domingo, 31 de outubro de 2010

UMA SOLENE CONVOCAÇÃO



A propósito dos 493 anos da Reforma Protestante.




"Convocamos a Igreja, em meio à nossa cultura agonizante, para se arrepender de seu mundanismo e confessar a verdade da Palavra de Deus como fizeram os Reformadores, e para ver essa verdade em sua doutrina, sua adoração e sua vida".




(Do livro Reforma Hoje - Editora Cultura Cristã)




O Blog CREIO E CONFESSO comemora hoje, 31/10/2010, três anos.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

PROVIDÊNCIAS EXTRAORDINÁRIAS OU MILAGRES

Por Louis Berkhof

Usualmente se faz distinção entre providentia ordinária e providentia extraordinária. Na primeira, Deus age por meio de causas secundárias em estrito acordo com as leis da natureza, embora possam variar os resultados, com diferentes combinações. Mas na última Ele age imediatamente ou sem a mediação de causa secundárias, em sua operação ordinária. Diz Mcpherson: “Milagre é uma coisa feita sem se recorrer aos meios ordinários de produção, um resultado produzido diretamente pela Causa Primeira, sem a mediação, pelo menos do modo habitual, das causas secundárias”. A coisa distintamente característica do feito miraculoso é que ele resulta do exercício do poder sobrenatural de Deus. E, naturalmente, isto significa que o referido feito não é ocasionado por causas secundárias que operam segundo as leis da natureza. Se fosse, não seria sobrenatural (acima da natureza), isto é, não seria milagre. Se Deus, na realização de um milagre, algumas vezes utilizou forças que estavam presentes na natureza, utilizou-as de maneira inteiramente distantes do ordinário, para produzir resultados não esperados pelo homem, e foi justamente isso que constitui o milagre. Todo milagre está acima da ordem estabelecida da natureza, mas podemos distinguir diferentes classes, conquanto não graus, de milagres. Há milagres que estão absolutamente acima da natureza, de modo que não estão ligados, de modo algum, a quaisquer meios. Mas também há milagres que são contra media, nos quais os meios são empregados, mas de modo tal, que o resultado é uma coisa completamente diversa do resultado habitual daqueles meios.

Pode-se presumir que os milagres da Escritura não foram realizados arbitrariamente, mas, sim, com um propósito definido. Não são meras maravilhas e exibições de poder, destinadas a provocar admiração, mas têm significação revelacional. A entrada do pecado no mundo torna necessária a intervenção sobrenatural de Deus no curso dos eventos, para a destruição do pecado e para a renovação da criação. Foi mediante milagre que Deus nos deu a Sua revelação especial e verbal na escritura, bem como a Sua revelação suprema e fatual em Jesus Cristo. Os milagres estão relacionados com a economia da redenção, uma redenção que com freqüência eles prefiguram e simbolizam. Não visam a uma violação, mas, antes, a uma restauração da obra criadora de Deus. Daí, vemos ciclos de milagres ligados a períodos especiais da história da redenção, e especialmente durante a época do ministério público de Cristo e da fundação da igreja. Estes milagres ainda não resultaram na restauração do universo físico. Mas, no fim dos tempos, haverá outra série de milagres, que redundarão na renovação da natureza, para a glória de Deus – o estabelecimento final do reino de Deus em novo céu e nova terra.

Fonte: BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Luz Para o Caminho; São Paulo, SP, 1990.

sábado, 16 de outubro de 2010

EM TEMPO DE SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES GERAIS NO BRASIL

A Igreja Presbiteriana do Brasil, em obediência à Sagrada Palavra de Deus, reconhece que Deus é o Soberano Senhor sobre toda a terra e que seu governo abrange todas as dimensões da existência humana. Assim, todo ser humano investido de autoridade está sujeito a Deus, pesando sobre ele o dever de exercer suas funções públicas com equidade e fidelidade.  Os cristãos são conclamados a participar no processo eleitoral e político do mesmo modo como precisam se envolver nas demais áreas da sociedade. À igreja, pois, cabe a tarefa de orientar seus membros para que sejam responsáveis e atuantes em cumprimento aos mandados de Deus.

Reafirmamos que a Igreja prima pela inviolabilidade da consciência política de seus membros e, portanto, não apóia individual e oficialmente nenhum candidato ou partido político, bem como, nenhum de seus membros tem autorização para falar em seu nome, indicando ou apoiando em nome da Igreja qualquer candidato. Não apresentamos nenhum nome com a intenção de manipular ou induzir as pessoas, impondo-lhes a obrigação de votar nos mesmos.


A Igreja Presbiteriana do Brasil fala por meio de Concílios e não por indivíduos, mesmo que investidos de autoridade pastoral individualizada. O Supremo Concílio da Igreja reunido em Curitiba, em julho de 2010, não oficializou nenhum apoio a quaisquer candidatos e nem a partidos políticos específicos, somente orientou que a Igreja no seu todo participe de forma crítica levando em conta as propostas apresentas. O direito do voto é intransferível e inegociável e deve expressar a consciência do cristão verdadeiro.

A Igreja Presbiteriana do Brasil já tem de forma pastoral orientado os seus membros e publicado o seu posicionamento oficial em relação a questões críticas discutidas neste momento de debate político.


Rogando as mais ricas bênçãos sobre o povo de Deus nessa hora, e suplicando ao Senhor da Seara que abençoe os membros da Igreja Presbiteriana do Brasil no exercício fiel de sua cidadania, despeço-me.

Do servo,


Rev. Roberto Brasileiro Silva

Presidente do Supremo Concílio Igreja Presbiteriana do Brasil

Fonte: Site da Igreja Presbiteriana do Brasil.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

POLÍTICA NÃO SE DISCUTE? ENTÃO VIVA O TIRIRICA!

Há três coisas que, dizem, não se pode discutir: religião, futebol e política. A razão se dá em função das intermináveis controvérsias que esses assuntos geram, e da quase impossibilidade de se mudar a idéia das pessoas nessas matérias. Assim, é melhor cada um ficar, como se diz na gíria, “na sua”, do que ficar discutindo.

Entretanto, essa me parece uma desculpa esfarrapada de quem tem preguiça de pensar e não quer ter o trabalho de submeter seus argumentos às críticas e defendê-los de maneira convincente. Assim, é melhor não discutir do que correr o risco de ter seus argumentos desmontados.

Discutir futebol pode não mudar nada na vida de ninguém; ainda assim, as “resenhas”, como são chamadas as discussões após as partidas, são preciosos meios de se manter a saudável rivalidade esportiva.

Discutir religião pode parecer dispensável quando se entende que a fé é apenas e tão somente uma questão de escolha individual. Mas quando se entende o verdadeiro sentido da fé e o princípio de que há, sim, uma verdade absoluta, as discussões religiosas podem promover o esclarecimento e o alcance da verdadeira fé.

Discutir política é igualmente necessário, uma vez que pode produzir alertas em relação a ameaças que se despontam no horizonte a cada novo pleito. Pode ser a saída para se evitar que aventureiros e demagogos tomem os atalhos da ignorância alheia para usufruir dos benefícios do poder.

Por falta de discussão a respeito de política o Brasil vem sofrendo com escândalos e jeitinhos corruptos que emperram o progresso do país. A lástima da ignorância política tem conduzido ao poder espertalhões e brincalhões travestidos de administradores públicos. O último produto dessa desdita brasileira atende pelo nome de “Tiririca”.

Tiririca é um personagem criado pelo humorista Francisco Everardo Oliveira Silva que ficou famoso com músicas de gosto duvidoso e acabou chegando à TV, onde participou de programas humorísticos. Na eleição do último domingo Tiririca, que se candidatou pelo Partido Republicano (PR), elegeu-se deputado federal por São Paulo, atingindo mais de 1 milhão e 350 mil votos.

A eleição de Tiririca tem gerado discussões e análises de especialistas das ciências políticas. Todos querem saber como um sujeito que demonstra quase nenhuma capacidade para exercer um cargo legislativo alcança tamanha aprovação na mais importante eleição do sistema político nacional, e no colégio eleitoral mais importante do país.

Uma das explicações pode estar no fato de que muitas pessoas não querem discutir política. Preferem votar no candidato mais engraçado, no mais bonito, no mais famoso, e não naquele de quem se convencem ter as melhores propostas, as melhores idéias, os melhores argumentos e as melhores plataformas. A escolha não se dá pela convicção, mas pelo simples e insignificante critério da afinidade; ou, no caso específico de Tiririca, do deboche.

Há quem diga que o voto dado a Tiririca é um voto de protesto contra os maus políticos. Mas por que não protestar contra os maus políticos elegendo bons políticos? Por que combater esculhambação com esculhambação?

O voto dado ao Tiririca é uma declaração de que muitos brasileiros não discutem política e não se importam com o seu próprio futuro. É a prova de que o analfabetismo político, delatado no brilhante texto de Bertolt Brecht, é uma triste realidade de um país que insiste em não se levar a sério.

O Analfabeto Político

Bertolt Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Agnaldo Silva Mariano

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

UM TÚNEL NO FIM DA LUZ

Certa vez, bem no início do meu ministério, resolvi fazer algumas visitas no hospital da cidade onde morava. Ali encontrei-me com um simpático – e barbudo - senhor, internado havia alguns dias, com quem iniciei uma agradável conversa, apesar das circunstâncias. Falávamos sobre temas variados, que iam da sua história pessoal à política e religião.

A conversa fluía bem, até que fomos surpreendidos por um “crente”, devidamente trajado, com camisa de manga comprida e gravata, portando sua imponente Bíblia de letras gigantes. Sem rodeios, e sem pedir licença, o “crente” atravessou a nossa conversa, apresentando imediatamente a sua ensaiada e veemente pregação evangelística. Foram alguns longos minutos de intensa e entusiasmada prédica, até que o senhor, doente – e barbudo - ouviu a famosa e inevitável pergunta: “O senhor quer aceitar Jesus?”.

Constrangido, o barbudo respondeu que “sim”, aceitava Jesus, ao que se seguiu uma oração forte, declarando aquele senhor barbudo como salvo e credenciado ao céu. Aquele barbudo senhor parecia ter encontrado finalmente a luz. Mas, mal sabia ele que, após a luz viria um túnel; um longo e dificultoso túnel, cheio de exigências e normas, que começariam, inflexivelmente, pela raspadura da sua barba.

“Agora que aceitou Jesus, o senhor é um crente; quando sair daqui o senhor vai rapar a barba, cortar o cabelo e procurar a igreja”, sentenciou o “crente”. E pronto. Despediu-se, certo do dever cumprido, procurando novos pecadores para anunciar seu evangelho anti-barba.

Diante de uma situação como esta, as indagações são inevitáveis: O que faz as pessoas pensarem que a simples resposta a uma pergunta do tipo: “O senhor quer aceitar Jesus?”, faz de alguém um crente? Qual a incompatibilidade entre a barba e o céu? Por que certos “crentes” insistem em apontar um túnel após a luz em suas pregações “evangelísticas”, como se a manutenção da salvação dependesse do cumprimento estrito de fórmulas religiosas ou denominacionais?

A pregação evangelística corre o grande risco de se tornar uma pregação de imposição de regras e normas simplistas se não for cuidadosamente baseada no modelo dos Evangelhos. Jesus nunca pregou usos e costumes culturais como sendo normas absolutas para se seguir o caminho da salvação. Os apóstolos jamais transformaram o caminho da graça em uma estrada pedregosa de normas retiradas de um código de conduta particular. A pregação apostólica sempre viu a graça como a luz no fim do túnel das exigências judaicas e do desespero do paganismo.

Antes que alguém se manifeste, quero deixar claro que eu creio em um evangelho exigente. Não advogo um evangelho sem regras, que não aponte para a necessidade de santidade pessoal. Mas eu também creio que, quem nos conduzirá no caminho da luz, na prática de valores santos é o Espírito de Deus que em nós passa a habitar após a conversão. Além disso, não creio que usos e costumes culturais se enquadrem na condição de “valores santos”. Jesus dizia: “Vai e não peques mais”; mas não se ouviu de Jesus: “Vai, corta o cabelo, faça a barba, não ouça música secular”, etc.

Para muitas pessoas, encontrar a luz pode ser uma experiência assustadora, pois o túnel das exigências culturais se apresenta longo e impossível de ser atravessado. Muitos se perdem nos labirintos dos pequenos preceitos transformados em condições inalienáveis de fé; outros desistem no meio do caminho por se julgarem incompetentes diante de tantas determinações; e há aqueles que continuam seguindo pelo túnel, batendo a cabeça, tropeçando no enredo das cartilhas do “não pode, não faça, não veja, não leia”, esforçando-se para sair da escuridão e do abandono de um evangelho sem Graça.

Quando alguém verdadeiramente encontra a luz de Cristo, passa a caminhar de olhos abertos rumo ao triunfo do céu. É bem verdade que sua caminhada se dá em uma alameda estreita; mas é um caminho iluminado pela Palavra de Deus, cheio de alegria e liberdade no Espírito. Não liberdade para o pecado, é claro, mas liberdade de ser. O Evangelho muda o ser humano por dentro, é verdade; todavia, permite que certas características que estão do lado de fora permaneçam as mesmas.

O apóstolo Paulo orientou as igrejas cristãs a respeito do túnel no fim da luz. Aos Gálatas ele disse: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão” (Gl 5. 1). Aos Colossenses exortou: “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida ou bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isto tem sido sombra das cousas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo” (Cl 2. 16 e 17). “Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem” (Cl 2. 20 a 22).

Não sou adepto do evangelho do “tudo pode”. Entretanto, não me agrada o evangelho do túnel no fim da luz. Precisamos buscar na Palavra de Deus o equilíbrio que nos faça viver dignamente o evangelho de Cristo. Neste evangelho, sim, há liberdade de ser, há alegria de viver, há satisfação e paz interior. No evangelho de Cristo o homem encontra-se com a graça que lhe devolve a vida e a liberdade roubadas pela queda.

Minha conversa com o barbudo encerrou-se com uma frase que eu nunca mais esqueci. Após a saída do “crente” evangelista, o barbudo me disse: “É por isso que a gente, às vezes, não dá crédito a esse tipo de pregação”. É verdade, barbudo. É verdade.


Agnaldo Silva Mariano