrina de extrema beleza, extraída das páginas das Escrituras e confirmada pelo documento elaborado no Sínodo de Dordrecht (Holanda) no século XVII. A Perseverança dos Santos foi o tema da minha monografia no Seminário e, cada vez que a estudo, mais me encanto e ainda mais reforço minha crença e confissão em suas verdades.

Artigo 1: 0 regenerado não está livre do seu pecado. Aqueles que, de acordo com o seu propósito, Deus chama à comunhão do seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, e regenera pelo seu Santo Espírito, ele certamente os livra do domínio e da escravidão do pecado. Mas nesta vida, ele não os livra totalmente da carne e do corpo de pecado (Rm 7.24).


Artigo 2: Pecados diários de fraqueza. Portanto, pecados diários de fraqueza surgem e até as melhores obras dos santos são imperfeitas. Estes são para eles constante motivo para humilhar se perante Deus e refugiar se no Cristo crucificado. Também são motivo para mais e mais mortificar a carne através do espírito de oração e através dos Santos exercícios de piedade, e ansiar pela meta da perfeição. Eles fazem isto até que possam reinar com o Cordeiro de Deus nos céus, finalmente livres deste corpo de morte.


Artigo 3: Deus preserva os seus. Por causa dos seus pecados remanescentes e também por causa das tentações do mundo e de Satanás, aqueles que têm sido convertidos não poderiam perseverar nesta graça se deixados ao cuidado de suas próprias forças. Mas Deus é fiei: misericordiosamente os confirma na graça, uma vez conferida eles, e poderosamente os preserva [na sua graça] até o fim.


Artigo 4: Os santos podem cair em pecados sérios. O poder de Deus, pelo qual ele confirma e preserva os verdadeiros crentes na graça, é tão grande que isto não pode ser vencido pela carne. Mas os convertidos nem sempre são guiados e movidos por Deus, e assim eles poderiam, em certos casos, por sua própria culpa, desviar se da direção da graça e ser seduzidos pelos desejos da carne e segui los. Devem, portanto, vigiar constantemente e orar para que não caiam em tentação. Quando não vigiarem e orarem, eles podem ser levados pela carne, pelo mundo e por Satanás para sérios e horríveis pecados. Isto ocorre também muitas vezes pela justa permissão de Deus. A lamentável queda de Davi, Pedro e outros santos, descrita na Sagrada Escritura, demonstra isso.


Artigo 5: Os efeitos de tais pecados sérios. Por tais pecados grosseiros, entretanto, eles causam a ira de Deus, se tornam culpados de morte, entristecem o Espírito Santo, suspendem o exercício da fé, ferem profundamente suas consciências e algumas vezes perdem temporariamente a sensação da graça. Mas quando retornam ao reto caminho por meio de arrependimento sincero, logo a face paternal de Deus brilha novamente sobre eles.


Artigo 6: Deus não permite que seus eleitos se percam. Pois Deus, que é rico em misericórdia, de acordo com o imutável propósito da eleição, não retira completamente o seu Espírito dos seus, mesmo em sua deplorável queda. Nem tampouco permite que venham a cair tanto que recaiam da graça da adoção e do estado de justificados. Nem permite que cometam o pecado que leva à morte, isto é, o pecado contra o Espírito Santo e assim sejam totalmente abandonados por ele, lançando se na perdição eterna.


Artigo 7: Deus quer renovar os eleitos para arrependimento. Pois, em primeiro lugar, em tal queda, Deus preserva neles sua Imperecível semente da regeneração, a fim de que esta não pereça nem seja lançada fora. Além disso, através da sua Palavra e de seu Espírito, ele certamente os renova efetivamente para arrependimento. Como resultado eles se afligem de coração, entristecendo se com Deus pelos pecados que têm cometido; procuram e obtém pela fé, com coração contrito, o perdão pelo sangue do Mediador; e experimentam novamente a graça de Deus, que se reconcilia com eles que, através da fé adoram sua misericórdia. E aí em diante eles se empenham mais diligentemente pela sua salvação com temor e tremor.


Artigo 8: A graça do trino Deus preserva. Assim, não é por seus próprios méritos ou força, mas pela imerecida misericórdia de Deus que eles não caem totalmente da fé e da graça e nem permanecem caídos ou se perdem definitivamente. Quanto a eles, isto facilmente poderia acontecer e aconteceria sem dúvida. Quanto a Deus, porém, isto não pode acontecer de modo nenhum. Pois seu decreto não pode ser mudado, sua promessa não pode ser quebrada, seu chamado em acordo com seu propósito não pode ser revogado. Nem o mérito, a intercessão ou a preservação de Cristo podem ser invalidados, e a selagem do Espírito tampouco pode ser frustrada ou destruída.


Artigo 9: A certeza desta preservação. Os crentes podem estar certos e estão certos dessa preservação dos eleitos para a salvação e da perseverança dos verdadeiros crentes na fé. Esta certeza ocorre de acordo com a medida de sua fé, pela qual eles crêem que são e permanecerão verdadeiros e vivos membros da Igreja, e que têm o perdão dos pecados e a vida eterna.


Artigo 10: 0 fundamento desta certeza. Esta certeza não vem de uma revelação especial, sem a Palavra ou fora dela, mas vem da fé nas promessas de Deus, que ele revelou abundantemente em sua Palavra para nossa consolação; vem também do testemunho do Espírito Santo, testificando com o nosso espírito que somos filhos e herdeiros de Deus; e, finalmente, vem do zelo sério e santo por uma boa consciência e por boas obras. E se os eleitos não tivessem neste mundo a sólida consolação de obter a vitória e esta garantia infalível da glória eterna, seriam os mais miseráveis de todos os homens (Rm 8.16,17).


Artigo 11: Esta certeza nem sempre é sentida. No entanto, a Escritura testifica que os crentes nesta vida têm de lutar contra várias dúvidas da carne e, sujeitos a graves tentações, nem sempre sentem plenamente esta confiança da fé e certeza da perseverança. Mas Deus, que é Pai de toda a consolação, não os deixa ser tentados além de suas forças, mas com a tentação proverá também o livramento e pelo Espírito Santo novamente revive neles a certeza da perseverança (1 Co 10.13).


Artigo 12: Esta certeza não leva à acomodação. Entretanto, esta certeza de perseverança não faz de maneira nenhuma com que os verdadeiros crentes se orgulhem e se acomodem. Ao contrário, ela é a verdadeira raiz da humildade, reverência filial, verdadeira piedade, paciência em toda luta, orações fervorosas, firmeza em carregar a cruz e confessar a verdade e alegria sólida em Deus. Além do mais, a reflexão deste benefício é para eles um estímulo para praticar séria e constantemente a gratidão e as boas obras, como é evidente nos testemunhos da Escritura e nos exemplos dos santos.


Artigo 13: Esta certeza produz diligência. Quando pessoas são levantadas de uma queda (no pecado) começam a reviver a confiança na perseverança. Isto não produz descuido ou negligência na piedade delas. Em vez disto produz maior cuidado e diligência para guardar os caminhos do Senhor, já preparados, para que, andando neles, possam preservar a certeza da perseverança. Quando fazem isto, o Deus reconciliado não retira de novo sua face delas por causa do abuso da sua bondade paternal (a contemplação dela é, para os piedosos, mais doce que a vida e sua retirada mais amarga que a morte), e elas não cairão em tormentos mais graves da alma (Ef 2. 10).


Artigo 14: Incluído o uso de meios. Tal como agradou a Deus iniciar sua obra da graça em nós pela pregação do evangelho, assim ele a mantém, continua e aperfeiçoa pelo ouvir e ler do Evangelho, pelo meditar nele, pelas suas exortações, ameaças e promessas, e pelo uso dos sacramentos.


Artigo 15: Esta doutrina é odiada por Satanás, mas amada pela Igreja. Deus revelou abundantemente em sua Palavra esta doutrina da perseverança dos verdadeiros crentes e santos e da certeza dela para a glória do seu Nome e para a consolação dos piedosos. Ele a imprime nos corações dos crentes, mas a carne não pode entende-Ia. Satanás a odeia, o mundo zomba dela, os ignorantes e hipócritas dela abusam, e os heréticos a ela se opõem. A Noiva de Cristo, entretanto, sempre a tem amado ternamente e defendido constantemente como um tesouro de inestimável valor. Deus, contra quem nenhum plano pode se valer e nenhuma força pode prevalecer, cuidará para que a Igreja possa continuar fazendo isso. Ao único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, sejam a honra e a glória para sempre. Amém!


* Extraído de "Os Cânones de Dort - Cinco artigos de Fé sobre o arminianismo".

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